Diversão e Arte

Baladas semanais ditam tendências, conquistam um público fiel e mudam a cara da noite brasiliense

postado em 07/08/2009 08:00

Gonzalo Insônia, Play: Era noite de sexta-feira quando C.J. Ramone se apresentou em Brasília pela primeira vez. Na área externa do Arena Futebol Clube, no Lago Sul, a fila dava voltas. Cerca de 1,5 mil fãs se espremeram para celebrar o punk nervoso dos nova-iorquinos. Não tão longe dali, no início da Asa Sul, o DJ Gonzalo Insônia se preparava para mais uma edição da Play, no Blackout Bar (904 Sul). O clima era de incerteza: alguém trocaria o show de um Ramone pelos embalos de uma festa de rock? Para surpresa do produtor, a Play! transbordou. Cerca de 500 pessoas tomaram a pista do clube da Asceb. Um público animadíssimo e fiel, de provocar inveja em muita banda de rock.

A história, que aconteceu no início de julho, ilustra uma tendência da noite brasiliense: as festas semanais entraram de vez no calendário da cidade. Elas estão em alta. A onda, que ganhou força com o sucesso do Criolina (às segundas, no Calaf), é reforçada por projetos como o Funfarra (às sextas, no Parque da Cidade) e o 5uinto (às quintas, no Blackout Bar). Não são os únicos exemplos. A cena engloba estilos tão diversos quanto o samba (o Adora-Roda, às terças no Calaf), o rock (um dos ingredientes da movimentada Cansei de Ser Cult, às quartas no Balaio Café, 201 Norte) e o indie com dance music (nos projetos da Indiecent Music, no Landscape Pub). ;É um mercado de informação, entretenimento e consumo. E que está em franca expansão;, observa Tiago Machado, o DJ Pezão. Ao lado do baterista Rodrigo Barata, ele comanda o projeto Criolina há quatro anos e meio.

Barata e Pezão comandam a Criolina há quatro anos e meio: projeto ganhou edição paulistanaCravado entre prédios comerciais do Setor Bancário Sul, o Bar do Calaf é o lar de uma festa que parece inabalável. São cerca de 700 pessoas por noite. Point da azaração e de todo tipo de mistura sonora, a Criolina virou escala obrigatória até para os turistas, que recebem a indicação da balada em hotéis da cidade. ;É tradição;, resume Barata, que toca bateria no Super Stereo Surf. Há um ano e meio, expandiu as atividades com edições na concorrida cena paulistana, em casas disputadas como Studio SP e Berlim. Também tem programa de rádio, aos sábados na Cultura FM (às 19h). ;A Criolina é uma brincadeira levada a sério. Mas também é, de certa forma, nosso escritório;, afirma Tiago. A festa está na 242; edição. Para movimentar essa estrutura, os produtores dependem de uma equipe de 11 pessoas, entre artistas e técnicos.

Idas e vindas
De março a junho, a crise mundial assombrou o ;negócio; de Pezão e Barata: a frequência de público diminuiu. ;Todos os produtores estavam receosos, mas agora parece que tudo voltou ao normal. Esta é uma cena que anda com as próprias pernas;, avalia Tiago. O músico e produtor Marcelo Barki se acostumou às idas e vindas do mercado. A festa Funfarra, no Parque da Cidade, oscila entre 200 e mil pessoas, sempre às sextas. ;Depois de um tempo, quem faz eventos semanais percebe que existe uma época de alta e outra de baixa. Este ano, fomos prejudicados pela crise econômica, pelo excesso de feriados e de concursos;, enumera. Como a Criolina, o projeto também aposta na mescla de estilos musicais com foco na música negra, e acrescenta elementos a esse caleidoscópio: exposições e performances de artes visuais.

[SAIBAMAIS]Há um ano e sete meses, o happening dá certo. A Funfarra quebrou o tabu de que o Parque da Cidade não seria um espaço acolhedor para baladas. ;Existia o preconceito. No início, as pessoas ficavam desconfiadas. Mas é um lugar ótimo, arborizado, com estacionamento amplo. O filé mignon de Brasília;, descreve Barki.

