postado em 05/08/2009 08:47
Em Som e fúria, a excelente minissérie de Fernando Meirelles exibida em julho pela Globo, havia um personagem que fazia rir a cada capítulo que aparecia. Era Oswald Thomas (sim, em homenagem a Gerald), o diretor de vanguarda que levava cavalo para o palco, colocava Romeu e Julieta em gaiolas, adorava efeitos especiais e abusava de expressões em inglês. Seu intérprete, Antonio Fragoso, se divertiu à beça com as cenas. Foi o melhor papel que ganhou na tevê, em 20 anos de carreira. Antes de ser ator, ele fez um pouco de tudo. Foi até vendedor de freeshop e baterista... de uma banda de rock de Brasília. Aqui, era Totoni, integrante do Escola de Escândalo, um dos melhores grupos da cena que surgiu na cidade nos anos 1980.
Nascido há 42 anos em Montevidéu, Uruguai, filho de diplomata, Manuel Antônio Pinheiro Guimarães Fragoso morou em Brasília por dois períodos %u2014 de 1970 a 1974 e de 1978 a 1985. As duas vezes na 104 Sul, a mesma quadra de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e Dado Villa-Lobos. Foi aqui, com a Turma da Colina(1), que ele se tornou baterista, primeiro numa banda chamada Os Sociais, que montou com Pedro Ribeiro (irmão do Bi) e Fernando Bola. "Comecei na bateria por insistência do Pedro. Como eu tocava tarol na banda marcial do Colégio Marista, ele achava que eu já tinha intimidade com as baquetas", ri Totoni, que um pouco depois assumiria o posto de Alessandro Itália no Escola de Escândalo.
Foram dois anos, 1983 e 1984, tocando com Fejão (guitarra), Geraldo (baixo), Bernardo Mueller e Marielle (voz), dividindo sala do Rádio Center com a Plebe Rude e com quem mais aparecesse para rachar o aluguel. "Tenho ótimas lembranças", conta. "Uma vez, a gente foi a Curitiba, tocar no Guairinha dois ou três dias. No segundo, Fejão (2)já tinha tirado (na guitarra) a música da banda que abria a noite. Ele era assim, ficava no camarim, ouvia a música e tocava melhor que os caras. Era genial, um talento absurdo, um crianção." Em 1985, quando o pai foi transferido para a Espanha, Totoni deixou a banda e se mudou para Madri. Viria então a terceira (e mais conhecida) formação do Escola, com Eduardo Raggi, o Balé, na bateria.
Ser ou não ser
Quando Antonio voltou ao Brasil, em 1987, o cenário era outro. "Muita gente tinha se mudado de Brasília. Legião Urbana e Plebe já estavam pelo Brasil inteiro; Paralamas, então, nem se fala. Cheguei perdido, naquela de 'nenhuma pátria me pariu', servindo ao Exército...", lembra ele, que foi morar no Rio de Janeiro e tocar bateria numa banda de reggae, junto com Alexandre Moreno (também ator), Jairo (hoje baixista do AfroReggae) e Cláudio (guitarrista do Reggae B). "Vivia na dúvida: faço faculdade para agradar ao pai, toco bateria ou vou ser ator? Acabei largando a bateria aos poucos, trancando a faculdade e entrando para o curso de teatro."
Formado pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), decidido a ganhar a vida como ator, ele ainda trabalhou como vendedor da RockIt, a loja de discos, revistas, quadrinhos e camisetas que Dado Villa-Lobos e André Mueller tinham na Gávea, no Rio. Isso lá por volta de 1992, 1993. Quando veio o primeiro filho (hoje são três, dois adolescentes e um menino de 2 anos), arrumou emprego no freeshop do aeroporto do Galeão, onde ficou por três anos. Hoje, já pode se dar o "luxo" de viver da profissão que escolheu. Depois de 15 anos na companhia de teatro Quem São Esses Caras?, ao lado de Carla Faour e Henrique Tavares ("A gente aprendeu muito na companhia, foi a nossa escola, mesmo"), atualmente ele está em turnê com a peça Ensina-me a viver, protagonizada por Gloria Menezes.
De ponta a ponta
No cinema, Fragoso interpretou um dos bombeiros de Sinistro, o premiado curta do brasiliense René Sampaio, e ganhou pequenos papéis em filmes como Ensaio sobre a cegueira, Divã e A mulher invisível. Na tevê, fez participações em novelas, séries e programas de humor (A grande família, A diarista, Minha nada mole vida, Os aspones). Tudo muito rápido, o que ele mesmo trata logo de transformar em piada. "Participo de todos os produtos da TV Globo! Posso aparecer dois ou três dias na novela, mas estou na novela", brinca o ator, que aparece muito mais vezes em programas educativos, como Teca na TV, do Canal Futura (ele é o pai da Teca), e Tecendo o saber, série de 57 episódios reprisada pela Globo às 5h (seu personagem, Januário, vive desempregado e é sustentado pela mulher, a gari Valdete).
Fazer a minissérie Som e fúria, para ele, foi uma experiência e tanto. "Era uma equipe sensacional", elogia. "Fernando Meirelles, além de talentoso, é um gentleman, trabalha bem com todo mundo." E Gerald Thomas, o que achou de Oswald? "Bom, soube que ele tinha sido avisado de que haveria uma brincadeira, que seria até uma homenagem, e teria dito que não se incomodava. Depois, não sei se os fãs dele acharam um absurdo, mas parece que ele não gostou muito não... Ah, mas era só uma brincadeira, né?"