Ricardo Daehn
postado em 18/08/2009 09:00
Mais identificada, há quase uma década, com o perfil de loja, a Etno Brasil ; uma referência local para aquisição de artesanato ;, a partir de hoje, retoma o envolvimento com exposições, por intervenção da gerente e curadora Malba Aguiar. ;A pedido dos colecionadores, reabrimos o espaço para mostrar a produção de artistas com reconhecimento nacional;, explica. Com 18 obras expostas, Mário Teles, aos 67 anos, terá, a partir de hoje (com Engrenagens da vida), a primeira individual mais expressiva na capital. ;Os artistas populares se entendem com ferramentas simples, construídas por eles. O Mário usa muito o formão para entalhar e vazar a madeira de cedro;, conta Malba.Mineiro de Divinópolis, Mário Teles leva adiante o nome do pai, Geraldo Teles de Oliveira, mais conhecido como GTO. ;Em algumas obras, ele repete a temática do pai, como no caso da roda da vida(1). Uma peça importante da mostra, Roda da vida na indústria, por exemplo, associa representações de engrenagens e de pessoas. A grande herança que os artistas populares deixam para a família, aliás, é a própria arte. A herança é repassada para os filhos, que dão continuidade aos trabalhos. Daí, a gente vê um ceramista como Mestre Vitalino, que deixou uma escola de seguidores no Alto do Moura (em Caruaru, PE). No caso do GTO, os seguidores são o filho e o neto;, explica a curadora.
Sem nada de cor, tendo apenas a madeira como suporte, as peças de Mário Teles deixam de lado parte da rusticidade empregada pelo pai, ; ;há mais polimento e maior tratamento;, pontua Malba, com três décadas de experiência no setor artesanal. A expressão de rostos contidos é recorrente nas obras, tomadas pela carga de figuras do folclore mineiro (entre elas, a Guarda do Rosário e a Guarda de Reis). Tendo ainda como curador Frederico Hudson, a exposição traz peças que retratam momentos ligados à capoeira, à queda-de-braço e a festejos com pau-de-sebo.
A serem comercializados a partir de R$ 200, os trabalhos recentes ; que têm títulos como Priandela dos músicos e Folclore dos índios ; variam em dimensões, com o menor medindo 23cm x 57cm e, o maior, 2,40m x 1,64m. Requisitado por compradores estrangeiros, Mário Teles, em Engrenagens da vida, ainda apresenta obras próprias para colecionadores, como Fantástico mundo folclórico, com valor estabelecido em R$ 29,5 mil. Trata-se de uma composição de sete rodas da vida associada a outras três metades de mandala.
Tudo num patamar muito diverso para o artista que produziu estimadas 3,5 mil obras e viu o pai, em 1965 (e aos 50 anos), começar na lida como artesão. Seis anos depois, Mário Teles ;, antes pintor e que, hoje em dia produz no porão da casa do pai, ; começou a esculpir, ao lado de GTO. Certamente, é conversa para render longas conversas com o público, hoje, quando o artista receberá convidados para o relato de vivências e de feitos artísticos.
1 Roda da vida
Na produção de GTO, a temática consiste em mandalas, com figuras de pessoas integradas à peça, como que num esforço para que a roda gire. Daí, as composições circulares carregam na relação entre integração e interdependência.
ENGRENAGENS DA VIDA
Galeria Etno Brasil (SHIS QI 05, Bl. E, Lj. 9 Lago Sul, no Gilberto Salomão). Abertura hoje, a partir das 10h, com presença de Mário Teles. Até 18 de setembro, com visitação de segunda a sexta, entre 8h e 12h e das 14h às 18h.