postado em 01/09/2009 09:25
Depois do sucesso mundial da cantora Susan Boyle, não havia mais dúvidas da popularidade dos reality shows musicais. A estratégia é idêntica a anteriormente utilizada com Paul Potts, o tenor amador que encantou o Reino Unido com a interpretação de Nessun dorma, de Puccini. É a mesma estratégia com a cearense Lívia Mendonça, em Ídolos (nesta terça e quarta, às 23h, na Record). A garota surpreendeu duplamente: pela voz, parecida com Maria Bethânia e pelo fato der um travesti. Mesmo ainda na disputa pela classificação, Lívia já é um merecido sucesso no YouTube
Nesse mundo onde tudo é produção e planejamento, sempre surge alguém que reafirma o caráter plural e democrático de um bom programa de calouros, do qual esses reality shows são descendentes diretos. Calouros em desfile foi um dos mais conhecidos na era de ouro do rádio brasileiro, comandado pelo compositor Ary Barroso. Num deles, surgiu uma moça magérrima enfiada em um vestido três vezes maior que ela. Ary, um carrasco com os candidatos, fulmina e pergunta de que planeta era ela. %u201CDo planeta fome%u201D, a menina responde. Elza Soares acabava de nascer.
Sem saudosismo, a despeito de alguns bons cantores, aparentemente não surgiu nos reality shows do Brasil nenhum grupo ou intérprete com o mesmo carisma e talento de uma Elza Soares. Nos Estados Unidos, o American idol %u2014 criado pelo empresário das Spice Girls, grupo de cantoras de sucesso no milênio passado %u2014 chegou até a lançar novos nomes no mercado. Todos sem personalidade musical.
No Brasil, também há gente talentosa, mas a seleção valoriza coisas tão óbvias quanto o pop-rock Dois lados, de Rafael Barreto, vencedor do Ídolos do ano passado. Por isso, a aposta em Lívia Mendonça é uma ousadia. Musicalmente, Ídolos não tem realmente muito a oferecer. É uma continuação do mesmo perfil que há duas décadas as gravadoras multinacionais pavimentam no Brasil, a despeito dos rombos cada vez maiores com as cópias piratas e os novos circuitos de distribuição musical. Mas a simpatia de Rodrigo Faro como apresentador e a bem temperada mistura dos dois produtores Marcos Camargo, Luiz Calainho e a cantora tornam o programa em um espetáculo dinâmico. O modelo internacional foi bem aclimatado e tem uma cobertura dos bastidores mais eficiente que Astros, do SBT.