Agência France-Presse
postado em 11/09/2009 13:04
Toronto - A 34a. edição do Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) foi inaugurada na noite de quinta-feira com a estreia mundial de Criação, de Jon Amiel, uma biografia de Charles Darwin que oferece um olhar intimista sobre o pai da teoria da evolução no ano que comemora seus 200 anos de nascimento.
O filme se concentra no período em que o pai da biologia moderna escreveu As origens das espécies, seu tratado revolucionário sobre a evolução publicado há 150 anos.
Criação mostra um homem atormentado frente as consequências de suas descobertas. A produção se inspira no livro Annie's Box, do britânico Randal Keynes, descendente de Darwin e que o escreveu depois de descobrir um pedaço de papel deixado por seu ilustre ancestral.
Nesse papel, Darwin descreve os cuidados que sua filha Anne recebeu um mês antes de morrer aos 10 anos, em 1851.
Keynes sugere em seu livro que a morte de sua filha teve um impacto profundo no célebre naturista e em seus esforços por compreender o que descreveu em uma carta como "o trabalho cruel da natureza".
O filme é estrelado pelo britânico Paul Bettany e a americana Jennifer Connelly, casal na vida real que interpreta Charles e sua esposa Emma.
A 34ª edição do Festival de Toronto (TIFF) será mais austera que as anteriores e terá uma programação fortemente marcada pela crise.
"A crise econômica que começou há mais ou menos um ano repercutiu no festival este ano", afirmou um dos diretores da mostra, Cameron Bailey.
As centenas de recepções e festas que acompanham o maior festival de cinema da América do Norte serão menos grandiosas em 2009.
"O festival viu uma redução das contribuições dos patrocinadores. Como quase todas as organizações artísticas, fomos afetados pela recessão", explicou Bailey. Isto se vê refletido tambén nas telas, onde abundam as visões apocalípticas.
O cenário pode ser visto por exemplo em A Estrada, adaptação do livro vencedor do Pulitzer de Cormac McCarthy, no qual Viggo Mortensen e Charlize Theron enfrentam um mundo de pós-guerra nuclear.
O pessimismo também é notável em Les Derniers Jours du Monde dos irmãos franceses Arnaud e Jean-Marie Larrieu, assim como no documentário Collapse do jornalista Michael Ruppert, que previu a crise com a carta eletrônica From the Wilderness.
Em 2008, o fim da presidência de George W. Bush nos Estados Unidos iluminou o festival com várias comédias, estabelecendo uma ruptura da filmografia de anos anteriores, marcada por temas como a guerra do Iraque.
Mas as risadas se calaram com a explosão da crise imobiliária americana e suas consequências a nível mundial. "Não perdemos apenas dinheiro, também perdemos a fé no mercado, e muitos empresários de sucesso foram presos", lembra Bailey.
A seleção de 2009 tem vários longas inspirados diretamente pela crise, como Up in the Air de Jason Reitman, com George Clooney no papel de um especialista em demissões. Outros exemplos são The Joneses de Derrick Borte e The Informant de Steven Soderbergh.
"Estes filmes lançam um olhar sobre a empresa Estados Unidos e julgam vigorosa e profundamente os valores de mercado, além da maneira como este último pode infectar as relações humanas" completa o diretor do TIFF.
Na mesma linha será exibido o documentário de Michael Moore Capitalism: A Love Story.
Ao contrário dos festivais europeus, o de Toronto não oferece prêmios de um júri. Durante 10 dias serão exibidos outros 270 longas-metragens de ficção e 64 curtas-metragens.
Muitas estrelas são esperadas na cidade, entre elas a atriz espanhola Penélope Cruz e os americanos Matt Damon, Nicolas Cage, Natalie Portman e Michael Douglas.