Diversão e Arte

Mesmo com cenário difícil, bandas de blues conseguem manter a agenda cheia

postado em 15/09/2009 08:00
O blues foi propagado mundialmente (com a ajuda das bandas de rock britânicas influenciadas pelo estilo) a partir da década de 1960. Em Brasília, seus acordes têm encantado gerações de músicos desde então. Mas foi em meados dos anos 1980 e, principalmente, na década seguinte, que a produção local realmente aflorou ; fazendo o nome de grupos, guitarristas, gaitistas e cantores brasilienses dentro e fora da cidade.

Mas, pelo menos para parte dos protagonistas desse levante blueseiro candango, os bons tempos são agora lembranças distantes. ;O cenário tá triste;, reclama o guitarrista Cleves Nunes (ex-Oficina Blues). ;Hoje em dia, apenas duas bandas continuam tocando por aí com algum frequência, a Geriatric e a Brazilian Blues Band;, lista. Para Cleves ; que hoje capitaneia um projeto em homenagem a Eric Clapton ;, as casas noturnas dão pouca abertura ao blues. ;Não querem pagar o músico. Se antes, a minha banda ganhava uns R$ 600 por apresentação, hoje eles nos pagam só R$ 60. Não vale a pena;, sentencia.

Bemol, vocalista do Oficina, entende que a situação é difícil para a música autoral como um todo: ;Encontrar um lugar para tocar não é uma dificuldade só do blues, é de qualquer estilo musical. Em Brasília, não existe uma política urbana voltada para a arte, é só proibição: Lei do Silêncio, Lei do Cigarro, Lei Seca; Isso afasta as pessoas da noite;, avalia. ;Quando o assunto é música, é tudo muito cíclico, tem a ver com moda, com economia; Além disso, muitas bandas se acomodam;, pondera Mário Salimon, vocalista da Another Blues Band (que lançou recentemente seu segundo disco).

Segundo Rubens Carvalho, proprietário do Gate;s Pub, na Asa Sul, o blues na cidade tem altos e baixos: ;Já fiz dois festivais de blues na casa, ambos bem sucedidos. Mas, de uns tempos pra cá, tenho recebido cada vez menos material de banda do gênero ; o blues deu uma caída;. ;O público do blues é muito seleto. Por uma questão de sobrevivência, tivemos que abrir a casa para outros estilos também;, conta Lázia Barbosa, do recém-reaberto Blues Pub, em Taguatinga Centro. ;Por um bom tempo, deixamos o blues de lado. Mas a partir deste mês, estou reservando as terças-feiras para grupos do estilo. A ideia é resgatar a tradição que o local tinha;, garante Carlos Nugoli, produtor musical do Botequim Blues, também em Taguatinga Norte.

Resistência
A Geriatric Blues Band encontrou uma maneira de divulgar seu trabalho e renovar seu público. Há quatro anos, o grupo apresenta, a cada dois meses, uma palestra musical na Livraria Cultura (a próxima será em 3 de outubro). ;É um projeto bem didático de formação de plateia para o blues. A cada aula, apresentamos os músicos que marcaram o gênero, suas canções, que estilo de blues praticavam. E tocamos as músicas. Fazemos tudo de maneira bem humorada, com piadas, histórias, etc. No final do show, passamos uma nota, de um dólar e meio, para que as pessoas escrevam seus e-mails ; uma maneira de mantermos contato e de esse público conhecer nossa agenda;, explica o baixista Paulo Coelho.

Representante da nova geração do blues na cidade (com integrantes da faixa dos 20 e poucos anos), a banda Casa Vermelha mantém a média de um show por semana. ;Acho que fomos meio loucos de formar uma banda de blues. A cena não é grande;, reconhece Rafael Moraes, guitarrista do quinteto. Pioneiro em Brasília, o trio Ligação Direta também mantém a agenda cheia tocando em encontros de motociclistas. ;Somos mais conhecidos nesse meio do que no circuito das casa noturnas;, compara o baterista Luiz Coelho.

Vocalista da Brazilian Blues Band, Luiz Cafa toca o projeto do Clube do Blues junto com sua mulher, Jussara Almeida. Eles contam que continuam em busca de uma sede física para o clube (que já passou pelas boates Tendinha e Mississipi). ;Vamos tentar alguma coisa junto ao governo. Por enquanto, o clube continua itinerante;, diz Jussara. ;Seria um local de congregação para o blues, mas também para o jazz e para o rock. Quem quisesse assistir a um show de blues saberia aonde ir;, explica o vocalista. Cafa adianta que o segundo CD da BBB (batizado de 500 gramas blues) deve sair ainda este ano. Para 2010, existe o plano de fazer um disco em parceria com o guitarrista carioca Celso Blues Boy.

Produzido pelo clube, o Brasília Blues Festival, que em 2009 chega a sua terceira edição, atenderá a partir deste ano, pela alcunha de República Blues. ;Será realizado no dias 9, 10 e 11 de outubro, com os shows se revezando entre o complexo da Funarte e o Teatro de Arena do Guará;, avisa Jussara. A programação contará com atrações locais, nacionais e internacionais.

Conciliar lamentos e alegrias parece a sina de cada um que entoa um acorde de blues. Todos querem ser ouvidos, querem seu espaço. Mas, não fosse o sofrimento e as dificuldades, do que seria feito o blues?

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