Diversão e Arte

Febre nos anos 1980, os bonecos Comandos em Ação têm apreciadores até hoje

Cinco deles foram conferir a pré-estreia do filme inspirado nos personagens

postado em 08/08/2009 08:00
Certo dia, em meados de 2007, o rodoviário Joney Silva de Andrade, 31 anos, acordou com uma ideia fixa na cabeça: comprar um boneco da série Comandos em Ação que teve na infância. Arrematou o item em um site de leilões. Mas o que deveria ser uma compra isolada acabou se tornando o primeiro passo de uma coleção. Hoje, Joney tem mais de 100 Comandos. ;Comecei com um objetivo, mas a coisa expandiu;, comenta. Além de ter possibilitado as compras, a internet o ajudou a encontrar outros entusiastas pela cidade. Atualmente, os colecionadores brasilienses são amigos, se comunicam, trocam ideias, informações, peças e bonecos repetidos. Formaram um fã-clube.

O que move essa turma é a nostalgia e a vontade de possuir hoje aqueles bonecos que não tiveram na infância. ;Meus pais não tinham condições financeiras, tive poucos Comandos quando criança. Foi um trauma;, explica o pintor de motos Wendel Pereira, 35 anos. ;Minha mulher reclama porque fico gastando dinheiro com isso, mas as pessoas não entendem a nossa alegria ao conseguir um boneco que sempre procuramos. Vou ficar velhinho e ainda continuarei comprando;, planeja. Verdadeira coqueluche entre os meninos durante os anos 1980, os Comandos em Ação (ou G.I. Joe, como são conhecidos nos Estados Unidos, país de origem) foram fabricados no Brasil pela Estrela até 1994 (as versões repaginadas, lançadas posteriormente, não alcançaram o mesmo sucesso).

[SAIBAMAIS]Muitos apreciadores desses soldados de 9 centímetros de altura precisaram começar a coleção do zero (não guardaram seus antigos Comandos), mas o analista de sistemas Alexandre Lacerda, 29 anos, preserva até hoje os bonequinhos adquiridos na infância e acrescenta: ;Ainda tento conseguir os bonecos e os veículos que eu não tive na época ou que não foram comercializados no Brasil ; e são muitos;, continua o proprietário de mais de 200 itens.

A relação bélica tão presente nos G.I. Joe, aliás, faz muitos pais considerarem as peças bonecos politicamente incorretos. ;Na visão infantil, tudo não passa de uma brincadeira. As crianças não têm ainda conceitos formados, como morte, por exemplo. Brincar com esses bonecos não é um divisor de águas, não significa que um menino vá se tornar um assassino por causa disso;, explica o colecionador e pedagogo Marcos Henrique Pinheiro, 25 anos. ;Mas, é claro, os adultos têm que conscientizar as crianças, educá-las;.

Presidente dos fã-clubes Botfan (voltado para os Transformers) e G.I. Joe Brasília, o administrador Glauber Freire, 29 anos, conta que muitos colecionadores estão espalhados pela cidade, mas não se conhecem. ;Ao contrário de São Paulo, a capital do colecionismo, em Brasília o mercado é pequeno;, compara. No entanto, ele conta, o interesse pelo assunto é enorme, visto a reação das pessoas ao visitar alguma das exposições realizadas pelo grupo dentro de eventos ligados à histórias em quadrinhos, desenhos animados e seriado e japoneses. A próxima mostra está prevista para outubro, dentro da Otacon, mais uma convenção do gênero.

O filme
Convidados pelo Correio para assistir à pré-estreia do filme G.I. Joe ; A origem de Cobra, os cinco fãs dos Comandos em Ação são unânimes em sua avaliação quanto ao longa-metragem: adoraram. ;É bem próximo do universo dos personagens que a gente conhece;, aprovou Joney. ;Eles misturam tanto elementos do desenho dos anos 1980, quanto da série Sigma 6, exibida recentemente na tevê. Os personagens estão repaginados, com nova estrutura psicológica, mas sem perder a essência;, detalha Glauber.

Alexandre ressalta a fidelidade dos equipamentos vistos na tela. ;E a personalidade dos heróis e dos vilões ficou bem retratada;, elogia. Wendel gostou de uma das novidades: ;O desenho não conta a origem dos personagens, coisa que o filme faz;. ;O longa permite o resgate, pra quem já conhecia, mas é atrativo para os mais jovens também, já que as cenas têm efeitos visuais incríveis;, observa Marcos Henrique. A origem de Cobra dá margem à continuações. Para esses fãs, a espera para o próximo G.I. Joe já começou.

; O restaurador de brinquedos

Se o boneco quebrou, o estudante de administração de empresas Glauber Freire dá um jeito. Pelo menos é o que ele promete

Glauber e seus heróis de plástico: %u201CEu acho impossível parar de colecionar Transformers. Eles me fascinam desde a infância, peguei o vício%u201DGlauber Freire conta que era uma criança arteira. ;Eu sempre quebrava os meus brinquedos;, lembra. Esses ;descuidos;, no entanto, serviram para ele começar a desenvolver um talento que hoje lhe rende reconhecimento. Glauber é restaurador e customizador de brinquedos. ;Se eu quebrava um brinquedo de um lado, tinha que quebrar do outro também, para ficar igual;, diverte-se. ;Assim, percebi que podia fazer concertos, mas também adaptações;, continua.

