postado em 21/09/2009 11:02
Suingue e ritmo figuram, no universo caricatural, como adjetivos apropriados para a musicalidade brasileira. Mas quem compareceu ao Teatro Brasília durante o I Love Jazz ; Festival Internacional procurava pelas vertentes norte-americanas dessas palavras, traduzidas no som metalizado das clarinetas, saxofones, trompetes e trombones. Melodias populares do swing e do rythm & blues se juntaram ao bebop, dixieland e outros ritmos com nomes intransponíveis para a língua portuguesa, mas universais para os amantes da boa música.
A aura norte-americana esteve evidente durante a apresentação da brasileira Happy Feet Jazz Band, no sábado. Entre os seis instrumentistas que ocuparam o palco, era fácil apontar o único americano, o saxofonista Mike Hashin. Terno branco, chapéu na mesma cor e calças curtas à moda jazz, o músico mostrou a que veio logo nas primeiras canções, When my dreamboat comes home e Alabamy home. Os vigorosos solos de sax do convidado, aliados harmoniosamente ao ritmo impresso pelo quinteto brasileiro, realçaram a estreita relação musical entre Brasil e Estados Unidos proposta pelo festival.
A reação já positiva do público ascendeu com a entrada da cantora Chon Tai Yeung durante a canção On sunny side of the street, um clássico de sucesso na voz de Frank Sinatra. A interpretação de Chon Tai, ora rasgada, ora doce, surpreendeu. A plateia não se conteve e aplaudiu durante a execução da música. O nível do repertório continuou alto ao longo da apresentação, com direito a piadas em palco e um bate-papo espontâneo que aproximou banda e público. ;Quando venho ao Brasil, fico basicamente nas apresentações, hotel e aeroporto. Para mim, as pessoas formam a verdadeira paisagem brasileira e fico encantado em poder ter tamanho contato com eles;, disse Mike Hashin ao Correio. O elogio foi estendido em uma crítica bem humorada ao seu país. ;É bonito ver um povo com musicalidade tão forte se apaixonar pelo jazz. Faz acreditar que, pelo menos na música, os Estados Unidos fizeram algo certo.;
Para quem acompanhou os outros dias do festival, a opinião de Hashin sobre a boa música de seu país tem ainda mais força. Na sexta-feira, a Benny Goodman Centennial Band, também dos Estados Unidos, brilhou mais que a bem lustrada clarineta do líder Allan Vaché. Quase extrapolando o pequeno palco ; que mal deixou espaço para o casal de dançarinos da banda ; os 14 músicos arrancaram aplausos com a execução de peças instrumentais da orquestra do Rei do Swing, Benny Goodman, a número um dos anos 1930. Com três arranjos novos feitos pelo pianista John Sherman (When Buda smiles, Isn;t love the strangest thing e Mine), a big band provou que o jazz segue atual e aberto à criatividade dos músicos. Houve até quem não resistiu ao ritmado samba improvisado pelo baterista Ed Metz Jr. e se deixou dançar.