postado em 21/09/2009 08:15
Para saber maisDesde quando grafite é arte?
O termo grafifti, descendente do plural de grafito em italiano, existe desde o império romano e designa qualquer inscrição feita em paredes. Somente no fim dos anos 1970, o filho de imigrantes, Jean-Michel Basquiat, foi elevado ao status de artista neo-expressionista e teve a oportunidade de expor em galerias de Nova York. Grafiteiros já haviam conseguido fazer exposições antes, mas Basquiat levou a fama de pioneiro. No Brasil, os irmãos paulistanos Otávio e Gustavo Pandolfo, mais conhecidos como Os Gêmeos, são os grafiteiros brasileiros com maior reconhecimento no exterior, incluindo a pintura da fachada da galeria Tate Modern, em Londres, durante a exposição Street art.
;Não dá para viver sem arte;
O artista plástico Ramon Martins nasceu em São Paulo em 1981. Foi criado em Minas Gerais e mora em Brasília há dois anos, onde se juntou aos grafiteiros locais para recobrir o concreto cinza da capital. É dele muitas das intervenções presentes hoje em edifícios não-oficiais da capital, como a fachada do Espaço Cultural da 508 Sul ou a entrada do Parque da Cidade. A paixão pelas artes iniciada na adolescência com a pintura de cartazes sempre contou com o apoio da família. ;A minha mãe é a culpada de tudo. Deu-me liberdade, não me censurou ou discriminou como a maioria dos pais fazem com os filhos que descobrem que querem viver de arte;, relembra. A ;bagunça; que Ramon produzia em casa evoluiu para um tipo de arte urbana povoada de figuras femininas soltas em ambientes evanescentes e multicoloridos.
Martins foi um dos 10 artistas brasileiros selecionados para pintar em prédios da cidade holandesa de Roterdã. ;Foram duas semanas incessantes de trabalho árduo debaixo de sol, vento e chuva, com muita diversão e aventuras. Amigos que eu recebi em minha casa no Brasil agora me recebem em suas casas e me apresentam sua cidade como nenhuma outra pessoa ou guia turístico apresentaria. O rolo é outro!”, se empolga. Após a intervenção na Holanda, ele seguiu para Paris, onde está produzindo telas para exposições em galerias francesas. Por e-mail, concedeu a entrevista ao lado.
Três perguntas // Ramon Martins
Existe alguma diferença técnica entre o grafite brasileiro
e o estrangeiro? Qual é?
Existe um jeito brasileiro de pensar e fazer o grafite, uma forma revestida por uma questão muito mais ligada a cultura do que ao material em si. A técnica é algo que varia de pessoa para pessoa, mas no Brasil eu percebo uma curiosidade em explorar os materiais acessíveis e de criar outras formas de manipular esses materiais, em geral o spray. Com ele você lida com a tinta em um estado que não é nem líquido nem gasoso, sem contato direto com a superfície como no uso de pincel. Também se utiliza no Brasil o rolo para fazer grafite, coisa que aqui na Europa não é comum. O Brasil teve e tem muita influência do estilo americano, porém, logo foram surgindo grafiteiros mais interessados em fazer o seu próprio estilo. Isto fortaleceu uma geração de novos pintores urbanos com um forte diferencial reconhecido no mundo inteiro.
[SAIBAMAIS]O que o grafite significa para você?
O grafite para mim é como uma grande comunidade underground que permite trocar ideias, reconhecer a cidade com outros olhos e reinventar o espaço urbano. Minhas referências estão nas experiências que vivo, em minhas convicções e estranhamentos, nas culturas que tenho, nas que eu não tenho e as que invento. Pinto com o que dá vontade e o que tenho acesso, o melhor material é o que eu tenho em mãos. A materialidade das coisas existem para serem exploradas, animadas. Não para ser uma ferramenta sem vida, como quando se assina um cheque.
Dá para viver fazendo grafite?
Não dá para viver sem arte.