Maestro da banda de pífanos Esquenta Muié, Zé Cícero, 60 anos, anda cansado das promessas eleitoreiras dos políticos de Marechal Deodoro, em Alagoas. Praticante há 40 anos de uma arte transmitida de pai para filho, Cícero diz não receber qualquer apoio do Estado. ;A banda de pífanos não recebe ajuda de autoridade nenhuma, nem das que entraram nem das que saíram. Precisamos do apoio que não seja de elogio, mas financeiro para dar continuidade ao nosso trabalho;, cobra o maestro.
O músico acredita que a apresentação de hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), pelo projeto Epifanias, pode ajudá-lo a reduzir a situação financeira difícil do grupo por causa da proximidade com o poder federal. ;Nós continuamos porque amamos espiritualmente o que fazemos, mas isso tudo pode se acabar. Se tivéssemos apoio, montaríamos uma escola para as crianças e poderíamos tirá-las do tráfico, da marginalidade;, projeta Cícero.
Ele e o irmão também pifanista Franklin, o sobrinho Frank Luciano da Silva (bumbo), Otávio Bernardo Costa (prato) e José Edmilson do Nascimento (caixa) executarão repertório do CD Sonho de criança, com composições feitas pelos irmãos e pelo pai (falecido), Cícero Luciano da Silva. ;Vamos mostrar o verdadeiro pífano brasileiro que é o mais bonito do mundo;, completa o maestro sobre o show, que terá a participação do músico Egildo Vieira.
Som do barro
Instrumentista nascido em Piranhas (AL), Egildo, de 62 anos, foi morar em Recife atendendo a um chamado do escritor Ariano Suassuna. À época, Suassuna empreendia a pesquisa sobre cultura popular nordestina que mais tarde ficou conhecida como Movimento Armorial(1). Vieira dedicou-se aos estudos de instrumentos populares, entre eles o pífano. Mais tarde, iniciou a construção de instrumentos numa cartilha parecida com a de Walter Smetako, maestro suíço radicado na Bahia. ;A diferença é que os meus instrumentos tocam e os dele não;, alfineta Egildo. Cabaças, tabocas e arames são as principais matérias-primas utilizadas pelo construtor, que pretende testar uma pequena ousadia: ;Eu vou partir para o som do barro, extraído de jarras e potes. Não sei o que vai dar, mas acho que será genial;. Dos instrumentos produzidos por Vieira, o público brasiliense poderá rever o ariano e os marinpífanos na participação especial que o músico fará hoje durante o show do Esquenta Muié.
1 - MANIFESTAÇÃO POPULAR
Movimento encabeçado pelo escritor pernambucano Ariano Suassuna. O Armorial pretendia realizar uma arte erudita baseada nos estudos das manifestações populares do Nordeste. Foi lançado oficialmente em 18 de outubro de 1970, no Pátio de São Pedro, em Recife, com concerto e exposição de artes plásticas. Inclui também o escultor Francisco Brennand.
EPIFANIAS
Todas as terças-feiras, até 25 de agosto no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Sul, Tc. 2; 3310-7087). Hoje, às 13h e às 21h, banda de pífanos Esquenta Muié, de Alagoas, com participação especial do músico Egildo Vieira, de Pernambuco. Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia), às 21h; e às 13h, entrada franca. Classificação indicativa livre.