Fazer um panorama da juventude de um país pode levar décadas. Seria preciso criar centenas de categorias, consultar especialistas de áreas distintas como ciências humanas e exatas, estabelecer estatísticas. Isso, claro, se o mapeamento tivesse algum objetivo histórico ou científico. Mas o Ministério da Cultura da França encontrou uma maneira mais poética e imediata, sem compromisso científico mas com a mesma seriedade implicada nesse tipo de pesquisa. Contratou fotógrafos, comprou imagens de veteranos e abriu uma pasta com o propósito de mapear, em fotos, a juventude francesa.
O resultado é um arquivo gigantesco, capitaneado por Agn;s de Gouvion Saint-Cyr, inspetora de fotografia pelo ministério e guardiã da coleção na qual o brasileiro Milton Guran pesquisou para formar um conjunto capaz de traduzir aos brasileiros a diversidade dessa juventude. A mostra Ser jovem na França traz à Caixa Cultural um conjunto de 100 imagens realizadas pelos mais importantes nomes da fotografia naquele país, mas também por jovens artistas engajados em diferentes pesquisas de linguagem.
Guran montou a exposição em 2008 para celebrar o Ano da França no Brasil dentro do Foto Rio. ;O Estado francês, desde os primórdios da fotografia, tem a tradição de constituir coleções públicas. Eles se preocuparam em, na virada do milênio, constituir um documento para traduzir para o futuro o que era a juventude francesa naquele momento;, conta o curador.
Retrato
Assim como as imagens apresentam várias gerações de jovens franceses, o leque de fotógrafos selecionados para o projeto é também um retrato de gerações. Marc Riboud, Martin Parr e Marie-Paule N;gre representam o viés da tradição. Riboud, 83 anos, é hoje o mais antigo fotógrafo documental vivo da França que gerou Henri Cartier-Bresson e Robert Doisneau. Participou dos primórdios da agência Magnum, lendária por ser uma das primeiras no mundo a reunir um time excepcional de fotojornalistas na primeira metade do século 20.
Marie-Paule enfocou a juventude dourada, a elite francesa e Parr, um inglês ex-integrante da Magnum, direcionou suas lentes impiedosas para o consumismo das sociedades contemporâneas.
Um outro olhar vem de geração de fotógrafos ligada à linguagem contemporânea. Trabalhos como os de Ouka Leele, Marie-Jo Lafontaine e Yan Morvan ficam mais próximos da fotografia de arte. ;O que marca essa exposição é a diversidade de conteúdo e linguagem. Temos um arco abrangente do que pode ser uma juventude de um país democrático de Primeiro Mundo, com diversas classes sociais representadas, diversos ambientes e tribos, de jovens saudáveis até aqueles com necessidades especiais, além de diversas origens culturais e étnicas;, avisa Guran.
A seleção do curador não se baseou apenas no gosto pessoal ou no olhar crítico. Guran fez questão de incluir imagens capazes de traduzir diferentes vertentes das pesquisas em linguagens e uma sociedade diversificada. Conseguiu reunir 80% do que pretendia. A abrangência e importância da coleção são responsáveis por uma enorme demanda em museus de todo o mundo e parte das imagens cobiçadas pelo curador já estava emprestada para outras instituições.