Fortaleza ; Uma espécie de sessão espírita foi realizada no debate da Mostra Che ; Olhares no tempo, parte da programação paralela do 19; Cine Ceará na tarde deste sábado, no Seara Praia Hotel. O espírito evocado foi o do revolucionário latino-americano Ernesto Che Guevara. Todas as visões sobre o guerrilheiro de Sierra Maestra foram discutidas no encontro bilíngue que reuniu realizadores de vários países e que infelizmente foi prejudicado por um atraso na programação. O lançamento e a distribuição de autógrafos do livro Orlando Senna ; O homem da montanha, de Hermes Leal começou depois do horário marcado e empurrou a mesa redonda para mais tarde.
O encontro formada por realizadores de várias nacionalidades latino-americanas foi aberta pelo Dr. Luis Carlos Gutierrez, conhecido como Fisín, dentista que trabalhou no disfarce físico que Guevara teve de assumir para deixar o Congo em segredo. ;Ele levava um colete que o fazia parecer corcunda e um sapato para aumentar a estatura. Che disfarçado bateu na porta da casa onde estávamos e um companheiro atendeu. Quando ele entrou, o companheiro ficou assustado porque não o reconheceu;, explicou o doutor.
O debate que tinha tudo para se acabar em homenagem cega à figura emblemática de Che abarcou múltiplas faces da figura do guerrilheiro. Teve momentos de enfrentamento de opinião também. Um deles aconteceu quando o diretor de El dia que me queiras, Leandro Katz assumiu não ter gostado da inclusão do depoimento de um ex-agente da CIA presente no filme brasileiro Personal Che, de Douglas Duarte e Adriana Mariño, onde o norte-americano afirmava que Guevara não passou de um assassino.
A defesa feita pelo diretor do segundo filme ganhou o apoio de Orlando Senna, presente à sessão apenas como espectador. ;Todo agente da CIA acusa os guerrilheiros de serem assassinos. Assim como todo guerrilheiro acusa os agentes da CIA do mesmo jeito. Isso não tira o mérito do filme;, afirmou Senna.
O veterano cineasta Fernado Birri, também presente ao debate, havia se decidido a transformar o seu tempo de microfone em protesto solidário ao povo de Honduras por causa da recente intervenção norte-americana nos últimos dias, mas acabou cedendo e discorreu um pouco sobre o personagem de dois de seus documentários Mi hijo El Che e Che. A morte de uma utopia?. ;Até certo ponto um mito é um erro porque se esvazia de sentido, se transforma em uma casca. Deixam de cumprir função histórica e voltam a ser um estampa de camiseta;, disse sobre o abuso no uso da imagem de Che no mundo contemporâneo.
Filmes da Mostra Che ; Olhares no tempo
Che ; A guerrilha, de Manuel Pérez, Cuba, 2006,
Hasta la victoria siempre, de Santiago Alvarez
Nascista di un guerrigliero, de Roberto Savio
Morte di un guerrigleiro, de Roberto Savio
Le cause del fallimento, de Roberto Savio
Mi hijo el Che, de Fernando Birri
Kordavision, de Hector Cruz Sandoval
Personal Che, de Douglas Duarte e Adriana Mariño
Che parte 2, de Steven Sodebergh
El dia que me quieras, de Leandro Katz,
Carabina M2 ; Uma arma americana, de Carlos Pronzato
Diários de motocicleta, de Walter Salles