Diversão e Arte

Arnaldo Antunes lança disco com 12 faixas inéditas inspiradas no universo do iê iê iê. O novo show chega a Brasília no próximo sábado

postado em 13/09/2009 10:31
Arnaldo Antunes já estava com o CD pronto quando soube que Erasmo Carlos estava de volta com um discão chamado Rock 'n' roll. Achou graça da coincidência. O Tremendão, que começou a carreira na década de 1960, nos tempos do iê iê iê, estava lançando um álbum no mesmo período em que ele, que apareceu nos anos 1980, os tais do rock nacional, retomava um som mais dançante, num disco batizado de... Iê iê iê. Um discão, aliás, que brinca com suas lembranças de infância - os programas da Jovem Guarda, o calhambeque, os medalhões, os cabelos compridos - e os clichês da cultura pop. Sem parar no tempo, Arnaldo brinca com o rock melódico das festinhas dos anos 1960 e os clichês da cultura pop"Depois de dois discos mais leves, sem bateria (Qualquer e Ao vivo no estúdio), quis fazer um voltado para um gênero musical e pensei nesse universo do iê iê iê, que na verdade é o da cultura pop, envolve quadrinhos, programas de auditório, estampas de camiseta", diz esse paulistano de 49 anos, que cresceu vendo Roberto e Erasmo na tevê e ouvindo um pouco de tudo, inclusive as primeiras manifestações do que veio a se chamar rock 'n' roll, e que ele associa ao universo do iê iê iê, como Little Richards, Bill Haley, Jerry Lee Lewis, o twist, o início dos Beatles, bandas como The Ventures e Shadows. Décimo CD solo do cantor e compositor, com 12 faixas inéditas e produção de Fernando Catatau (da banda Cidadão Instigado), Iê iê iê é o primeiro disco de "gênero" (ou com um "conceito") que ele faz. Não é tão diversificado quanto os anteriores, mas tem lá sua variedade rítmica: uma balada romântica (Longe), uma música que lembra trilha de faroeste (Um quilo), um rock (O que você quiser), um funk (Vem cá)... As referências são muitas, vão de surf music a Rita Pavone, e remetem às festinhas de 40 anos atrás, mas sem saudosismo. Arnaldo faz um iê iê iê à sua maneira, papo firme, revitalizando o estilo com uma linguagem contemporânea. O projeto gráfico, dele e Márcia Xavier, é todo inspirado em gibis. O cenário do novo show - que será apresentado em Brasília no próximo sábado, no Mercado Alternativo (próximo ao Camping) - traz uma espécie de mosaico, com camisetas penduradas (as estampas vão de Che Guevara a Mickey Mouse), compondo um grande painel. Na banda, além dos três que já o acompanhavam nas últimas turnês - Marcelo Jeneci (teclados), Chico Salem (violão) e Betão Aguiar (baixo) - entraram (ou melhor, voltaram) Edgard Scandurra (guitarra) e Curumin (bateria). Repertório Das 12 faixas, 11 foram feitas com parceiros. A única que ele assina sozinho é O que você quiser ("Meu bem, aonde você for eu vou/ o que você quiser que eu seja eu sou"). Do "baú da hora fértil" - onde guarda canções ou pedaços delas para, quem sabe, um dia gravar - ele pinçou duas bem antigas, do tempo em que era integrante dos Titãs. "Achei que elas tinham proximidade com o repertório do Iê iê iê, comenta, referindo-se a Sim ou não, feita com Branco Mello, seu companheiro de quarto no início do grupo, e Luz acesa, composta com Sérgio Britto e Marcelo Fromer nos intervalos das gravações do disco Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987). Com Paulo Miklos, outro companheiro de banda, ele escreveu Sua menina (também assinada por Liminha, que divide mais uma do disco, Invejoso). Com Ciro Pessoa, que participou dos primeiros dois anos dos Titãs, quando eles ainda eram Titãs do Iê Iê, fez Um quilo (guardada no baú havia uma década). Com Betão Aguiar e Marcelo Jeneci, compôs a faixa de trabalho, Longe, balada romântica com um quê de rock psicodélico, meio viajante. Já Marisa Monte e Carlinhos Brown comparecem nos créditos da faixa-título e de Vem cá, ambas pós-Tribalistas. As mais recentes foram feitas a quatro mãos com Ortinho, ex-vocalista da banda pernambucana Querosene Jacaré: A casa é sua, Meu coração e Envelhecer (esta também com Jeneci). "Essas três são muito significativas, foram compostas quando eu já tinha a ideia de fazer um disco de iê iê iê", conta Arnaldo, que também considera "muito importante e inventiva" a presença de Fernando Catatau. "Sou fã do Cidadão Instigado. Quando o chamei para produzir o disco, foi também pelo fato de ver no trabalho do Cidadão uma síntese do que eu queria: usar efeitos e timbres mais antigos, melodias que remetessem ao iê iê iê e, ao mesmo tempo, fazer um som atual, novo, cheio de frescor e experimentação". Projetos Agora que Iê iê iê já está na estrada (a estreia da turnê foi ontem, em Belo Horizonte), Arnaldo, artista de múltiplos talentos, tenta encontrar brechas na agenda para as apresentações de Pequeno cidadão, projeto infantil que lançou este ano com Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto. "Fizemos alguns shows em São Paulo, e em outubro, mês da criança, temos mais uma série. Enquanto rolar show, vamos fazendo", diz. No próximo dia 23, ele inaugura, em Curitiba, uma exposição de poemas visuais ("são poemas-objeto, trabalhos envolvendo imagem e palavra, caligrafias"). E até o fim do ano lança mais um livro de poesia. Para 2010, um dos planos é gravar um disco com Scandurra, na linha dos shows que eles fizeram juntos, só voz e guitarra, em algumas cidades. "Foi muito bacana", afirma. "Eram só parcerias nossas, gravadas por mim ou por ele, com o Ira! ou em carreira solo. Como tínhamos um repertório inteiro, pintou essa semente, essa ideia de fazermos um disco juntos. Algo bem enxuto, só nós dois mesmo, num formato minimalista. Mas não há previsão. Por enquanto, só existe o desejo de fazer." Assim que puderem parar um pouco, eles fazem. Basta assoprar para a brasa acender de novo. IÊ IÊ IÊ Décimo disco solo de Arnaldo Antunes, produzido por Fernando Catatau. Lançamento Rosa Celeste/ Microservice, 12 faixas. Assiste ao clipe Longe, de Arnaldo Antunes

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