Fazia cinco anos que Simone não lançava disco com músicas inéditas. O solo mais recente foi Baiana da gema, de 2004. Três anos depois, ela gravou Amigo é casa %u2014 Ao vivo, com Zélia Duncan. O show que deu origem ao CD e DVD foi apresentado no ano passado em BrasÃlia, no Auditório Máster do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Meio na surdina, a baiana, que antes de ser cantora foi craque do basquetebol, vinha dando tratos à bola na produção de Na veia, o álbum que acaba de sair pela Biscoito Fino. Nesse trabalho, pela primeira vez, há o registro de uma composição dela feita em parceria com um velho amigo, o poeta carioca HermÃnio Bello de Carvalho. Na veia traz canções inéditas de Adriana Calcanhotto, Erasmo Carlos, Marina Lima e Martinho da Vila. Ela inclui no repertório música do quase desconhecido Paulo Padilha, volta a gravar Gonzaguinha e Abel Silva (presença frequente em seus LPs iniciais) e recria um antigo sucesso do sambista Agepê. Como se observa, um CD com a marca registrada de Simone, que costuma passear, sem preconceito, pelo rico universo da MPB. Simone, aliás, busca deixar explÃcita a proposta do Na veia. "É um trabalho feliz, para cima, que fala do amor em todas as suas formas, jeitos e maneiras." E foi pensando nisso que ligou para os compositores que lhe enviaram canções. Alguns receberam visita da intérprete que, a viva voz, disse a eles o que estava querendo cantar. Paulo Padilha, o autor de Love, a canção que abre o disco, lhe foi apresentado pelo pesquisador e escritor Rodrigo Faour, via CD independente. "Rodrigo mandou um disco do Paulo para mim e adorei essa música desde a introdução, uma coisa com linguagem paulista", conta. "Os compositores que procurei me mandaram canções amorosas, como eu queria, com um enfoque mais amplo", acrescenta. E o amor chegou pelas mãos de compositores - em sua maioria - já gravados pela cantora. Adriana Calcanhotto compareceu com duas, Definição da moça (em que que musicou um texto de Ferreira Gullar) e Certas noites, feita em parceria com Dé Palmeira (ex-Barão Vermelho), que diz num dos versos: "Certas noites eu sou do samba/ Eu sou da orgia/ Nessas noites você não me encontra, meu bem/Nem dentro da lei%u2026" Quem também marca presença com duas composições é Erasmo Carlos. "Liguei para o Erasmo pedindo uma música, mas como sei que ele é muito ocupado, imaginei que demoraria para me dar uma resposta. Dez dias depois ele retornou a ligação já com duas canções prontas: Migalhas, para a qual fez letra e música; e Hóstia, em que tem Marcos Valle como parceiro. Foram dois presentes maravilhosos", elogia. De Marina Lima, Simone recebeu Bem pra você (também com Dé Palmeira), uma canção crua (violão e voz) que ela retrabalhou ao lado de Rodolfo Stroeter, com quem divide a direção musical. Coautor de Jura secreta (o primeiro grande sucesso da cantora), Abel Silva assina, ao lado do cearense Nonato LuÃs, uma das inéditas, Pagando pra ver. "Abel me ligou e falou: 'Minha estrela, tenho um blues feliz para você'. Fiquei curiosa e me enchi de alegria ao ouvi-lo", comenta. Outra inédita é Na minha veia, belo samba de Martinho da Vila e Zé Catimba, do qual foi extraÃdo o tÃtulo do disco. Também são sambas duas das três regravações de Simone: o popularÃssimo Deixa eu te amar (Agepê, Ismael Camillo e Mauro Silva) e o clássico Ame (Paulinho da Viola e Elton Medeiros). "Essa música do Paulinho é tudo o que eu acho e acredito do amor", afirma. Há, ainda, a releitura de Geraldinos e arquibaldos, um lado B de Gonzaguinha. Vale a pena tentar marca a estreia de Simone como compositora. "Fiz a melodia e a letra há muito tempo e guardei. Aà pedi para o HermÃnio (Bello de Carvalho) terminar o texto. Achei que era hora de gravá-la", revela. No dia 18 de setembro, a cantora inicia, no Canecão (Rio), a turnê de Na veia, que a trará no começo de outubro a BrasÃlia. Ouça trecho da música Certas noites NA VEIA Disco da cantora Simone, produzido por Rodolfo Stroeter. Lançamento Biscoito Fino, 12 faixas. Preço médio: R$ 32,90. CrÃtica - Bem-vinda simplicidade Rosualdo Rodrigues As fotos de Simone na capa e no encarte de Na veia, descalça e de figurino despojado, traduzem a leveza e simplicidade do disco, ressaltadas, principalmente, nas novidades que driblam a previsibilidade de sambas e baladas melancólicas - habituais no repertório da cantora - e na produção de Rodolfo Stroeter e da própria Simone - que privilegia uma sonoridade limpa, desprovida de grandes enfeites, como arranjos de cordas, programações mais rebuscadas ou coisa parecida. As tais novidades abrem de cara o disco. Na veia começa com duas boas surpresas, o suingado jogo de palavras de Love (Paulo Padilha) e Certas noites (Dé Palmeira e Adriana Calcanhotto). É também de Calcanhotto outro dos melhores momentos do disco, Definição da moça, inconfundÃvel melodia da compositora sobre texto de Ferreira Gullar. E Simone surpreende ainda ao interpretar compositores que marcaram presença em outras fases de sua carreira. Gonzaguinha reaparece renovado no arranjo meio mambo de Geraldinos e Arquibaldos e Abel Silva comparece com o ótimo blues Pagando pra ver (parceria com Nonato LuÃs). No geral, um disco acima da média na irregular discografia da cantora.