Diversão e Arte

Indústria da moda do Brasil começa a ganhar o mundo

Flávia Duarte
postado em 30/08/2009 09:00

A moda é uma incógnita para muitos brasileiros. Alguns consideram pura futilidade as regras de um mercado que incentiva o consumidor a trocar as roupas do armário a cada seis meses. Outros acham que os desfiles são coisa de maluco. E que os estilistas só levam às passarelas peças que ninguém usaria na rua. Mas a moda é mais que isso: é um produto direto da cultura de um país e movimenta uma indústria bastante próspera, com forte geração de empregos.

Embora incipiente, a cultura de moda brasileira avança a passos largos. Pesquisa anual realizada pelo Global Language Monitor (empresa que monitora as palavras mais buscadas na mídia e na internet) aponta São Paulo como uma das 10 cidades mais influentes para o mercado mundial de moda, ao lado de Nova York, Paris e Milão. Nos anos anteriores, a capital paulista não havia ultrapassado a 33; posição do ranking. A mudança se explica, em parte, pela consolidação de um calendário fashion no país, que oxigena a produção e dá visibilidade às marcas.

;Os estilistas brasileiros ; e me incluo entre eles ; entenderam que não dá para copiar a moda que vem de fora. O Brasil tem sua identidade e não adianta trazer o pensamento europeu para cá;, comenta o mineiro Renato Loureiro, um dos expoentes do chamado Grupo Mineiro de Moda, surgido nos anos 1970. Ele desfilou na primeira edição da São Paulo Fashion Week, em 1996, participou de 20 edições e acredita que a semana de moda paulista é um divisor de águas no cenário nacional.

Segundo Loureiro, nos primórdios do evento, nem os próprios estilistas entendiam muito bem o que estavam fazendo. A imprensa também permanecia alheia ao que era apresentado. Isso mudou. Hoje, por exemplo, mais de 2 mil jornalistas de todo o mundo estão credenciados para cobrir a SPFW.

A mentalidade dos fashionistas locais também mudou consideravelmente nos últimos anos, com uma aposta maior nas cores quentes, na alegria e sensualidade que marcam nossa identidade. ;A criatividade é uma característica inerente ao nosso trabalho. É isso que os compradores de fora querem do Brasil;, defende Rafael Cervone Netto, diretor executivo do Programa Texbrasil, que prepara as empresas do setor têxtil e de confecção para exportarem.

;No Brasil, ainda não existe uma cultura de moda. Não temos tradição se comparada aos países europeus;, define a jornalista Dinah Bueno Pezzolo, que acaba de lançar o livro Por dentro da moda ; definições e experiências. Para ela, pelo menos até a década de 1990, os fashionistas locais simplesmente copiavam o que estava em voga no Hemisfério Norte. Resultado: muitas brasileiras viravam vítimas da moda, ostentando botas e tricôs em pleno verão tropical.

Mais otimista, o estilista Reinaldo Lourenço aposta no amadurecimento do público. ;O brasileiro está mais conectado com a moda. Estamos formando uma cultura de moda, que inclui desde os meios de comunicação até o consumidor final;, avalia o estilista, que acaba de criar uma coleção exclusiva para a C. ;A ideia é oferecer uma moda democrática, para aqueles que me consideravam inacessível.;

Moda em alta

Os compradores estrangeiros estão de fato cada vez mais interessados nas roupas e acessórios produzidos por aqui. A Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), responsável pelo Projeto Comprador, que ocorre paralelamente à SPFW, trouxe 35 compradores internacionais na edição de junho. Segundo a Agência, o número de pré-pedidos foi 25% maior do que na edição passada. Quem mais comprou a moda brasileira foi o Oriente Médio e a Índia.

;O comprador quer produtos que fujam da massificação. São atraídos pelas matérias-primas naturais, pelas interferências manuais nas peças e pela sustentabilidade na produção;, comenta Rafael Netto, da Texbrasil.

Lá fora, o Brasil se destaca pela moda festa, praia e lingerie. As matérias-primas naturais, como palhas e sementes, chamam a atenção no exterior. Na última Capital Fashion Week, em Brasília, foi apresentada a Coleção Talentos do Brasil ; Mãos que (re)fazem o mundo, uma síntese do trabalho de 2 mil artesãos de 13 estados brasileiros, reunidos em 15 grupos, que transformam as belezas naturais do Brasil em acessórios e roupas fashion. De 4 a 7 de setembro, a coleção será apresentada no Salão Prêt-à-Porter em Paris.

Os artesãos fazem parte do projeto Talentos do Brasil, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e que, desde 2005, une designers e estilistas de renomes aos artistas locais para produzir peças genuinamente brasileiras.

Ouça entrevista com a estilista Juliana Lima, que trabalha há 5 anos na equipe de Giorgio Armani, na Itália

Leia matéria completa na edição deste domingo do Correio Braziliense

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