O genial violonista Baden Powell fez ali o seu último show. Por aquele palco, que acolhe artistas brasilienses e nomes consagrados da MPB, já passou parte dos cantores e compositores que escreveram a história do samba ; de Nelson Sargento a Dona Ivone Lara, de Elton Medeiros a Nei Lopes. Foi lá que executivos da poderosa Universal Music acertaram a contratação de Dhi Ribeiro, a nova aposta da gravadora. Um dos mais importantes redutos da música popular brasileira na capital, o Feitiço Mineiro comemora, em outubro, 20 anos de existência. A celebração será com uma longa programação, que terá como ponto alto uma série de shows com cantores, compositores e letristas que participaram do Clube da Esquina, movimento que ocorreu em Belo Horizonte, na década de 1970, e trouxe sofisticação harmônica e melódica à MPB. A série de shows, em parceria com a Associação dos Amigos do Museu Clube da Esquina, será aberta no dia 12 com show de Lô Borges. Na sequência, se apresentarão Beto Guedes (dia 13), Toninho Horta e Nivaldo Ornelas (dia 14), Flávio Venturini (dia 15), Telo Borges e Márcio Borges (dia 16), Tavinho Moura e Fernando Brant (dia 17), Gabriel Guedes, Rodrigo Borges e Robertinho Brant (dia 18), Wagner Tiso e Márcio Mallard (dia 19). Da programação faz parte, também, exposição temática com fotos históricas, capas de disco e painéis que narra a história do movimento e suas relações com Brasília, Brasil e o mundo. Parte do acervo virtual do Museu Clube da Esquina será apresentada em um telão instalado no Feitiço. No local, os interessados poderão adquirir CDs, DVDs, livros e partituras das músicas dos artistas envolvidos. Livro O coordenador-geral do projeto é o dublê de empresário e contador de causos Jorge Ferreira, que, recentemente, lançou o livro Fazimento, que mistura trovas, histórias e reminiscências. Sociólogo que militou nos movimentos estudantil e político contra da ditadura, ele tornou-se, quase três décadas depois, um vitorioso empreeendedor. Na maioria dos bares e restaurantes que criou, trabalha com o trinômio gastronomia, entretenimento e arte.
No The Old Barr, pub que funciona no Brasília Alvorada Hotel, o público pode apreciar shows de jazz. No Armazém do Ferreira (202 Norte), há, aos sábados, concorrida roda de choro, com músicos conhecidos da cidade, muitos do Clube do Choro.
No mesmo dia, no Bar Brahma (202 Sul), o samba é que dá o tom. Já o espaço gourmet do Mercado Municipal (Quadra 509, Avenida W3 Sul), transformou-se num ponto de encontro de artistas de diferentes segmentos. Hoje, às 20h, por exemplo, haverá uma performance do festejado artista plástico Carlos Bracher, que culminará com a criação de uma tela, cujo tema é o ambiente do próprio estabelecimento.
Perfil Bom de prosa José Carlos Vieira Quem conversa alguns minutos com Jorge Ferreira tem a impressão de que o conhece há séculos. Tal a capacidade desse mineiro de Cruzília falar de tudo. De poesia a sabores de vinho, passando por discos em vinil. Quando refere-se a Brasília, gosta de repetir: ;Cheguei aqui por amor. Têm pessoas que chegam na cidade porque o pai foi transferido, ou porque veio estudar, ou fez uma aposta na vida. Eu não. Foi por amor. A pessoa com quem sou casado hoje, a Denise, morava aqui e eu em Juiz de Fora. Me formei em sociologia lá, em seguida consegui um emprego na Fundação Educacional. Tudo que eu olhava em Brasília, achava bonito. Foi um encantamento geral, estava amando, né?; Jorge prefere não falar de política no local de trabalho, nem da relação com Lula, amigo de longa data. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mas, depois de um bom gole de vinho alentejano, relaxa e lembra dos tempos difíceis da ditadura e da luta para a criação do PT. Quando o assunto volta à literatura, gosta de declamar Leminski, Chacal e seus próprios versos, como o irônico e rebelde poema sobre sua estrada da vida: Se eu olhar Pra trás Rio pra dentro... Salve, Jorge.