Diversão e Arte

O acervo de obras de arte evolui de acordo com a experiência adquirida e o poder aquisitivo do colecionador

Nahima Maciel
postado em 13/08/2009 08:00

O casal Francisco e Maria Helena Lacerda começou a colecionar timidamente. Como todo iniciante, o advogado e a administradora de empresas frequentaram leilões e compraram obras tradicionalmente comercializadas e valorizadas nesse tipo de evento. Carlos Scliar, Antonio Poteiro e Inimá de Paula foram os primeiros artistas. Agora, pouco resta desse início. Francisco entende o colecionismo como uma atividade dinâmica. À medida que cresce o conhecimento da área, a coleção adquire novas feições. Foi o que aconteceu. Hoje, o conjunto de quase 100 obras tem peças tradicionais, como esculturas de Bruno Giorgi e Alfredo Ceschiatti, e quadros de Milton Dacosta, Burle Marx, Alberto da Veiga Guignard, Athos Bulcão, Glênio Bianchetti, Siron Franco e Alfredo Volpi, mas o encanto do casal agora está direcionado para uma nova descoberta.


O empresário Ivan Valença tem apreço pelas obras geométricas do paraense Emmanuel NassarNo ano passado eles adquiriram um lote de pinturas de Rubem Valentim(1). De tão significativo, o conjunto despertou interesse de curadores em São Paulo e rendeu uma exposição organizada por Celso Fioravante. "Já chegamos a ter 60 Valentins, mas hoje temos uns 20 porque tivemos que vender para fazer a exposição", conta Francisco. "O investimento vem em segundo lugar. Muitas vezes a gente leva é prejuízo. A ideia é formar uma boa coleção porque gostamos muito do ambiente artístico."

Para tanto, eles frequentam leilões em todo o Brasil. Fizeram questão de estar presentes nos leilões das coleções de Carmem Mayrink Veiga, Lily Marinho e Jorge Amado, realizados nos últimos dois anos. "Somos colecionadores modestos. Os grandes colecionadores de Brasília são os empreiteiros. Defendo que quem tem uma coleção deveria mostrar. O problema é que muitas pessoas compram para ter reserva de investimento." Arte contemporânea, no entanto, ainda é um mistério. "É difícil acompanhar. A gente está mais para moderno. São os nossos contemporâneos", brinca Francisco.

Valor agregado

Foi por intermédio de uma confraria informal criada em conjunto com outros colecionadores que o advogado conheceu o analista financeiro Demétrius Borel. A afinidade fica clara nas coleções. Há correspondências e a mesma resistência em relação à arte contemporânea. "Até me interesso, mas não tive oportunidade. E o preço... é muito alto", avalia Borel, que divide com Francisco o mesmo fascínio recém-descoberto por Rubem Valentim. Só na sala de jantar, são oito pinturas do baiano morto em 1991 e ex-professor da Universidade de Brasília (UnB). "Quando você começa a colecionar arte, começa com artistas de valor agregado mais baixo e de fácil leitura. Você olha, gosta, acha bonitinho. A partir do momento que vai conhecendo, o gosto vai mudando. Valentim é um artista que quem comprar vai ter uma peça de beleza ímpar e valor financeiro", garante Borel, que acredita na futura valorização do baiano.

[SAIBAMAIS]Na casa de Ivan Valença a mistura de estilos pode contemplar peças do século 19 e 20. Ao lado do armário mineiro em madeira antiga, coroado com um santo barroco, está um quadro amarelo intenso do paraense Emmanuel Nassar, uma das paixões do empresário. A casa, projetada pelo arquiteto Zanine Caldas e restaurada recentemente, é a limitação para as compras de Valença. O empresário, um dos donos do shopping CasaPark, não gosta de acumular nada e expõe toda a coleção. Compradas há 15 anos, as primeiras obras já cederam lugar a novas aquisições."Comecei com pintores modernos e construtivos, mas a coleção é dinâmica. O gosto e a vontade de ter as coisas vão mudando e hoje cheguei à arte contemporânea. A coleção tem que estar aberta à curiosidade", acredita Valença.


1 - SINCRETISMO
Rubem Valentim trabalhava com símbolos religiosos e explorou o sincretismo brasileiro em pinturas e esculturas que misturavam formas simbólicas do candomblé e do cristianismo. Deu aulas no departamento de Artes Visuais da UnB até morrer, em 1991.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação