Diversão e Arte

DJs de Brasília usam a criatividade para aquecer a pista e se destacar na noite

postado em 03/09/2009 08:00
Na cartilha do DJ, algumas qualidades nunca saem de moda: dedicação, carisma e conhecimento musical são algumas delas. Mas existe uma virtude, também indispensável, que encontra-se especialmente em alta no ramo ; o jogo de cintura. Na era do MP3, qualquer um pode organizar com rapidez um repertório com potencial para esquentar as pistas. Com isso, aumenta a concorrência num mercado que, apesar de aquecido, ainda não se livrou de antigas dificuldades. A rotina de alguns dos mais badalados DJs de Brasília revela que a diversão faz parte do negócio ; mas o trabalho duro e as preocupações superam o glamour. ;Nas festas, vemos pessoas que não conhecem muito de música, não estudam, não sabem usar equipamento ou mixar. Ou seja: que não são DJs;, observa Lauro Montana, 30 anos. Na noite, no entanto, existe uma seleção natural que diferencia os DJs mais queridos daqueles que ainda se sentem um tanto desconfortáveis sob o holofote. ;Tem que ter feeling, olhar para a pista e observar o público. O DJ toca música para os outros, não para ele mesmo;, resume. Desde 1997, Montana ajuda a definir a trilha sonora das festas de rock de Brasília ; uma onda que, hoje, está consolidada na madrugadas da capital. No período de uma década, Brasília não passou à margem de transformações que incidiram diretamente no dia a dia dos DJs. ;Quando comecei a tocar, havia casas mais temáticas. Com o passar do tempo, o público mudou radicalmente. Tivemos que acompanhar essas mudanças. O DJ sempre foi um ser meio nômade;, define. Montana, que toca numa média de quatro festas por mês, critica os paradoxos da cena brasiliense. ;A estrutura está melhor, há DJs excelentes. Eu toco mais do que tocava antes. Mas ainda é difícil manter casas noturnas, por exemplo. São velhos problemas;, comenta. Um detalhe não mudou: ainda é impossível viver exclusivamente desse ofício. Os cachês para DJs de rock oscilam entre R$ 100 e R$ 150. No início dos anos 1980, porém, as complicações eram ainda maiores. Autoridade da black music candanga, o DJ Chokolaty começou cedo, aos 10 anos, tocando em festinhas. ;Antigamente, ninguém tinha equipamento, dinheiro. Quem se mantém na ativa desde o início dos anos 1980 é guerreiro;, afirma. Aos 40 anos, ele continua vivendo em Ceilândia, mas expandiu as atividades: dá aulas, produz, apresenta um programa de rádio (na Cultura FM, sábados às 18h) e um de tevê (quartas às 18h30, transmitido via internet em www.yestv.com.br), além de se apresentar em cerca de oito festas por mês. Sempre com vinil. ;O som não mudou. Minha linha é para dançar, e sempre foi. Posso misturar um som novo com um James Brown. As pessoas gostam;, diz. O tempo trouxe algum prestígio para os DJs. ;Hoje, tocamos cerca de 30 minutos, uma hora e meia. Antes, tínhamos que segurar a festa inteira, das 21h às 6h;, lembra. ;Mas para quem começa é mais difícil. Muitos produtores de festas preferem chamar o amigo, que toca de graça, a investir num bom DJ;, critica. Fernando Cunha, que abriu a Blush Produções há três anos, concorda que o tempo é de competitividade. Na função de produtor, organiza festas concorridas em inferninhos. Como DJ, transforma a mesa de som em palco para uma performance imprevisível e alegre, ao som de rock e pop sem preconceitos. ;O trabalho do DJ ficou mais complicado. Às vezes você pensa que vai surpreender o público e acaba surpreendido. As pessoas conhecem as novidades com uma velocidade imensa e, por isso, o mercado está muito competitivo. Há muitos DJs, por isso os cachês ficam mais baixos;, observa Fernando, 28 anos. Para ele, a cena de Brasília tem uma peculiaridade que a diferencia de todas as outras: a irreverência. ;O DJ é mais pop, mais aberto a ouvir e a assimilar cultura pop. Ele mistura tudo. As