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A triologia Millennium revela a habilidade de Stieg Larsson em contar histórias

postado em 15/09/2009 09:12

De Stieg Larsson. Tradução de Paulo Neves. Companhia das Letras, 528 páginas, R$ 39,50.Há quanto tempo você não lê um ótimo livro policial, desses que é impossível largar e cuja trama vai muito além de um simples ;quem matou;? Pois, prepare-se. Com 15 milhões de exemplares vendidos, a trilogia Millennium, do sueco Stieg Larsson(1), surpreende e pega o leitor de jeito. Os dois primeiros livros, Os homens que não amavam as mulheres e A menina que brincava com fogo, estão nas lojas e o terceiro, A rainha do castelo de ar, foi lançado na última quarta-feira e deve chegar hoje às livrarias de Brasília.

Tudo começa quando o jornalista investigativo Mikael Blomkvist recebe a proposta de tentar desvendar o sumiço da neta do industrial Henrik Vanger. Para tanto, ele sai de Estocolmo, onde é sócio da revista Millennium, e passa uma temporada no norte da Suécia, lugar em que os termômetros despencam a -37;C e congelam a água nas tubulações. É curioso eles acharem -5;C uma temperatura ;agradável;.

De Stieg Larsson. Tradução de Dorothée de Bruchard. Companhia das Letras, 608 páginas, R$ 39,50.Como pesquisadora assistente, ele tem ajuda de Lisbeth Salander, que trabalha como free-lancer numa empresa de segurança e, na verdade, é uma hacker, conhecida como Wasp (vespa). Descrita como ;uma boneca;, tem 25 anos, mede 1m50 e pesa 42kg. Tem piercings no umbigo, na língua, na sobrancelha e cinco tatuagens, entre elas, um dragão que vai do ombro às nádegas. Criada sem pai, aos 12 anos foi internada em uma clínica psiquiátrica, de onde saiu com ódio cimentado. Solitária, conversa com pouquíssimas pessoas, isto é, quando conversa. Na bolsa, costuma levar spray de gás lacrimogêneo e um martelo.

Pois esses personagens principais arrebatam o leitor. No segundo volume, o autor consegue provocar tanto suspense que é impossível ler a página da esquerda sem espiar o que vai acontecer alguns parágrafos depois. Nessa obra, Lisbeth domina a cena. Vem à tona o passado e todo o sofrimento e abuso que ela aguentou. Aos poucos, de marginal ela vai tornando-se heroína. E a gente torce por ela.

O escritor Stieg Larsson sabe rechear muito bem uma trama, na qual tece um panorama da Suécia contemporânea, povoada por uma liberdade individual levada ao extremo. Para se ter uma ideia, o personagem Mikael tem um caso antigo com a sócia, a também jornalista Erika Berger. Detalhe: com a conivência do marido dela. Parecem ser pessoas para quem fazer sexo é tão natural quanto tomar um café. Na hora da refeição, o cardápio soa pífio: torta de peixe, pepinos em conserva, pizza, maçã.

De Stieg Larsson. Tradução de Dorothée de Bruchard. Companhia das Letras, 688 páginas, R$ 42,50.Além disso, o livro aborda temas como neonazismo, crimes de colarinho branco, pedofilia, máfia russa, tráfico de mulheres, incesto, estupro. Um prato cheio. Outra curiosidade, depois do acordo ortográfico que baniu certas acentuações da língua portuguesa, é a grafia de alguns nomes próprios, enfeitados com tremas duplos, como as cidades de ;lvsj; e S;dert;lje.

1- Ameaças de morte(1)
O autor da trilogia Millennium nasceu em 1954, em Skelleftehamn. Foi jornalista influente e ativista político. Trabalhou na agência de notícias TT e fundou a revista Expo, onde denunciava organizações racistas. Pelo fato de escancarar violações aos direitos humanos, era alvo de ameaças de morte. Em 2004, logo depois de entregar os originais dos três livros à editora, Larsson morreu, aos 50 anos, vítima de ataque cardíaco.


Fama depois da morte
Conhecido como um dos maiores especialistas no estudo de movimentos antidemocráticos, de extrema direita e nazista, o escritor sueco Stieg Larssom foi editor responsável pela revista Expo. Morreu aos 50 anos, em 9 de novembro de 2004, pouco tempo depois de entregar à sua editora sueca os três volumes da trilogia Millennium. Tragicamente, não viveu para assistir ao fenômeno mundial em que a sua obra se tornou.

Recentemente, ele foi homenageado postumamente pelo Observatório contra a Violência Doméstica e de Gênero, na Espanha. De acordo com o Observatório, o escritor sueco merece este prêmio ;pela sua contribuição, através da literatura, na visibilidade e denúncia da violência contra as mulheres, principalmente;. Uma das razões apontadas pelo Observatório para o merecimento do prêmio deve-se- ao fato de o autor mostrar ;que é possível a construção de uma sociedade livre de violência contra mulheres e homens de todos os gêneros;. A entrega do prêmio póstumo será no próximo dia 21. Eva Gabrielsson, companheira de Larsson durante anos, receberá a homenagem em nome do escritor.

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