Mais que decidir pelo lançamento de álbuns na internet, as bandas da cidade se preocupam com uma outra questão: como criar formas alternativas e baratas para divulgar música? Não há fórmulas. Apesar da intimidade com a web, o Móveis Coloniais de Acaju continua apostando no CD como uma forma de levar o trabalho da banda a um público que não tem acesso à internet. Vendem cerca de 30 unidades por show. Além do produto que chega às lojas, desenvolvem edições caseiras dos CDs, que são distribuídos para pessoas que não teriam condições de comprá-lo.
;Nós estamos arriscando. O mercado mudou, as pessoas não consomem música da mesma forma. É a pergunta do século: como as coisas vão estar funcionando no próximo ano?;, afirma Beto Mejía. A banda, que nasceu e cresceu em meio à crise da indústria musical, se sente confortável com o uso da tecnologia. ;Antes do C_mpl_te, pensamos em gravar apenas canções e lançá-las aos poucos. Na internet, podemos estimular o público a ter a ideia constante de que a banda está produzindo. Não perdemos nada com a rede. Por enquanto, só ganhamos;, afirma.
[SAIBAMAIS]A distribuição constante de novidades é um modelo que provoca interesse para a banda The Pro. Uma das boas revelações do rock local ; com influências de bandas estrangeiras da geração 2000, como Strokes e Franz Ferdinand ;, o quarteto já lançou dois compactos via internet, disponíveis no MySpace. O mais recente, de julho, será liberado para download no site Senhor F. ;Estamos compondo sempre. Lançar dois compactos por ano pode ser mais interessante que lançar um CD a cada dois anos;, afirma o vocalista e guitarrista Zé Mendes.
O plano do The Pro é gravar e lançar música até formar um conjunto consistente de canções que justifique um CD. ;Notamos que as bandas ainda estão lançando CD. Ele tem um peso na divulgação e funciona nos shows. Mas, no momento, lançar discos curtos nos parece mais viável;, admite. ;Nossa estratégia de marketing, por enquanto, é gravar canções excelentes;, afirma.
Prestes a lançar o primeiro álbum, o Tiro Williams segue uma linha de raciocínio parecida. O quarteto queria divulgar o trabalho apenas na internet. Mas acabou comprando 100 unidades de CD-R na Feira do Paraguai para vender o disco a R$ 5. Por quê? Nos shows, o velho CD ainda surte um ótimo efeito.
Praticidade
;Quando as pessoas veem a banda, acontece muito de quererem escutar nosso som. Já pensamos até em fazer cartões de papel com o endereço do MySpace, mas é mais prático vender o CD. E, se algum amigo pedir, a gente grava um CD para ele;, explica o vocalista Moraes.
Ainda assim, essa utilidade do CD não convence o Nancy. O sexteto colecionou elogios na imprensa estrangeira (em publicações como a Uncut e o The Guardian) bem antes de lançar o álbum virtual Chora, Matisse, em abril. Quando finalmente saiu, teve média inicial de mil downloads por dia.
As músicas do MySpace renderam convite para tocar no festival South by Southwest (de Austin, Texas) e contatos com dois selos. Mas as propostas não agradaram ao grupo, que preferiu a liberdade. ;Um dos selos era contra a distribuição gratuita de música na internet. Seria um tiro no pé. Queremos ser ouvidos pelo maior número de pessoas;, afirma o guitarrista João Paulo Praxis. Curiosamente, as músicas lançadas pelo MySpace renderam mais repercussão que o próprio álbum. Seria uma tendência? ;Não sei se existe um outro jeito. Ninguém sabe. Temos que experimentar para ver no que dá.;
; Na web
Móveis Coloniais de Acaju
A banda sempre encarou a web como aliada para se aproximar do público. Em 2003, lançou seis músicas no site oficial (www.moveiscoloniaisdeacaju.com.br). O download gratuito do álbum de estreia, Idem (2005), foi liberado logo depois do lançamento do CD. No segundo, C_mpl_te, eles foram além: três meses antes de chegar às lojas, o disco já podia ser baixado no site da Trama.
Ouça:
Nancy
A troca da arquivos por e-mail foi essencial para a criação da estreia do sexteto Nancy. O guitarrista João Paulo Praxis vivia no Rio de Janeiro e a vocalista Camila Zamith morava em Londres. Apesar da distância, compuseram juntos. O disco Chora, Matisse! foi lançado em abril exclusivamente via internet, num site de São Paulo, apesar de terem recebido convites de selos.
Ouça:
Tiro Williams
Prestes a lançar o primeiro disco, o quarteto de indie rock não pretendia prensar CDs. Mas resolveu fazer 100 cópias caseiras para vender (a R$ 5) nos shows. Ainda assim, a prioridade é a internet. No dia 30, o álbum inteiro estará disponível no site da Trama e, depois, no MySpace da banda. ;Na internet, é tudo mais fácil. O CD é apenas um cartão de visitas;, explica Moraes, vocalista e guitarrista. Ouça:
The Pro
O novo compacto da banda, uma das revelações do novo rock de Brasília, está disponível há uma semana no MySpace e será lançado para download gratuito no site Senhor F (www.senhorf.com.br). Ainda que aposte na internet como ferramenta de divulgação, a banda não minimiza a importância do formato físico ; principalmente para venda em shows.
Ouça:
Pedrinho Grana e Os Trocados
O ;supergrupo; Pedrinho Grana e os Trocados (formado por integrantes do Gramofocas, Sapatos Bicolores, Fuzzies e The Pro) lançou o primeiro disco, o A aurora do deicida, num pequeno site gratuito e independente. Num primeiro momento, foram gravadas apenas 50 cópias de CD. Pedrinho planeja gravar novas músicas e lançá-las na web. ;Deixei o CD físico totalmente para segundo plano. Nunca fui um grande comprador de disco. O importante sempre foi ter acesso a música;, diz Pedro.
Ouça: e
Club Silêncio
O quarteto tomou uma decisão radical: só distribui os álbuns pela internet. Nada de cópias físicas, no modelo tradicional. No site da banda, o download das faixas pode ser feito de graça. A meta é gravar um por ano ; até agora, foram lançados dois: Laissez-faire (2007) e Baladas modernas (2008). Este ano, querem entrar em estúdio para registrar novas canções. ;No início, a ideia dava um pouco de receio. Mas hoje aprovamos 100%;, afirma Luís Speedkills.
Ouça: