postado em 21/09/2009 08:10
Existe um quê de bom anarquismo nos artistas de rua que se apropriam dos concretos dos espaços de prédios de Brasília. O grafite por definição é uma arte usada para transformar a paisagem. ;Preferimos lugares públicos já degradados como forma de recuperar esses espaços;, afirma o grafiteiro Adriano Cinelli, mais conhecido como Onion, 29 anos, encostado em um enorme painel feito por ele e por Leandro Mello em uma banca de jornais da 503 Sul.Cinelli e o amigo Ramon Martins, 28, dois dos artistas acostumados a realizar intervenções plásticas pelas construções de Brasília, viajaram até a Europa para colorir o cinza da cidade holandesa de Roterdã. Selecionados com artistas de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, pela curadoria do projeto R.U.A Festival, organizado pela Ong Cara Rua, os rapazes passaram cerca de três semanas na Holanda, produzindo enormes murais pintados com tinta spray, instalando o o que Ramon definiu como ;uma grande exposição a céu aberto e em grande escala;. ;Recebi o convite para pintar numa cidade que foi quase toda bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial. Na época, foram construídos inúmeros prédios para os desabrigados. A paisagem atual, com grandes construções modernas, que são referências no mundo inteiro, contrasta com esses antigos edifícios que agora viraram peças públicas de arte;, afirma Martins.
[SAIBAMAIS];O burburinho foi grande: pessoas curiosas e revoltadas e outras indiferentes. Na Europa existe uma política antigrafite muito forte, com muito conservadorismo. No meu primeiro dia de trabalho ocorreu uma discussão entre o dono do muro, que não estava gostando nada da ideia de ver seu prédio sendo pintado, e uma senhora que morava ao lado e que comprou a briga a favor da pintura: eu não estava entendendo nada, só era nítido que ela fazia questão que aquilo acontecesse;, relembra Martins que atualmente passa uma temporada em Paris produzindo para expor em galerias da capital francesa e só retorna ao país no fim de outubro.
A confusão entre pichação (uma contravenção punida pela lei) e o grafite é mais antiga que as pirâmides do Egito e cria uma resistência contra a arte de rua que não é nenhum ;privilégio; europeu. ;O preconceito ainda existe. Às vezes, as pessoas nem olham o que você está fazendo, mas se estiver segurando uma lata de spray, elas já reclamam;, relembra Cinelli. Avanços já existem. O motorista Domingos Inocêncio Farias, 60 anos, teve a atenção capturada pela presença da equipe em frente à banca da W3 Sul, e aproveitou o encontro para emitir sua opinião: ;O que esses meninos fazem deixa a cidade bem mais bonita e conceituada;, elogiou Inocêncio.