Uma característica que aproxima a maior parte dos projetos semanais é o espírito de resistência. Eles continuam de pé, apesar da instabilidade do mercado. A Play! aposta no apelo de convidados não muito acostumados ao papel de DJ. Um outro exemplo é o 5uinto, dedicado à música eletrônica. ;A noite semanal era uma necessidade. Brasília não tem um clube decente. O público e os DJs queriam;, afirma o DJ João Komka, que produz a festa há dois anos com Ruiz Lopes. ;O público é diversificado e sempre aparece gente nova. Uma galera que nem sei como classificar. Tem playboy, gay, uns moderninhos;, conta. E, é claro, os fãs de carteirinha, que embarcam nessa calorosa rotina de cultura e diversão.


; Antídoto à mesmice

Com sets inusitados e convidados especiais, produtores de festas semanais apostam em surpresas para renovar o público. A clientela aprova e repete a dose

Marcelo Barki no Parque da Cidade, cenário da Funfarra: Para quem vive de festas, surpreender o público é uma obrigação. ;Esse é um risco que corremos constantemente;, reconhece Tiago Machado, o Pezão. ;Mas estamos trocando o nosso público. Fazemos com que as pessoas se adaptem à festa;, observa o DJ da Criolina, que largou a publicidade para viver de produção de festas. Um dos segredos do sucesso do Criolina pode ser encontrado nesse desejo de renovação. Os shows diversificam a programação. No início, a festa se dedicava principalmente à black music, brasileira e estrangeira. Hoje em dia, os DJs tocam até canções dos bálcãs. Um som universal. ;O rock, o blues, o reggae, quase tudo tem um pé na África. Tocamos as músicas que gostamos de ouvir;, observa Rodrigo Barata.

A clientela aceita a mistura com gosto. Os amigos Arthur Garrote, Wagner Santos e Tomás Bugarin, todos com 20 anos de idade, entraram para o clube dos frequentadores assíduos. Costumam ir a outras festas. Mas, toda segunda-feira, confiam na tradição da Criolina. ;Aqui é um bom lugar para sentar e conversar. Rola uma interação maior e dá para conhecer mais pessoas;, comenta Arthur. Danielle Palhares, 20 anos, e Thais Lins, 22 , disputam um lugar perto do palco. ;É uma festa que sabemos que vai ter gente bonita e música de qualidade;, diz Danielle.

No caso da Play, as novidades fazem parte do conceito da festa. Criado há seis meses por quatro sócios ; Paula Vieira, Paloma Sanches e Ruiz Lopes, além do DJ Gonzalo Insônia ;, o projeto convida personalidades do rock para apresentar na pista as canções que ouvem em casa. ;Eles devem fazer o povo dançar. Mas a liberdade é total;, explica Gonzalo. No Blackout Bar, já passaram roqueiros como Hélio Flanders (do Vanguart, que tocou até Bob Dylan), Ricardo Koctus (baixista do Pato Fu) e Kid Vinil. A atração de hoje é Flávio Forgotten, da banda paulistana Forgotten Boys. ;A intenção é diversificar a sonoridade do rock para atrair um público maior;, afirma Gonzalo, que toca na noite da cidade há cinco anos e também cuida do projeto London Calling, de rock britânico.

Para os produtores, manter um projeto semanal exige jogo de cintura. Mas permite algumas facilidades. ;Vejo uma vantagem econômica: geralmente conseguimos acordos melhores na divulgação e nos equipamentos. As festas semanais têm mais poder de barganha, além de criar uma marca com o público;, afirma Marcelo Barki, da Funfarra e do Adora-Roda. ;Diziam que Brasília era uma cidade careta, de políticos, sem muita vida. Na noite, vemos o contrário disso;, nota Rodrigo Barata, da Criolina. (Claborou Izabel Toscano)

