Mariana Peixoto/Estado de Minas
postado em 15/08/2009 08:00
Quarenta anos depois, é incrível ver como tudo o que deu errado acabou dando certo. Em entrevista no início de Woodstock, seu organizador, Michael Lang, afirmou esperar na fazenda em Bethel 200 mil pessoas entre 15 e 17 de agosto de 1969. A manchete do New York Times do primeiro dia do evento dizia o mesmo: ;Duzentos mil indo para festival de rock engarrafam as estradas ao norte do estado.; Não demorou para que o número duplicasse, triplicasse até chegar ao ponto de não se saber quantos milhares estavam ali.O anúncio de que o festival havia se tornado gratuito e a visão das pessoas arrebentando as cercas da fazenda de Max Yasgur deram conta de que o que estava ocorrendo no interior do estado de nova York era mais do que um festival de música.
Até meados da década de 1960, o que havia nos Estados Unidos eram festivais pequenos de música, de uma maneira geral dedicados a somente um estilo. Somente dois anos antes, com o Festival de Monterey, na Costa Oeste norte-americana, é que a música jovem havia se tornado grande ; tanto em público, 200 mil pessoas, quanto em número de artistas e diversidade de estilos. Mas do lado de cá da América, o ineditismo era total.
[SAIBAMAIS]Some-se a isso vários fatores: a profusão de drogas disponível (e a ausência de qualquer controle policial); as tempestades típicas do verão (que transformaram os 600 acres da fazenda num imenso lamaçal); a falta de provisões (o próprio Yasgur afirmou ter passado fome no fim de semana, sendo obrigado a se alimentar unicamente de cereais); o amadorismo da produção (um palco mal ajambrado de madeira, apenas 600 banheiros químicos e um décimo disso de telefones públicos); e o trânsito caótico (ou melhor, engarrafamento monstro).
Durante os três dias, a relação entre o público e os moradores da região de Bethel ; não mais do que 2,3 mil pessoas ; foi dúbia. Houve aqueles que souberam entender o clima paz e amor dos jovens e também os outros que não se cansaram de brigar por causa da sujeira e da confusão armadas. No universo de meio milhão de pessoas, apenas 200 foram presas. O motivo? Ofensas, basicamente.
A espera
Uma, duas, três horas entre um show e outro. E o público esperando, na maior parte das vezes pacientemente, em meio à sujeira e à fome. Esperava não sabiam quem, já que a ordem das apresentações foi totalmente modificada e nem os próprios músicos tinham conhecimento do momento em que subiriam ao palco. Woodstock também trouxe em seu elenco protagonistas da explosão musical da década de 1960, que não levariam muito tempo para passar dessa para uma melhor: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Keith Moon e Jerry Garcia.
E apesar disso tudo, o que se vê, em livros, reportagens e, principalmente, no documentário de Michael Wadleigh, é que o festival só ganhou sua aura mítica por causa das intempéries. Se tivesse sido diferente, não teria sido Woodstock.