Diversão e Arte

Cantora brasiliense Geórgia W. Alô lança CD para não deixar ninguém parado

Irlam Rocha Lima
postado em 04/08/2009 11:42
Dance soul CD da cantora Georgia W. Alô com 10 faixas. Lançamento da GRV Discos. Preço médio: R$ 20. Lançamento nesta terça, às 20h, em noite de autógrafos no Rayuela Bistrô (412 Sul).A soul music está presente na vida de Georgia W. Alô desde sempre. Na infância, morando com os pais diplomatas em Berlim Oriental - obviamente, antes da queda do muro -, ouvia em casa discos de Ray Charles, Stevie Wonder e Quincy Jones. Ao mesmo tempo, cantava no coral da escola onde estudava, na qual a música era matéria obrigatória. Na adolescência, de volta a Brasília, Georgia passou a integrar o Coro Sinfônico Comunitário da UnB em 1991. Com o grupo, sob a regência do maestro David Junker, fez incontáveis apresentações na cidade, inclusive em concertos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. "Em 1994, fizemos uma apresentação no Carnegie Hall, em Nova York, e interpretamos um repertório que, além de peças de Bach, Strauss e John Ruter, trazia a Suíte dos pescadores, de Dorival Caymmi", lembra. Mas foi um ano depois, na então recém-criada BSB Disco Club, banda especializada em dance music, que a cantora voltou a ter contato com o soul e outras derivações da black music nacional e internacional. Paralelamente, fez trabalhos, em estúdio e no palco, com os grupos Bigroove e Afrodisia. Passados 13 anos, ela mantém absoluta fidelidade à black music ao lançar o primeiro CD solo, pela GRV Discos, com título que não deixa dúvida: Dance soul. "Tive na BSB Disco Club uma grande escola. Como a banda sempre estava com agenda cheia de compromissos: shows em diferentes locais da cidade, longas temporadas no Gate´s Pub e apresentações fora de Brasília, ganhei familaridade com o palco e o microfone. Eu e a Indiana (Nomma), que entramos para o grupo na mesma época, resgatamos e profissionalizamos a função de backing vocal", afirma. Com a experiência adquirida na BSB e em trabalhos ao lado da cantora Suzana Maris e das bandas Maskavo Roots, Another Blues Band e Plastika, Georgia começou a amadurecer a ideia de gravar um disco solo. "Passei a sentir necessidade de me expressar artisticamente de forma mais ampla. Foi então que, sabendo possuir uma musicalidade aflorada, passei a me arriscar na criação de temas melódicos", revela. Demorou pouco para que Georgia começasse a musicar letras concebidas pelo companheiro, o produtor Marcos Assunção, com quem tem uma filha. "Quando vi, já tinha quase 20 composições prontas. Aí decidi gravar o disco e me inscrevi no edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Fui selecionada e, com o apoio obtido, em março de 2006 iniciei as gravações, no estúdio Daybreak, de Philippe Seabra (Plebe Rude). Como o que recebi do FAC não foi suficiente, tive que entrar com recursos próprios para concluir o CD." A demora para o lançamento do Dance soul, marcado para esta terça, em noite de autógrafos no Rayuela Bistrô (412 Sul), segundo a cantora, deve-se ao fato de ter enfrentado problemas financeiros para providenciar a mixagem e a masterização, feitas no Orbis Studio por Marcos Pagani, e a prensagem", comenta. Na realização do álbum, Georgia contou com o pianista e tecladista Felipe Portilho, responsável pela harmonização das músicos, com quem dividiu a criação dos arranjos de base. Nas gravações tomaram parte os músicos André Vasconcellos (baixo), Marco Vasconcellos (guitarra e violão), Allen Pontes (bateria), João Bani (percussão), Ademir Júnior (sax) e Moisés Alves (trompete), todos reconhecidos nacionalmente. O repertório do Dance soul é aberto pelo samba-soul Aperta o play, que tem a participação especial do rapper Gog e do DJ Ar. "Esta é a única faixa que, de certa forma, foge um pouco do conceito do disco. Com Aperta o play quis dar um toque de brasilidade ao trabalho, embora isso já esteja presente, representado pelas letras em nosso idioma. Convidei o Gog por conhecer bem o trabalho dele e por sua representatividade na cena do hip hop nacional, além de ter admiração por sua ideologia." Trazer para o disco de estreia o universo da black music é natural para uma cantora que fez do soul a trilha sonora de sua trajetória artística, de sua vida. Ouvir essa branquinha interpretar canções como A batida, Destino, Caminho, Embalo, Completa, Tenho você, Balanço você, Time (a única com letra em inglês) e, claro, Dance soul, com o suingue e o fraseado de uma negona, é puro prazer. Crítica - *** Referencial e colorido Georgia W. Alô começa Dance soul pedindo para o DJ "apertar o play e soltar o samba soul". A partir daí, pode esperar do álbum a boa pegada brasileira, auge nos anos 1970, que segue marcando terreno de Jorge Ben Jor à própria cantora brasiliense. Não há como não lembrar de Lady Zu, rainha do charm, do soul de Cassiano. São referências, no entanto, condensadas por trabalho autoral. A unidade do disco nasce dessa relação estética e histórica com o movimento black brasileiro. O trabalho se propõe a dialogar com as bases rítmicas do samba soul e põe a serviço o vozeirão, que se destaca faixa a faixa, criando um disco que flui em batidas e células musicais híbridas, do soul, charm, do rap, dance, samba soul, gospel. A variedade melódica é ponto alto do disco, que explora o colorido do universo da black music, mas recai na irregularidade das letras. De produção esmerada, Dance soul mostra o talento e a versatilidade de Georgia W. Alô, tarimbada na dance music. O resultado é um disco delicioso, pra dançar, como em Balanço bom e Embalo, pra refletir como Caminho, belíssima na voz aveludada de Georgia. (Sérgio Maggio)

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