Diversão e Arte

Cada vez mais espaços culturais abrem agenda exclusiva para a meninada descobrir o mundo das artes

Nahima Maciel
postado em 04/09/2009 07:50
Visita ao Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco), que mantém um projeto de capacitação de professores desde 2006Os dirigentes dos espaços culturais de Brasília são unânimes em afirmar que mais de 60% de seu público consiste em crianças, jovens e adolescentes. Esses visitantes não chegam às galerias espontaneamente. Seguem uma trilha organizada especialmente para recebê-los e cujo início está, na maioria das vezes, na iniciativa do próprio espaço cultural. Todo museu ou galeria de grande porte da cidade conta com o que chamam de ;educativo;, um departamento consagrado a conceber e colocar em prática um sistema capaz de tornar as exposições de arte ou históricas mais acessíveis ao público de modo geral e às crianças em particular.

Tais programas disponibilizam ônibus e mediadores para transportar e acompanhar os pequenos visitantes às exposições. São concorridos, a demanda é grande e costuma partir de escolas públicas e particulares. ;É difícil agendar porque é muito cheio e, às vezes, acaba até o material;, diz Marinês Rezende, professora da Escola Classe 64 da Ceilândia. Somente esta semana, ela conseguiu marcar uma visita de sua turma de 5; ano de ensino fundamental para conhecer a exposição A linha e o sujeito, em cartaz na Caixa Cultural. ;Fala-se muito de arte, mas as crianças não conhecem. Esses programas são interessantes porque acrescentam no conteúdo, as visitas mostram a eles o que está nos livros.;

No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)(1) um total de 27.676 pessoas passaram pelo programa educativo somente este ano. ;Nosso grande alvo está nas escolas públicas. Estamos formando um público para o futuro, com alguém ao lado para questionar e abrir outros entendimentos de uma obra ou exposição. Queremos democratizar o acesso das crianças à cultura de modo geral e proporcionar uma intermediação;, diz Waldir de Amorim Pinto, assessor de artes visuais da instituição. O Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco) mantém um projeto de capacitação de professores desde 2006. Os encontros técnicos chegam a receber 400 professores a cada edição e a oficina do espaço tem capacidade para 80 crianças. ;90% é de escola pública;, avisa Karla Osório, diretora do espaço. Na Caixa Cultural, a média chega 1.400 visitas de alunos por mês. ;É o maior público da gente; admite Adriana Aguiar, coordenadora do projeto na Caixa.

Capacitação
É importante apresentar o visitante para o conteúdo da exposição no momento em que ele desponta na galeria, mas não é suficiente. ;A criança esquece;, constata Karla Osório, que concebeu para o Ecco Educativo um programa dividido em oito etapas. No Ecco(2), antes dos estudantes chegarem à galeria, os professores passam por uma capacitação e são preparados para desenvolver temáticas da arte contemporânea aplicadas aos conteúdos de sala de aula. ;Para chegar ao público alvo de maneira mais consistente e permanente e gerar um conteúdo que tenha utilidade no ensino formal;, diz Karla, que investe entre R$ 30 mil e R$ 40 mil por mês no projeto realizado com ajuda do Sesi e da ONG Central de Projetos.

Inteiramente gratuito, o programa fornece material de apoio aos professores, além de oficina para as crianças. ;Antes olhávamos a arte contemporânea e pensávamos ;que estranho;. A criança é desprovida de preconceito e ela tem a interpretação dela. Quando fazem a releitura da obra com os mediadores percebemos exatamente as inúmeras capacidades da criança, coisa que às vezes o próprio professor não consegue vislumbrar;, conta Tânia Matsunaga, uma das coordenadoras da equipe de educação infantil da Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro, que organizou a parceria entre algumas escolas públicas e o Ecco.

Acolhimento
No Museu Nacional da República, o educativo é mais pontual e condicionado às exposições. Geralmente, o projeto fica a cargo de um escritório especializado e contratado especialmente para conceber os circuitos e atividades. Para a exposição Tão longe, tão perto, em cartaz até outubro e dedicada à história das telecomunicações, as visitas agendadas para grupos ou escolas contam com 30 mediadores e espaço para oficinas.

Depois de visitar a mostra, as crianças ganham um almanaque com sugestões de atividades a serem realizadas no próprio museu ou em sala de aula, sob orientação dos professores. ;Os mediadores precisam ter uma dinâmica para segurar a atenção dos meninos, precisam estar informados e, principalmente, saber usar linguagem adequada para que as crianças compreendam;, diz a professora Carmem Reis, que levou alunos da alfabetização da Escola Classe 16 de Taguatinga ao museu para aprofundar os conteúdos trabalhados em aula.

[SAIBAMAIS]Mathias Monteiro, supervisor do programa educativo em Tão longe, tão perto, aposta no acolhimento para criar familiaridade dos pequenos visitantes com o museu. ;O público aqui é muito distinto, muita gente vem da Rodoviária e essa condição pode ser intimidante. Então o acolhimento é muito importante para que possam usufruir do espaço;, garante o artista plástico, que já trabalhou com mediação no Ecco e no CCBB.

1- Imaginação
A próxima exposição do CCBB a receber pedidos de agendamento será A imaginação no poder, do artista francês Gérard Fromager, cujo nome foi importante no movimento Nova Figuração, nos anos 1960 e 1970. A mostra com 60 obras tem início em 8 de setembro e fica em cartaz até 15 de novembro.

2- Estrada
Em cartaz até 27 de setembro no Ecco, a mostra Sur la route/Na estrada reúne trabalhos de 11 artistas brasileiros e franceses e faz parte das celebrações do Ano da França no Brasil.

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