postado em 01/09/2009 07:58
O Clube do Choro não sente o cheiro de maresia que cobre Caraíva, povoado ao Sul da Bahia. No entanto, o produtor francês e dono do Bar do Porto, Daniel Vangarde, desfilava exultante na sala brasiliense como se estivesse a alguns palmos do mar aberto. De caipirinha na mão, o apaixonado por música brasileira não via a hora de os seis instrumentistas, que se conheceram na vila paradisíaca, começassem a levantar a energia praiana que o deslumbrou em pleno cerrado.; 50% é dinamismo, 50% é música, avisa Vangarde.
Assim que Dudu Maia, Alex Souza, Juninho Billy Joe, Fábio Luna, Alexandre e Douglas Lora soaram os primeiros acordes de Noites cariocas, de Jacob do Bandolim, as projeções estatísticas de Vangarde se fecharam em matemática perfeita. Caraivana, grupo que se apresentou ao vivo somente em Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, é mesmo a combinação de choro-samba de primeira grandeza com vibração emanada pelos seis amigos, que se conheceram nesses verões inesquecíveis à beira-mar.
A história do Caraivana é permeada pelo ;puro prazer; musical. A liberdade de escolher o parceiro para tocar, de criar em conjunto os arranjos, de buscar o repertório comum e de dividir o sentimento de amizade. O grupo é formado por músicos donos de trajetórias particulares, mas com musicalidade cheia de interseções. O choro e o samba, sobretudo. Na vila de Caraíva, o encontro era livre como uma jam session, sem ensaios e nem quebra-cabeças para encontrar a batida perfeita.
; No máximo, durante o café da manhã, a gente levava um som, mostrava algo que pensou, conta o brasiliense Alex.
No Bar do Porto, a espontaneidade era marca das rodas de choro, com cervejinha, tira-gostos e uma fugida rápida para cair n;água. Daí, vem um repertório delicioso, que é combinação dos desejos de cada um. Noel Rosa, por exemplo, é paixão de Alex Souza, enquanto Sivuca, uma referência de mestre para o carioca Fábio Luna que o acompanhou em turnês. O choro e seus mestres estão na base do trabalho do também brasiliense Dudu Maia, em tempos de estudo no Clube do Choro. Cabem ainda na sonoridade do Caraivana, Jacob do Bandolim, Edu Lobo, Pixinguinha e Ary Barroso.
Com o instrumento em punhos e o calção de banho, um músico foi se apresentado ao outro. Dudu Maia e os irmãos paulistas Douglas e Alexandre Lora chegaram primeiro e formaram o Trio Caraíva, que se apresentou na França. Depois, Alex Souza e Fábio Luna vieram. Expert em forró, o baiano Juninho sempre estava por lá para dar uma canja. Por cinco verões consecutivos, eles brincaram, misturam e chegaram ao ponto que beira à harmonia completa.
; Foi no verão de 2008 que a coisa aconteceu de verdade. Foram 37 shows em 40 dias de Caraíva, lembra Fábio Luna.
; Daniel Vangarde então convidou para gravar o disco em São Paulo, emenda Alexandre.
; A gente saiu de lá com gravação para dois CDs e um DVD ainda inédito, completa Dudu Maia.
[SAIBAMAIS]Separados pela distância, Alex e Dudu (Brasília), Douglas (São Paulo), Fábio (Rio), Alexandre (Barcelona) e Juninho Billy Joe (Caraíva), eles saíram em caravana agora para lançar o disco (o DVD está na manga). Como todos têm intensa carreira paralela, devem se encontrar para shows no fim de ano e, claro, no verão baiano. Daniel Vangarde faz planos para a Europa. Os músicos torcem e esperam que a agenda do Caraivana se torne um ;bom; problema na vida do sexteto.
CARAIVANA
Disco de estreia do grupo. Produção Daniel Vangarde. Delira Música. 13 canções. Informações: www.caraivana.com.