Por que fazemos amor de luzes apagadas? Há quem diga que seja por timidez ou para ocultar imperfeições do corpo. Mas a verdade pode estar escondida em um vasto e desconhecido território: o campo das fantasias sexuais. No escuro, a cabeça passeia ao sabor do imaginário, faz com que celebridades se excitem com nossa presença, nos permite realizar taras inconfessáveis.
Durante 25 anos, o psicanalista britânico Brett Kahr se manteve atento a relatos para tentar entender os limites da mente quando o tema é sexo. Ele é especialista em terapias de casais, em que a cama acaba sendo uma das principais queixas. Muitas delas, provocadas pela falta ou excesso de coragem de quem quer trazer para a prática o que o desejo inspira. Além dos casos de consultório, Kahr usou questionários anônimos para saber o que excita os ingleses. Totalizou nada menos que 19 mil fantasias sexuais, que vão das cenas mais apocalípticas à simples vontade de passar um fim de semana longe dos filhos. Está tudo registrado, com detalhes que fariam corar Calígula, em O sexo e a psique (Ed. Best Seller).
Democráticas, as fantasias sexuais atingem e perturbam qualquer classe econômica, etnia, religiosidade ou orientação sexual. Um fechar de olhos é suficiente para que o inconsciente fale mais alto, tome as rédeas do pensamento e nos conduza a locais onde nunca ousaríamos pisar. Geralmente é na masturbação que a fantasia ganha voz, faz-se presente e nos revela o lado sombrio da sexualidade. Para a maioria das pessoas, é o suficiente. A fantasia, guardadinha na cabeça, acaba sendo algo mais produtivo e excitante do que quando é levada à prática.
Kahr defende que é justamente o medo da interpretação dos outros que faz com que a maioria das pessoas sufoque as fantasias. Ele calcula que menos de 5% dos pacientes relatam as taras secretas em sessões de terapia. De tão íntimos, julgamos que tais pensamentos não devem ser compartilhados com ninguém, nem mesmo com o cônjuge de vários anos ou o melhor amigo. O silêncio, no entanto, não pode ser confundido com a ausência de fantasias. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, dizia que elas são fundamentais no exercício da libido, do tesão ; seja entre quem tem ou não parceiros sexuais. Na mente, a infidelidade é pra lá de permitida. Não foi à toa que ele disse que ;cada ato sexual é um processo no qual quatro pessoas estão envolvidas;. Freud acreditava que a fantasia é remanescente de experiências da infância ou fruto da insatisfação.
O Correio perguntou
Por duas semanas, mais de 4,2 mil internautas acessaram o site www.correiobraziliense.com.br e responderam a uma enquete sobre as fantasias sexuais mais recorrentes.
46%
Imaginam o sexo com os parceiros convencionais, só que em situações especiais
23%
Querem transar com bombeiros, enfermeiras e outras classes que usam uniformes.
21,1%
Desejam cenários especiais.
9,86%
Fantasiam sexo com celebridades.
Trechos do livro O sexo e a psique (Ed. Best Seller), do psicanalista britânico Brett Kahr, com as fantasias sexuais de algumas pessoas:
Bonny
Fazer sexo em um carro quando uma viatura policial aparece e os policiais transam comigo também.
Ottoline
Fazer sexo com meu namorado enquanto meu ex-marido e sua mulher estão por perto.
Santiago
Ir a uma boate. Pego uma mulher muito peituda e a levo para casa. Depois, descubro que é um transexual.
Chandra
Houve um desastre de avião no deserto. Sou atirada do avião e estou inconsciente. Acordo em uma palácio. Dizem-me que estou recebendo cuidados, mas na verdade sou mantida prisioneira sexual de um príncipe.
Freya
Imagino que meu namorado tem um irmão gêmeo, que vai para a cama comigo. Sei que ele não é meu namorado, mas finjo que é.
Everett
Gosto de imaginar que sou um médico responsável por um hospital presidiário e por despir e examinar os pacientes.
Pedro
Sou um lacaio do Palácio de Buckingham. Um dia, sou solicitado a levar duas jovens e bonitas empregadas até a sala do trono, onde os príncipes William e Harry esperam. Eles mandam que eu as debruce sobre o trono e depois levante suas saias. Depois, devo desabotoar as calças dos príncipes e masturbá-los. O príncipe William diz: "Obrigado, Pedro, por seu serviço leal à Coroa".
Fern
Pensar sobre fazer sexo com um estranho de cabelo escuro, um homem muito mais jovem que eu, enquanto meu marido está ausente e estou esperando que ele chegue a qualquer momento.
Shelby
Chegar desavisado em uma festa para homossexuais. Ter uma conversa inocente com outro homem em um quarto ou sala, onde há outros homens que se esfregam e fazem preliminares. De repente, um grupo de homens me agarra e me despe. Luto com eles, mas no fundo não quero realmente que eles me larguem.
Natalka
Fazer sexo com o fantasma de Elvis e ser flagrada pelo meu marido.
Arabella
Ser uma socialite rica dando uma festa de sexo ao redor da piscina, na costa da Espanha.
Hugh
Shorts de cetim. É com isso que fantasio. Vou a uma loja no Soho que os vende e onde todos me conhecem. Adoro entrar e experimentar todos os tipos diferentes nas cabines. Uma das coisas mais constrangedoras é que são muito apertados e, quando os experimento, fico tão excitado que fica difícil enfiar o pênis dentro deles. Compro um, vou para casa e me masturbo. Não penso em ninguém específico, somente nos shorts. Sou casado, tenho quatro filhos e uma excelente vida sexual. Ela não sabe nada sobre os shorts.