Diversão e Arte

Duas exposições da cidade mostram como os artistas diluem as fronteiras entre o urbano e a galeria

Nahima Maciel
postado em 14/09/2009 09:44
As fronteiras entre espaço urbano e galeria de arte há muito inquietam o artista Krishna Passos. Com enfoque em intervenções concebidas para ocupar as ruas da cidade, o brasiliense sempre investiu em explorar maneiras alternativas de driblar as instituições oficiais e levar a própria produção para locais públicos. Agora, no entanto, Passos faz o caminho contrário. PlastiCidade, videoinstalação montada na Galeria Fayga Ostrower (Funarte), como parte do projeto Da rua ; Imagem, arte e ação, leva para a instituição a proposta de ocupar a rua. O resultado é uma combinação de experiências que não exclui a ideia de intervenção. Em parceria com a arquiteta Adriana Vignoli, Passos concebeu trabalho que tem início na Biblioteca Nacional e desfecho dentro da galeria, com participação do público.

O artista brasiliense Krishna Passos mostra videoinstalação na galeria da Funarte: até 8 de novembroUma câmera de segurança capta o cenário da biblioteca e transmite as imagens para a Funarte. Quando o público transita pelo local, é automaticamente inserido na imagem da paisagem. ;E essa paisagem está acontecendo naquele exato momento. É uma situação de deslocamento de espaços;, explica Passos. ;Há algum tempo reflito sobre as relações entre a instituição como espaço, que determina a produção artística e outras formas de criação que não se vinculam às instituições. Costumo trabalhar com suportes e meios que às vezes não têm nada a ver com instituições de arte. A própria cidade é um suporte riquíssimo.; Uma trilha incidental com sonoridades colhidas por artistas amigos de Passos em cidades do Brasil e exterior completa a videoinstalação. A música consiste em colagem de fragmentos sonoros que lembram os barulhos das ruas nas grandes cidades.

A mesma ideia de experimentar a linguagem executada em intervenções urbanas norteia os grafites do goiano Júnior de Paiva. Os desenhos coloridos ocupam a marquise da Funarte e nasceram de pesquisa iniciada com os trabalhos de rua. ;Minha intenção é provocar o espectador com objetos que não estão dentro do contexto da grafite da cidade. O grafite da cidade não é artístico, está ali para decorar;, diz Paiva. O artista admite ter mais liberdade criativa na rua. As quatro paredes brancas da galeria encerram códigos que não podem ser ultrapassados, segundo a concepção de Paiva. ;Na rua, é mais um ato de protesto. Na galeria, não posso trabalhar temas muito pesados.;

Mitos femininos
Longe do enquadramento institucional e com certa independência, o pintor Taigo Meireles celebra o local escolhido para mostrar os desenhos da série Eros e psiquê. A galeria Objeto Encontrado não está vinculada a nenhuma instituição oficial nem utiliza recursos da Lei Rouanet para viabilizar suas exposições. Meireles mostra cinco pinturas e oito desenhos sobre papel branco e fluorescente. Os nus femininos característicos da obra do artista aparecem mesclados e quase desmembrados nos desenhos em grafite, pastel e guache.

O interesse em mitologia grega e temas bíblicos fica claro em cabeças penduradas nas mãos das figuras femininas e nos embates entres os sexos retratados nos desenhos. ;O título Eros e psiquê evoca os encontros mortíferos entre o feminino e masculino. Sempre fui aficionado por mitos, são temas corriqueiros e bem tradicionais na história da pintura, há muitas versões para Judith e Holofernes, Madalena, Salomé. Na verdade, falo mais da cria de eros e psiquê, da volúpia;, avisa o artista.

DA RUA ; IMAGEM, ARTE E AÇÃO

Visitação até 8 de novembro, de segunda a domingo, das 9h às 21, no Complexo Cultural da Funarte (Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural).

EROS E PSIQUÊ
Visitação até 10 de outubro, de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábados, das 10h às 18h na Galeria Objeto Encontrado (SHCN CL 102, Bloco B, Loja 56)

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