À primeira vista, o aspecto é desolador. Cercado por mato e com a pintura laranja e azul-anil desbotada, o Museu de Arte de Brasília, o principal espaço do gênero construído na cidade, em 1985, mais parece um monstro combalido pelos estragos do tempo. Interditado há dois anos, o lugar, localizado no Setor de Clubes Norte, já foi um dos importantes cenários da arte contemporânea da capital. Hoje, o estado de penúria do local é grande, com infiltrações por toda parte, janelas quebradas e paredes descascadas. Os banheiros não têm portas e a ferrugem é companheira do forte cheiro de mofo sentido no ar. A situação é tão crítica que o próprio Ministério Público mandou interditar o museu em 2007.
"A questão do MAB hoje envolve duas coisas que estão sendo trabalhadas paralelamente. Uma é a organização do acervo, a outra diz respeito à reforma que a gente fica sem saber o que vai acontecer. Num encontro casual com o governador, ele falou, en passant, que o MAB vai virar outra coisa", conta o artista plástico Glênio Lima, há quase três anos diretor do MAB. "O espaço é um ícone de Brasília, ali foi formado um dos acervos mais importante do país em termos de arte contemporânea, uma pena que esteja nesse estado precário hoje", lamenta.
[SAIBAMAIS]A Secretaria de Cultura reconhece a necessidade da revitalização urgente do local. Segundo Ione Carvalho, subsecretária de políticas culturais do GDF, o orçamento só da reforma física do MAB gira em torno de R$ 10 milhões. Outro montante seria necessário para a adaptação museológica. Ela afirma que algumas medidas estão sendo tomadas pela secretaria. "Eu estava na inauguração do espaço, em 1985, saí do país por uns tempos e quando cheguei aqui, tomei um susto", lamenta Ione Carvalho. "Já fizemos o levantamento das necessidades de reforma e o processo está em licitação. O governador está tentando descobrir uma maneira de resolver a questão. As medidas estão em andamento, é um caminho que não tem mais volta", garante.
Fusão
Glênio Lima explica que uma das preocupações dos artistas da área é a descaracterização do MAB. No próximo dia 2 de setembro, uma audiência pública será realizada com a classe para decidir qual será o destino definitivo do museu. Uma das propostas levantadas é a fusão do MAB com o Museu Nacional. "Era uma proposta da secretaria de fazer a fusão dos dois museus. Essa audiência pode clarear um pouco e chamar a atenção do próprio governo. A gente trabalhou muito na parte do acervo, mas a parte conceitual ficou um pouco parada", observa.
Para Wagner Barja, diretor do Museu Nacional, a união das duas instituições iria resgatar a importância que o espaço tem para a cidade. "Estou tentando me isentar o máximo possível dessa movimentação para não parecer que estou puxando a brasa para o Museu Nacional", conta. "O fato é que a gente tem ali 20 anos de história preservadas no acervo. E o papel do Museu Nacional é prestar ajuda num momento desse. Agora existem propostas de mudança de perfil, que seja um museu escola, abrigue cursos, além de reserva e exposição. Tem que revitalizar aquele espaço porque ele é nosso, dos artistas", defende.
O diretor do Museu de Arte de Brasília, Glênio Lima, fala sobre a ligação afetiva que tem com o museu
Principais problemas
Estrutura
Construído pela equipe do arquiteto Oscar Niemeyer, o prédio hoje encontra-se em péssimo estado. Com pintura externa puída pelo tempo, tem a área ao redor do lugar tomado pelo mato. Dentro, é possível detectar paredes descascadas, janelas quebradas e enferrujadas, além de infiltrações em várias partes. A reserva técnica, localizada no subsolo do museu, apresenta forte cheiro de mofo.
Acessibilidade
O diretor Glênio Lima defende a criação de linhas exclusivas de ônibus da Rodoviária para o museu, num projeto similar ao oferecido pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Na parte interna do MAB, sugere a instalação de elevadores, que facilitaria o acesso, inclusive, de deficientes físico à parte superior.
Adaptação
Interditado pelo Ministério Público, o espaço só poderá receber exposição mediante adequação museológica, como climatização do ambiente, instalação de ar condicionado e equipamentos de segurança.
Soluções
Projetos
O projeto de revitalização do MAB traz como proposta a reforma física total do museu, assim como as adequações museológicas que permitam o recebimento e a conservação do acervo. O projeto também prevê a construção de um café, auditório e biblioteca. Uma das sugestões apresentada por um grupo de trabalho da Secretaria de Cultura é a parceria entre o MAB e o Museu Nacional. A ideia é que, com a criação do curso de museologia, o MAB se torne numa espécie de museu escola, com disponibilidade de cursos e programas educativos.
Iphan
O órgão disponilizou para o MAB verba de R$ 300 mil para cobrir novos projetos, que vão desde o restauro de 200 papéis (gravuras), passando pela restruturação estrutural como segurança, luz e compra de máquinas fotográficas, de projeção de computadores e inventário de obras. "Todos eles já estão no setor de licitação e temos até dezembro para concluir, já que tivemos de prorrogar o prazo duas vezes por inexperiência da secretaria de lidar com isso", afirma o diretor Glênio Lima.