Diversão e Arte

A atriz Beth Goulart encerra temporada do CCBB com casa lotada

postado em 31/07/2009 08:24
Beth Goulart já se sente realizada por viver Clarice Lispector e experimentar suas criações. Mas quer continuar esse sonho por muito mais tempo. No palco do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) desde o dia 10, interpretando um dos mais significativos nomes da literatura brasileira e suas personagens, a atriz e diretora de Simplesmente eu. Clarice Lispector se prepara para encerrar a temporada na capital federal. Quer dar a volta no país e, se possível, voltar a Brasília para mais doses de arte cênica e literatura. O certo, no entanto, é que o espetáculo fica em cartaz até domingo, com ingressos esgotados. %u201CRealizei um sonho, uma ideia que estava em elaboração mental e se tornou concreta. E não quero parar por um bom tempo%u201D, diz Beth Goulart. Antes de se despedir de Brasília, a atriz faz hoje um téte-à-téte com os brasilienses. Por meio do projeto Palco Aberto, oferecido pelo programa educativo do CCBB, o público que se escreveu até ontem assiste à peça gratuitamente, hoje às 14h, e participa de conversa com a intérprete. A atriz aproveita o cenário para dar ainda mais aos espectadores. Ela convidou, para o bate-papo sobre o processo criativo da peça, duas especialistas em Clarice: a psicanalista Daisy Justus, que analisa a obra pelo olhar da psicanálise, e a escritora Teresa Cristina Monteiro Ferreira, autora de Eu sou uma pergunta. Ao final, serão distribuídos à plateia livros de Lispector. Serão 17 títulos, entre eles A paixão segundo G.H., Só para mulheres e A maçã no escuro, cedidos pela editora Rocco. %u201CEste é meu projeto. Espero ir a vários estados e fazer outras ações, porque essa montagem não é só cultural é educativa. Quero continuar com esse trabalho de fomento à leitura. E há chances de voltar a Brasília%u201D, adianta Beth, que estreia no Rio de Janeiro, em 12 de agosto. Três perguntas Como foi estrear em Brasília? Brasília, além de ser o centro político do país, é um lugar pelo qual Clarice tinha um carinho especial. Ela escreveu vários textos sobre a cidade e dizia que quem a construiu tinha noção de eternidade. Clarice tinha a sensibilidade de perceber o avanço do tempo em Brasília. E, por isso, começar esse projeto na cidade é bacana. É como voltar ao berço de inspiração. Me surpreendeu a enorme procura do público. É bom sentir que uma autora brasileira é tão amada. Quem é a Beth Goulart depois de dois anos de pesquisa, dois meses de ensaio e um mês de apresentação na pele de Clarice e suas personagens? Eu me sinto mais enriquecida, me sinto mais eu. Clarice nos leva para o autoconhecimento. Em tudo que escreve, ela busca o espaço do mistério, do silêncio, do que está perto daquilo que realmente somos. Ela vem participando da minha vida desde a adolescência. Guimarães Rosa costumava dizer que não lia Clarice para a literatura, que a lia para a vida. Ela nos impulsiona para a vida. Neste projeto, eu escolhi pontos de identificação com meu valores, a fé de Clarice, sua crença na criação, compaixão, cooperatividade, misericórdia, palavras otimizadas em seus textos. É possível viver apenas de teatro? Não é fácil, somos operários da nossa arte, é batalha a todo instante. Mas, quem realmente quer, arregaça as mangas e entra na luta. Teatro é arte da resistência. Seria bom se todos os governos, federal, estadual, municipal, tivessem um olhar mais participativo da criação cultural.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação