Diversão e Arte

Show do DVD da banda brasiliense teve cenário com pôr do sol e repertório que abrange mais de duas décadas de carreira

Nahima Maciel
postado em 14/09/2009 07:43
O palco vazado não enquadrava propriamente o concreto, mas as águas do Lago Paranoá. Em terra firme, um mix de gerações ocupava o gramado em frente à Ermida Dom Bosco: pais com filhos, punks, roqueiros e adolescentes. Sobre as águas do Lago, uma frota de lanchas estacionadas à espera do show. E no horizonte, um pôr de sol avermelhado completava o cenário escolhido cuidadosamente para a gravação do DVD da Plebe Rude. Marcado para começar às 17h de sábado, o show que integrava a programação do evento Sonho de Dom Bosco teve início com 40 minutos de atraso, o suficiente para não perder os últimos raios de sol da tarde de domingo. ;Foi uma estrutura bastante cara. O Capital (Inicial) fez (o DVD) na Esplanada, mas você não vê nada. Os Titãs fizeram em um forte em Santa Catarina, mas não aproveitaram muito o forte nem o mar. Nessa época do ano o sol está se pondo bem ali no meio e queríamos aproveitar. É um momento mágico da banda, estava na hora de registrar isso;, diz o vocalista e guitarrista Philippe Seabra.

A gravação rendeu show de quase quatro horas com um público fielNove câmeras distribuídas pelo palco e pelo gramado ; uma delas pendurada na grua capaz de alcançar 11 metros de altura ; registraram a gravação do repertório de 21 músicas que incluiu faixas de seis discos da banda. O público ralo no início do show foi incrementado à medida que a noite chegava.

O som de uma festa em casa vizinha ao local do palco irritou Seabra no início da gravação. Depois de pedir aos donos da casa que abaixassem um pouco o volume para não interferir no DVD, o guitarrista não resistiu e mandou o recado: ;Aproveitando o Michael Jackson que tá rolando, valeu vizinhos! Não é à toa que moro no Lago Norte;. Quando apresentou a inédita Tudo que poderia ser, a banda já havia passado por sucessos como Brasília, Censura e Pressão social. Foi o momento de Seabra pedir: ;Mesmo entusiasmo galera! É DVD, porra;.

Também não faltou protesto político além daquele já contido nas letras das músicas da Plebe. Antes dos primeiros acordes de Censura , gravada em 1987 no disco Nunca fomos tão brasileiros, o baixista André X lembrou da ditadura e comparou com os tempos atuais. ;Ainda hoje, por mais incrível que pareça, jornais são censurados por falar de um certo senador. Por isso a gente resolveu incluir essa música;, disse.

Pausas para ajustar afinação e qualidade da captação do som interromperam algumas músicas. ;É DVD, tem que ser perfeito;, avisou o baixista André X. Enquanto esperava, o vocalista Clemente ameaçou contar piada de português e música de Ivete Sangalo. Mas as interrupções não foram alvo de impaciência do público, que ao final aproveitou para acompanhar a repetição de três faixas e a gravação de parte do videoclipe de The wake, a versão em inglês de A ida e carro-chefe da trilha do filme Federal, com Selton Mello.

Para quem acompanha a banda desde a adolescência, a gravação do DVD é um marco. ;Tenho uma história muito especial com a Plebe, ia em todos os shows com um amigo que já morreu. Tenho 34 anos, nasci em Brasília e a Plebe é nossa cara, nossa geração. Ver nossos filhos participando e dançando me emociona muito;, contou a produtora Eliane Leones, que levou a filha Mariele Marçal, de três anos, com o coleguinha Tales Nocchi, oito, para assistir ao show. ;Desde os seis meses ela frequenta. Ela se liberta mais a gente;, reparou a mãe.

Para as estudantes Elizabete Guitzel, 19, e Bruna Lourenço, 18, assistir ao show do DVD era inevitável. As adolescentes descobriram a Plebe Rude na internet aos 15 anos e, desde então, acompanharam todas as apresentações s realizadas em São Paulo. A dupla veio de São Bernardo do Campo para conferir as imagens que estarão no DVD. ;Quebrei o cofrinho literalemnte. É uma banda que é a mesma coisa desde o começo, por isso gosto. Outras que começaram na mesma época se venderam. Eles não;, garante Elizabete. ;Adoro as letras, falam de muita coisa dos anos 1980 e ainda valem para hoje. É difícil ver uma banda que faça críticas desse jeito, a maioria fala de amor de um jeito meio besta;, completa Bruna.

Em novembro, Philippe Seabra embarca para Nov York para trabalhar na mixagem do som do DVD. A intenção era lançar ainda este ano, mas o guitarrista já cogita o início de 2010. O clipe de The wake, no entanto, começa a circular antes do final do ano.

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