Diversão e Arte

Especialistas apontam acertos e erros de Caminho das Índias

postado em 03/09/2009 14:13
Caminho das Índias só chega ao fim no dia 11, mas já é possível apontar o que emplacou e o que não deu muito certo na história de Gloria Perez. Para isso, a reportagem ouviu a opinião de especialistas e de atores da trama, que comentaram sete elementos que conquistaram o telespectador e sete pontos que acabaram se perdendo literalmente no meio do caminho. O casal formado por Maya (Juliana Paes) e Raj (Rodrigo Lombardi) se tornou o favorito de grande parte dos telespectadores. Se no começo era Bahuan (Márcio Garcia) quem assumiria o papel de galã, o posto foi aos poucos sendo conquistado pelo filho de Opash (Tony Ramos). "O Rodrigo Lombardi conquistou uma grande empatia do público e isso delineou a história. O Raj tem o estereótipo da família certinha, de marido apaixonado e de pai de família responsável. Bem diferente do que se apresentou o Bahuan, que largou a mocinha para ir atrás do seu sonho", afirma Claudino Mayer, especialista em televisão e pesquisador da USP. Para ele, o ator Márcio Garcia foi mal escalado para a trama. "Não convenceu de que poderia ser um galã", diz. Já Nilson Xavier, autor do livro Almanaque da teledramaturgia brasileira, acredita que a culpa pela falta de brilho de Bahuan seja da própria autora da novela. "Como faltou química entre ele e Maya, a Gloria o afastou da história da mocinha". Longe dos conflitos indianos, mas não menos importante, a fogosa Norminha (Dira Paes) caiu no gosto dos telespectadores e garantiu leveza à trama. O sucesso da infiel mulher de Abel (Anderson Muller) foi impulsionado pelo ritmo envolvente do forró Você não vale nada, mas eu gosto de você, da banda Calcinha Preta. "O que fez a Norminha ter esse destaque foi uma mistura de ingredientes. O público se identificou com a brasilidade do cotidiano do casal", acredita Dira Paes. Se a música se tornou um hit, os bordões dos personagens do núcleo indiano %u2013 como "are baba" ("ai, meu Deus"), "baguan keliê" ("ô, meu Deus") e "atchá" (expressão de satisfação) %u2013 invadiram o cotidiano dos brasileiros e agradaram. Esquizofrenia Como já é marca registrada sua, Gloria Perez aproveitou Caminho das Índias para abordar mais um tema de cunho social. Se em O clone a questão era a dependência química e as suas consequências, desta vez a esquizofrenia ganhou espaço por meio de Tarso (Bruno Gagliasso) e de Ademir (Sidney Santiago). "Os depoimentos mostrados foram importantes para entender o assunto", avalia Nilson Xavier. Maldades e esquecidos Sem a presença de vilãs sob os holofotes dos núcleos principais %u2013 a exemplo de Flora (Patrícia Pillar, em A favorita)- , Caminho das Índias teve Yvone (Letícia Sabatella) e Surya (Cléo Pires) nos papéis de megeras. "Elas têm traços de grandes vilãs da TV", diz Mayer. "A trama que envolveu Yvone e Raul (Alexandre Borges) fisgou a atenção do público. A vilã dissimulada com charme patológico, e ele, o homem bobão se deixando seduzir por uma pilantra, mostraram uma interessante mudança de identidade do personagem", acrescenta Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana pela USP. Como costuma ocorrer nas tramas com muitos personagens, nem todos terão o destaque de Maya, Raj e Bahuan nos capítulos derradeiros da história. Não é difícil lembrar de alguns núcleos que deixaram a desejar. Qual a história de Berê (Silvia Buarque)? Qual foi realmente o papel de Pandit (José de Abreu)? "Are baba%u201D. Parte do elenco acabou esquecido por Gloria Perez. Embora seja algo normal em novelas %u2013 "não dá para dar o mesmo destaque para todos%u201D, diz Claudino Mayer %u2013, alguns personagens terminarão a novela sem mostrar a que vieram. Aposta no núcleo cômico, Betty Gofman (Dayse) perdeu destaque com a entrada de Marcius Melhem (Radesh). A atriz, porém, prefere dizer que Dayse obteve a simpatia do público. Outro "esquecido%u201D foi José de Abreu. "O Pandith não cresceu, mas acho que a proposta era essa mesma. A trama principal da Índia era da família de Opash%u201D, afirma. "Algumas dessas histórias não foram para a frente, como a da gravidez da Ruth (Cissa Guimarães), que começaram a ser desenvolvidas muito tarde%u201D, finaliza Mayer.

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