postado em 04/08/2009 17:31
Galiléia é o nome da fazenda de Raimundo Caetano, que valoriza o espaço mítico onde se desenrolarão as principais ações. É de lá que Ismael, Davi e Adonias um dia escapam pensando em jamais voltar. Mas um dia devem voltar, e tudo aquilo de que fugiram, volta a se abater sobre os primos como um destino inelutável, portanto trágico. Essa é a história de Galiléia, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 na categoria Melhor livro do ano realizado na noite de segunda-feira (3/8).O autor Ronaldo Correia de Brito estava tranquilo ao receber o Prêmio. ;O que eu tinha de fazer, eu já tinha feito me dedicando ao livro. Minha alma estava serena;, disse o cearense radicado em Recife. Ronaldo já escreveu quatro livros de contos, mas queria escrever um romance. ;Eu precisava escrever um romance para ter mais espaço para discussões que não cabem no conto. Mas, sou um romancista conciso. Nunca conseguiria escrever centenas de páginas como os russos e os escritores de língua inglesa. Levei a mesma tensão dos meus contos para o romance;, afirmou.
O livro se passa no sertão nordestino e, para o autor, há uma busca pelo significado do local. ;O sertão tanto pode significar um espaço mítico como um acidente geográfico. Santo Agostinho perguntava sobre o tempo: o que é o tempo? Se não me perguntam eu sei, se me perguntam, desconheço. O que é o sertão? Se não me perguntam eu sei, se me perguntam desconheço. O sertão é abstrato ou real como o tempo. E continuará sendo tema para a literatura. O sertão é um espaço de memória confundido com o urbano;, esclareceu.
O escritor Cristóvão Tezza, vencedor da primeira edição do Prêmio com o livro O Filho Eterno, integrou o júri final. ;O livro de Ronaldo Correia de Brito revela alta competência literária, investigando tematicamente a culpa e as voltas do acaso. Já o estreante Altair Martins apresenta um romance forte ao contrapor a corrosão do olhar urbano aos mitos do sertão, retomando algumas das questões centrais da literatura moderna e contemporânea;.
Também fizeram parte do júri final o crítico literário Luis Antonio Giron, a professora Walnice Nogueira Galvão, o livreiro Aldo Bocchini e o leitor Claudiney Ferreira. O conselho curador foi formado por Antonio Dimas, Beth Brait, Julio Pimentel, Manuel da Costa Pinto, Marino Lobello.
Autor estreante
Após um estudo de mestrado, Altair Martins, do Rio Grande do Sul, começou a escrever o primeiro livro, A parede no escuro. E o resultado foi vencer na categoria Melhor obra de autor estreante. ;Eu não esperava vencer o Prêmio, mas queria muito ser reconhecido por este trabalho. Foram sete anos de dedicação;, disse.
A história é sobre duas famílias que, repentinamente, ficam sem a figura paterna - Adorno, dono de uma padaria e pai de Maria do Céu, com quem tem uma relação difícil, é morto em um atropelamento; Forjo - o pai do atropelador - está em estado grave no hospital, cercado por tubos, aumentando ainda mais a angústia do filho.
Um dos primeiros leitores foi seu irmão mais velho. Sem fazer comentários prévios, Altair conseguiu o que queria: o irmão disse que a personagem Dona Onira ;parecia a mãe falando;. A ideia de Altair era essa mesma, criar personagens a partir de características e do jeito de falar das pessoas. Para isso, o autor usou um envelope para cada personagem.