; FUNFARRA
Local: Estação 10 (Parque da Cidade Sarah Kubitschek, Estacionamento n;10) ; Quando: sexta-feira, às 22h ; Quanto: Das 22h às 23h, entrada grátis; das 23h à 0h, R$ 5, de 0h à 1h, R$ 10; após 1h, R$ 15 ; Média de público: 200 a 1 mil ; Tempo de existência: 1 ano e sete meses ; DJ residente: Marcelo Barki ; Som: Do pop norte-americano à música brasileira. Destaque para a black music. ; Na web:

; PLAY!
Local: Blackout Bar (904 Sul, Clube da Asceb) ; Quando: sexta-feira, às 23h30 ; Quanto: R$ 10 (com nome na lista para playbrasilia@gmail.com até 1h) ou R$ 15 (sem nome na lista ou após 1h). Entrada grátis para as 30 primeiras pessoas que chegarem na festa ; Média de público: 450 a 500 pessoas ;Tempo de existência: 6 meses ; DJ residente: Gonzalo Insônia ; Som: Rock ; Na web:


; 5UINTO
Local: Blackout Bar (904 Sul, Clube da Asceb) ; Quando: quinta-feira, à 0h. ; Quanto: R$ 15 ; Média de público: 200 a 400 pessoas ; Tempo de existência: 2 anos ; DJ residente: Komka, com Amnesia, Mari Perrelli, Allan Villar e Hopper ; Som: House, techno e electro ; Na web:

; CRIOLINA
Local: Bar do Calaf (Setor Bancário Sul, quadra 2, térreo do Edifício Empire Center) ; Quando: segunda-feira, às 22h ; Quanto: R$ 12 (homens) e R$ 7 (mulheres) ; Média de público: 700 pessoas ; Tempo de existência: 4 anos e meio ; DJs residentes: Tiago Pezão e Rodrigo Barata ; Som: começou como uma festa de black music, mas hoje o que manda é a diversidade de sons ; Na web:


; Atrações de hoje

PLAY!
Flávio Forgotten (Forgotten Boys-SP), Les Tripletes, Clarice Garcia e Ed & Zeca. Não recomendado para menores de 18 anos.

FUNFARRA
DJs Barki, Emidio e Nagô, além de pintura ao vivo (Coletivo Samba), projeção de vídeo (Hieronimus) e exposição (Acervo Funfarra). Não recomendado para menores de 18 anos.

; Confiras as listas de músicas que não podem faltar nos sets dos DJs Barata, Pezão e Gonzalo Insônia

TOP 5 DO DJ BARATA (CRIOLINA)
1 - Dorogoj dlimnoju ; Brasov (banda carioca que toca versão original da música cigana que ficou eternizada nas tardes dominicais do Sílvio Santos)
2 - Erva venenosa ; The Hairy;s (versão instrumental da banda 60;s brasileira para o clássico Poison ivy)
3 - Panamá City ; Quantic Soul Orchestra (colombiano radicado nos EUA que trabalha soul e latinidades)
4 - Hermético ; Balkan Beat Box (a música dos balcãs remixadas)
5 - Ritmo bom ; DJ LK (carimbó envenenado)

TOP 5 DO GONZALO INSÔNIA (PLAY)
1 - On board ; Friendly Fires
2 - Only want you ; Eagles of Death Metal
3 - Ulysses ; Franz Ferdinand
4 - Zero ; Yeah Yeah Yeahs
5 - Are you gonna be my girl? ; Jet

TOP 5 DO DJ PEZÃO (CRIOLINA)
1 - Amor em Jacumã ; Dom Um Romão (Tranquilidade e muito balanço)
2 - É d;Oxum ; Alma Luna (A força que mora n;água)
3 - Hava Nagila ; Tema cigano ; Vários intérpretes (O título significa Alegremo-nos, em hebraico. Música de celebração, faz a alegria de qualquer um no mundo inteiro)
4 - Ai ai ai Niemai ; Vavá Afiouni (Salve Brasília)
5 - Up side down ; Fela Kuti (Muita reverência a esse e a todos os mestres da música negra)

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