Diversão e Arte

Pianista belga descobriu a música do maestro Santoro em viagens pelo Brasil

postado em 29/07/2009 07:54
Ferraux: Muitos acreditam que o maestro Cláudio Santoro chega a ser mais reconhecido fora do país do que aqui, especialmente nos locais onde viveu e foi professor como a Alemanha, França e até a extinta União Soviética. O fato é que até hoje, apesar de o número de gravações de orquestras e músicos eruditos ter diminuído em todos os países, é possível encontrar quem ainda faz questão de eternizar a obra dos grandes nomes da música clássica.

;Hoje, quase ninguém grava mais e caiu também a venda de discos, muito por causa da internet. Na Europa, as principais filarmônicas ainda gravam e regravam as peças dos grandes compositores, pela própria cultura do europeu de venerar o erudito. Mas isso tem se tornado cada vez mais raro;, comenta Gis;le Santoro, viúva do maestro.

No caso de solistas, ainda é comum encontrar gravações nesse estilo, mesmo inéditas. Esse é o caso do pianista belga Pierre Ferraux, um fã declarado dos compositores brasileiros e que acaba de lançar o CD Brasileiro, Paisagens do Brasil, com clássicos de Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Radamés Gnatalli e claro, Claudio Santoro, de quem é grande admirador. ;Sempre fiz questão de prestigiar nas minhas apresentações e gravações o trabalho dos compositores do Brasil. Sou um fã do país e de sua música;, festeja.

[SAIBAMAIS]Quando o assunto é o reconhecimento interno a professora de música Beatriz Salles, que foi chefe do Departamento de Música da UnB, justamente criado por Santoro, cobra mais ações do governo, principalmente com relação à recuperação e manutenção de patrimônios materiais e imateriais de personalidades como Claudio Santoro. ;Infelizmente, na minha opinião, ele não é reverenciado da maneira que merece no país. Existe um problema muito sério com relação ao acervo dele. Brasília não tem nenhuma política pública com relação a isso. Cabe ao governo local e federal, além da UnB, onde ele foi professor e fundador do Departamento de Música, viabilizar isso;, opina ela, que acredita ser um momento propício para tal ação, já que a capital está prestes a completar 50 anos. ;A obra não só do Santoro, como de tantos outros que vieram para cá e acreditaram nessa cidade são patrimônios de Brasília e do Brasil. Não podemos pensar no futuro sem preservar o passado;, acrescenta Beatriz.


; Três perguntas - Pierre Ferraux

Por que o interesse pela música brasileira?
Na Europa, quando um pianista entra na faculdade de música, ele tem de aprender obras mestras de grandes compositores como Bach, Beethoven, Chopin, e desenvolver seu repertório de recitais. No meu caso, enquanto tocava aquelas obras, eu me interessava por outras desconhecidas e raramente tocadas. Sempre tive o hábito de mixar essas descobertas com o repertório tradicional para construir um bom programa de concerto. Há alguns anos, vindo regularmente ao Brasil para tocar e dar masterclasses (no Curso Internacional de Verão de Brasília), acabei descobrindo muitas obras e compositores do Brasil que não conhecia. Devo dizer que uma ;nova porta; se abriu para que eu aprendesse um repertório que eu nunca havia tocando antes na Europa. Também a música brasileira me trouxe novas sensações: complexidade rítmica, música muito viva, algumas trazendo reminiscências de canções folclóricas, influenciada pela música de diferentes continentes do mundo.

Qual a sua opinião sobre Claudio Santoro? Como conheceu o trabalho dele?
À medida que eu ia descobrindo e aprendendo sobre muitos compositores do Brasil, ia intencionalmente montando um painel de diferentes cores e construindo dessa maneira um programa para o CD, por isso até que escolhi o título Paisagens. Para a realização desse trabalho, escutei e li muitas partituras desses compositores. Claudio Santoro merece ser conhecido em todo mundo. O conjunto de sua obra contém um imenso painel de emoções, de múltiplas influências, algumas vezes com um ritmo muito vivaz, às vezes até usando a linguagem da bossa nova ou do jazz. Sua música é especialmente inspirada e sua obra é como um caleidoscópio.

Por que decidiu incluir Santoro em seu discos e qual as canções escolhidas?
Enquanto eu me debruçava sobre a obra de Santoro, meu primeiro desejo era gravar as 7 Paulistanas que levam a música ao mais alto grau de inspiração e emoção numa notável diversidade. Pode-se sentir uma melodia doce com o suave balanço de um acompanhamento. Outras partes são inspiradas em danças brasileiras (catira, choro, etc.), e então uma canção de inspiração jazzística. O ciclo termina com uma sonata em um movimento que mostra a grande complexidade polirrítmica e o som brasileiro.

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