postado em 10/09/2009 11:08
Fabiana Reis
Especial para o Correio
Londres ; Se nada mais der certo, do cineasta brasiliense José Eduardo Belmonte, dividiu opiniões no festival de cinema brasileiro de um dos mais respeitados centros culturais de Londres, o Barbican. O filme foi selecionado para abrir o Cine of Brazil: Urban Tales, na última terça-feira. O festival exibe, até 8 de outubro, 14 obras sobre realidade urbana moderna. Cidade Baixa e Saneamento básico, dos diretores Sérgio Machado e Jorge Furtado, respectivamente, também estão na lista.
Segundo a curadora do evento, Adriana Rouanet, um dos motivos para a escolha de Se nada mais der certo para a abertura foi o fato de ;retratar uma cidade ;de primeiro mundo; não muito diferente de uma megalópole europeia ou americana, na qual os habitantes têm as mesmas preocupações e ansiedades daqueles de outras cidades do mundo. Acho importante mostrar um Brasil diversificado, moderno, industrializado e avançado. Não só a imagem típica exibida na Europa de um país pobre e favelado.;
O filme despertou grande interesse no público da cidade. Os ingressos para a estreia de Belmonte em Londres ; numa sala com capacidade para 286 pessoas ; esgotaram um dia antes. Brasileiros ocuparam a maioria dos assentos, mas a presença de indianos, irlandeses, londrinos e franceses, entre outros, era facilmente notada.
Um crítico londrino de cinema, que preferiu não se identificar por estar diretamente envolvido no festival, disse que o filme ainda é um clichê sobre o Brasil: crime, pobreza e violência. ;A ideia da curadora era não reforçar a imagem que já existe no exterior, mas considero este primeiro filme como um exemplo de ;favela chic;. Pessoalmente, eu não gostei. A forma como foi filmado atrapalha o entendimento da narrativa. Não consegui assistir até o fim. Muito longo. Poderia ter sido melhor editado.; O irlandês Patrick Ryan também criticou os movimentos de câmera: ;Muitas cenas são trêmulas e embaçadas e isso dificulta entender um filme tão filosófico;.
Outros acreditam que Belmonte conseguiu revelar muito bem uma faceta do Brasil antes desconhecida. A londrina Caroline Oulton, por exemplo, adorou o longa: ;É apaixonante e moderno. Foi muito interessante porque mostrou que sou ignorante no assunto Brasil;. Já Natasha Anderson, londrina descendente de jamaicanos, esperava algo diferente. ;Assistir ao filme foi uma boa experiência. Estou acostumada a ver coisas bonitas sobre o Brasil e esse era um lado que eu não conhecia, apresentado com emoções cruas.;
Alternativas
Grande parte da plateia verde-amarela aprovou o filme. O gaúcho J;rg Wagner mora em Londres há 15 anos e ficou satisfeito. ;O problema foi tratado de maneira moderna, trazendo à tona questões que vêm afetando a classe média brasileira. Seria interessante se Belmonte tivesse apresentado alternativas para esta realidade;, comentou. Outros, por conhecerem cenários parecidos, entenderam a mensagem. Entretanto, não a consideram boa. Foi o caso do indiano Mawny Manoharan. ;Existe uma realidade bem parecida no meu país. Senti uma empatia pelo filme. Mesmo assim, ele não me agradou. Especialmente a forma como foi filmado e editado. O resultado foi trêmulo e longo.;
A sessão foi seguida por um painel de perguntas liderado pela curadora do festival com participação do ator Eucir de Souza, que interpreta Diogo, e da professora de sociologia urbana da Universidade de Brasília (UnB) Bárbara Freitag. Souza disse estar feliz com o reconhecimento que o elenco vem tendo desde o lançamento do filme. ;O Brasil passou um tempo sem cinema e agora temos uma diversidade de trabalhos com múltiplas linguagens. Isso é bastante positivo. Se nada mais der certo é um exemplo disso e, em geral, está sendo bem recebido;, afirmou o ator.
A concepção, o segundo longa-metragem de Belmonte, será apresentado hoje. A presença do diretor está confirmada. Se nada mais der certo está entre os 10 filmes selecionados pelo Ministério da Cultura na semana passada para concorrer à indicação do Brasil ao Oscar 2010.