Diversão e Arte

Lançar discos de graça via internet virou tendência entre bandas de Brasília

postado em 25/08/2009 07:20
Como ser ouvido por uma multidão? Dos anos 1950 ao início do século 21, essa pergunta sempre soou como um mistério para bandas iniciantes de rock. Quando ainda ditavam todas as regras do mercado, as gravadoras prometiam sofisticadas estratégias de marketing ; nem sempre certeiras. Hoje, na era do MP3 e da crise da indústria fonográfica, uma onda de roqueiros tenta decifrar por conta própria o enigma da popularidade. Nessa jornada, os independentes da cidade encontraram um aliado virtual: a internet. Cada vez mais a rede se consolida como uma vitrine eficiente (e, em alguns casos, poderosa) para as revelações do novo rock de Brasília.

Na cena da capital, um antigo tabu começa a ser derrubado: a necessidade de lançar CDs é colocada em xeque por uma geração de bandas que dá prioridade à divulgação pela web. (1) As mais ousadas abandonam completamente o formato tradicional. Club Silêncio e Nancy testaram e aprovaram o novo modelo de distribuição, ainda inovador. Elas lançaram álbuns exclusivamente na internet ; e de graça. A maioria, no entanto, adota o caminho do meio: permite que o internauta baixe gratuitamente os discos, mas produz um número reduzido de cópias de CD para fãs e para a imprensa. É o caso do The Pro, do Pedrinho Grana e os Trocados e do Tiro Williams. Mesmo nesses casos, a velocidade do MP3 reina sobre a velha bolachinha digital.

;No rock independente, o CD é encarado por muita gente apenas como um cartão de visitas;, observa o produtor e guitarrista Gustavo Bill. ;Hoje em dia, a banda tem que fazer tudo: tocar, produzir, gravar e investir no marketing. Quando você lança pela internet, tira um peso dos ombros. Fica muito fácil e rápido;, explica. No estúdio caseiro Macaco Malvado, Bill produziu álbuns de bandas como Pedrinho Grana e Tiro Williams. No dia a dia das gravações, ele nota que o CD ainda seduz os novatos. A prensagem do CD aumenta o custo do álbum em cerca de 40%. ;Elas chegam querendo gravar 12 músicas. Mas por que não gravar dois discos pequenos, de seis músicas cada, e lançar aos poucos na internet?;, sugere.

As novas experiências de divulgação, no entanto, mostram que os antigos formatos perigam cair rapidamente em desuso. As iniciativas do Móveis Coloniais de Acaju são exemplares. Desde o início da carreira, antes de conquistar um público fiel na cidade, a banda já lançava músicas de graça no site oficial. Ninguém precisou pagar nada para baixar o disco Idem, de 2005. Com o recente C_mpl_te, eles deram um passo mais largo: três meses antes de chegar ao mercado, o álbum já estava liberado gratuitamente no site da gravadora Trama.

[SAIBAMAIS]No projeto Álbum Virtual, o grupo se aliou a patrocinadores que arcaram com a gravação e a divulgação. Eles conseguiram, dessa forma, desatar um nó: para a maioria, ainda é inviável ganhar dinheiro com a web, que funciona como plataforma para shows. A banda ficou tão satisfeita com o processo que já pensa em novas formas de abastecer os fãs com novidades na rede. ;É impossível lutar contra a troca de arquivos na internet. Sempre soubemos disso. Na prática, as vendas do CD não foram alteradas;, observa o flautista Beto Mejía. O quarteto Club Silêncio considera o CD (2) um objeto obsoleto. Há dois anos, eles defendem a proposta de lançar e divulgar álbuns apenas na web. Já gravaram dois discos e pretendem finalizar um novo trabalho ainda este ano.

;No início, a banda não conseguia achar ninguém que lançasse o disco. Se pagássemos pelo CD, não daria para alcançar tanta gente. E sairia caro demais;, explica Luís Speedkills, que também se apresenta como DJ. No site oficial, o Club Silêncio mantém uma média de 200 a 300 downloads por mês. Um investimento a longo prazo. ;Tem gente até da Polônia ouvindo os discos. No primeiro disco, bateu um receio. Hoje, não mudaríamos nada. Existe o custo de gravação, mas é melhor gastar uma grana e alcançar muita gente do que mofar na prateleira. Nos shows, as pessoas pedem as músicas porque baixaram o CD. O músico independente está na chuva para se molhar;, comenta.

1 - Acesso livre
As bandas de rock brasilienses que lançam discos pela internet miram nas iniciativas de ídolos internacionais como Radiohead e Nine Inch Nails. Em outubro de 2007, o Radiohead distribuiu na web o disco In rainbows. Ao público, dava o direito à escolha do preço do CD (que podia ser baixado de graça). A novidade provocou um intenso debate sobre a morte do álbum e a livre troca de arquivos de música. Há duas semanas, o vocalista da banda inglesa, Thom Yorke, divulgou que eles pretendem lançar apenas compactos. Trent Reznor, do Nine Inch Nails, produziu em 2008 os álbuns Ghosts I-IV e The slip, distribuídos no site oficial com a opção de download gratuito. No Brasil, artistas como Wado e Tom Zé seguem a tendência.

2 - Em queda
Os CDs representaram 65% das vendas de música nos Estados Unidos no primeiro semestre de 2009, mas os downloads pagos estão crescendo cada vez mais e devem superar os CDs vendidos até o fim de 2010, segundo um estudo publicado ontem pela empresa NPD Group. ;Muitas pessoas ficam surpresas com o fato de o CD continuar sendo o suporte musical dominante, levando em conta a atenção dada à música digital e a diminuição das vendas de suportes físicos;, destacou Russ Crupnick, analista especializado na indústria do entretenimento na NPD. No primeiro semestre, iTunes, da Apple, reuniu 69% do mercado dos downloads pagos, deixando para trás a AmazonMP3 (8%).

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