Para se aperfeiçoar, ele buscou cursos específicos, geralmente feitos em casas de hobbymodelismo. Logo, Glauber percebeu que as técnicas para construção e restauração poderiam servir também para personalizar brinquedos. O talento do estudante de administração de empresas de 29 anos lhe rendeu elogios do circuito de colecionadores. ;Eu não faço isso comercialmente, é só para os amigos. Mas posso dizer sem medo que se trabalhasse na área estaria num alto patamar, pois o resultado é ótimo. Pratico para atingir a categoria de arte;, relata, sem modéstia.

O processo de restauração depende de cada brinquedo. Um boneco Comandos em Ação sem o polegar (;acidente; muito frequente, aliás) pode ter o dedo colado com resina plástica, o que não deixar marcas nem cria volume. ;Ela (a resina) adere à massa do brinquedo, depois é só fazer o ajuste. É como se nunca tivesse quebrado;, garante. E se a peça a ser colada sumiu, o que fazer? ;É possível reproduzir. Eu trabalho com forma de gesso. Pego a peça destruída como molde e reconstruo.;

Até hoje, o maior desafio do restaurador foi um robô da série animada japonesa Gundan. ;Comprei de um cara que pintou o boneco com tinta a base de tíner ; que é muito ácida. Ele estava esfarelando. Tive que remoldar e depois pintar de novo.;

Mesmo também presidindo o fã-clube G.I. Joe Brasília, Glauber gosta mais de outra série: Transformers. ;Parei de comprar Comandos porque a série é enorme e já adquiri todos que eu queria. Mas Transformer eu acho impossível parar. Eles me fascinam desde a infância, peguei o vício;. Sua coleção tem mais de 300 robôs, 20 montados por ele.

Releitura
Dirigido por Michael Bay, Transformers 2: A vingança dos derrotados, dividiu a opinião de muita gente que curtiu o filme anterior da série. Glauber sai em defesa do longa-metragem. ;O primeiro fez uma releitura, mas focou nos humanos. Os Autobots, por exemplo, só surgem lá pela metade da história. No segundo não, eles aparecem logo de cara. Quem conhece o desenho animado e as histórias em quadrinhos dos Transformers sabe que é robô o tempo todo. Além disso, o Optimus Prime teve uma aparição apática no primeiro. No A vingança dos derrotados ele mostrou um alto nível de comando e ação;.

Glauber criou o Botfan (fã-clube dos Transformers) para reunir os interessados no assunto em Brasília e outras cidades. Atualmente, o grupo reúne 220 pessoas no país, 62 só na capital federal. Criado recentemente, o G.I. Joe Brasília é mais modesto. Por enquanto, tem apenas nove filiados. Os interessados em participar ou trocar ideias, podem entrar em contato pelo e-mail: botfanbrasil@gmail.com

; Um marco das figuras de ação

Cinco deles foram conferir a pré-estreia do filme inspirado nos personagensNem Falcon nem Max Steel. A figura de ação (como são chamados os bonecos articulados) definitiva é mesmo o Comandos em Ação. Criados pela fabricante de brinquedos americana Hasbro em 1964, esses soldadinhos já ganharam diversas versões. Ainda nos anos 1960, eram bonecos com cerca de 20cm de altura. Em meados da década 1970, surgiu o Falcon (chegou ao Brasil pela Estrela, em 1978), com seus 15cm (o que o tornava irresistível para as Barbies), talho no rosto, barba cerrada e olhos de águia. O sucesso foi grande, mas longe do atingido pela série de bonecos de 9cm que inundaria o mercado em 1984.

Menores, porém mais articulados, detalhados e com maior variedade de equipamentos e veículos, os Comandos em Ação ; ou G.I. Joe, no original (o nome vem de Government Issue Joe, expressão associada a soldados do exército americano) ; tiveram diversas coleções. Cada uma delas expandia o universo de personagens e acessórios. Foi também na mesma época que surgiram os arqui-inimigos dos Joes, os agentes da Cobra. O boom dos bonequinhos foi acompanhado pelo sucesso da série de desenhos animados (95 episódios mais um longa metragem animado ; exibidos pela TV Globo) e história em quadrinhos publicadas pela Marvel (mais de 150 edições).

Assim como o Falcon, G.I. Joes e Cobras foram lançados no Brasil pela Estrela. A empresa ainda detém os direitos autorais do nome, por isso não há referência a ele nos cartazes do filme G.I. Joe - A origem de Cobra. A Estrela, inclusive, colocou nas lojas algumas versões exclusivas dos bonecos com pinturas diferentes (hoje, esses são artigos raros, disputados pelos colecionadores). No começo dos anos 1990, o Comandos em Ação desapareceu do mercado. De lá para cá, a série foi relançada com diversas novas roupagens, mas sem o mesmo sucesso de antes. Pegando carona no lançamento do longa-metragem em 2009, a Hasbro apresentou uma nova linha de bonecos inspirados no filme. Os bonecos devem chegar ao Brasil este mês.

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