pessoas que vêm de fora até se surpreendem. Ele merece reconhecimento artístico. Não é só apertar o play;, provoca. ; Músicas que não podem faltar no set de... CHICCO AQUINO - Superstition ; Stevie Wonder (U-Tern & Neighbour Remix) - Keep the Funk alive ; Bootsy Collins - Superbad ; Pitch & Scratch - Get Up ; Hot 8 Brass Band (Diesler Remix) - Super Funk ; DJ HUM FERNANDO CUNHA - Tear You Apart ; She Wants Revenge - I;m So Sorry ; Morrisey - Rock an Roll All Nite ; Kiss - Do You Want To ; Franz Ferdinand - Here It Goes Again ; Ok GO ; Pesquisar novidades e criar os próprios sons são estratégias dos DJs da cidade para se diferenciar no mercado com profissionalismo O DJ de mil e um talentos tornou-se uma figura comum na cena de Brasília. Entender de música e conhecer a técnica são requisitos mínimos numa área que valoriza o profissional com ;algo mais;. Para buscar essa tal identidade, os DJs recorrem às mais diferentes estratégias. Duas delas se impõem como tendências: a pesquisa aprofundada de sons e a aposta no trabalho autoral. Chicco Aquino, 33 anos, envereda pelos dois caminhos. Produtor e baixista, ele faz de cada set um laboratório de ritmos africanos, com forte base de soul e hip hop. Com a banda Piramidi, exercita a composição. Agora, experimenta um novo desafio: criar as próprias músicas para tocar na noite. ;É importante sempre procurar uma forma de evoluir como DJ, ter desejo por ousadia;, afirma. Para o ex-integrante da banda Ha-Ono-Beko, o mercado vai filtrar os DJs que têm um trabalho diferenciado. ;Se a pessoa tem uma pesquisa musical, tudo bem. O importante é ser original dentro daquilo que se faz.; O DJ de eletrônica Allan Villar trabalha, como diz, numa correria sem fim. Dedica todo o tempo à tarefas como pesquisar música, conversar com produtores, enviar sets. E criar as próprias músicas. ;Ser produtor ajuda bastante no nome. As pessoas valorizam mais;, avalia. Com os cachês, paga algumas contas. Maduro, já ensina: ;É só aprender a administrar o dinheiro porque tem altos e baixos. Você não recebe no final do mês.; [SAIBAMAIS]Allan tem somente 19 anos. Uma juventude que esconde a ascensão rápida como DJ e produtor. Em quatro anos de atividade, até já experimentou a vivência em outra cidade. Passou dois meses e meio em Belo Horizonte para tocar e lecionar. Sobre a cena do DF, nota o excesso de DJs. ;Tem muito DJ pra pouca festa. É difícil as pessoas valorizarem. Tem aqueles que tocam há 10 anos mas é uma m; e o cachê custa R$ 5 mil. Outros tocam há 2 anos, são produtores, lançaram disco na Europa, e as pessoas valorizam pouco. É tudo marketing. Quem você vai botar festa? Quem tem nome;, observa. No reino dos mashups, a arte é híbrida. Nasce com a combinação de elementos de canções conhecidas. Com uma pitada de Beatles e outra de LCD Soundsystem, vem ao mundo um rock funkeado. Essas e outras criações estão no set de Leonardo Bursztyn. Ex-guitarrista do Móveis Coloniais de Acaju, ele é uma das revelações mais interessantes das pistas brasilienses. O segredo? O efeito-surpresa. Enquanto faz doutorado em Harvard, universidade próxima a Boston, o economista de 27 anos cria uma mistureba inusitada que apresenta em casas noturnas de Brasília e do mundo. Por muito tempo, mashup foi confundido com pirataria. Mas geniozinhos como Danger Mouse e Girl Talk ensinaram ao mundo pop que o gênero pode funcionar como um divertido (e criativo) playground de gêneros e sonoridades: um trabalho autoral feito com os cacos da arte alheia. ;O mashup é uma tendência mundial que felizmente está pegando em Brasília. Um ano atrás poucos DJs tocavam mashups em seus sets na cidade. Hoje em dia, na maioria das festas em que você vai, você acaba ouvindo sempre um mashup ou outro. A coisa tá começando a pegar;, avalia. » Assista aos vídeos de Faroff e Chokolaty



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