Irlam Rocha Lima
postado em 17/09/2009 08:20
Em 2002, uma bolsa de estudos levou Hamilton de Holanda a morar por um ano em Paris. Era a primeira vez que ficava tanto tempo distante de Brasília, testemunha do surgimento e crescimento de um genial bandolinista ; perto de dar os primeiros passos rumo à conquista do mundo. Saudoso, passou a imaginar uma maneira de demonstrar gratidão à cidade que o acolhera ainda criança e lhe proporcionara instrumentos para evoluir como homem e artista.;Meu aprendizado todo foi em Brasília. A distância, um filme se passava pela minha cabeça e iam surgindo imagens, recordações do lugar que me acolheu ainda criança, e que me proporcionou tantas coisas boas. Aí me veio a ideia do agradecimento. Só não sabia como fazê-lo, mas mantinha o pensamento em ebulição;, recorda-se.
Na volta ao Brasil, Hamilton, com muito interesse, começou a ler livros e outras publicações que traziam relatos sobre a criação da capital. ;Me debrucei sobre obras como Por que construí Brasília, do eterno presidente Juscelino Kubitschek; História de Brasília, de Ernesto Silva; e JK e o reencontro com Brasília, de Vera Brant;, revela.
Hamilton conta que, na sua ausência do país, sua mãe havia guardado para ele uma série de reportagens publicadas no Correio sobre os 100 anos de Juscelino. ;Aos poucos fui reunindo informações, lembranças e fatos que viriam a ser úteis na formulação de um projeto que vinha esboçando, embora ainda sem forma.;
Numa das vindas à cidade, no ano passado, o músico ; radicado no Rio de Janeiro desde 2003 ; foi ao encontro de amigos na filial do Beirute, na 107 Norte. No bate-papo, regado a cerveja e quibe, surgiu o assunto dos 50 anos de Brasília, que seriam comemorados em 2010. ;Aí tive um insight e decidi realizar algo de maior abrangência para homenagear minha cidade: compor uma sinfonia, a exemplo do que fizeram Tom Jobim e Vinicius de Moraes, no fim dos anos 1950;.
De volta ao Rio, convocou Daniel Santiago (violonista que integra o quinteto liderado pelo bandolinista) para ajudá-lo na missão de criar a sinfonia. ;O Daniel é músico extremamente talentoso e está criando uma linguagem brasiliense para seu instrumento. Inicialmente, trabalhamos só com bandolim e violão. Em seguida, agregamos baixo e violão e algum vocalise;, explica.
Começava a nascer uma sinfonia com espírito popular, ainda sem título. Os primeiros sugeridos ; um deles, Sinfonia candanga ; foram deixados de lado. ;Chegamos, então, à Sinfonia monumental. Tendo o projeto de Lucio Costa para o Plano Piloto como inspiração, imaginamos algo que, como ele dizia, fosse monumental não no sentido de ostentação, mas como expressão palpável, consciente daquilo que vale e significa;.
O músico, bacharel em composição pelo Departamento de Música da UnB, quis mostrar na sinfonia que em Brasília já existe uma linguagem musical consolidada, que se baseia na mistura de gêneros, de estilos. ;Embora de caráter clássico, na composição de 50 minutos de duração, dividida em cinco movimentos, estão embutidos sons de rock, samba, choro e da música mineira;, revela, que hoje vai receber, às 11h, a medalha do Mérito Alvorada das mãos do governador José Roberto Arruda. A cerimônia ocorrerá no pátio da Novacap.
Para Hamilton, a Sinfonia monumental tem espírito semelhante à Sinfonia da alvorada, que Tom e Vinicius compuseram, a pedido do presidente Juscelino Kubitschek. ;Quando fui pesquisar sobre o que havia sido feito em termos sinfônicos sobre Brasília, vi que na Sinfonia da alvorada, consagrada como uma bela peça clássica, há claramente em sua construção elementos da música popular brasileira;.
A gravação da sinfonia será aqui na cidade, em novembro, mas o local ainda não foi definido. Acompanhando Hamilton estarão os músicos do quinteto liderado por ele ; Daniel Santiago, André Vasconcellos, Gabriel Grossi e Márcio Bahia ;, uma orquestra formada por músicos brasilienses e coro. Na apresentação da Sinfonia monumental, em 2010, dentro da programação dos 50 anos de Brasília, haverá abordagem de episódios da história, uma interação da música com textos e vídeos.