postado em 22/09/2009 10:37
A homenagem à Legião Urbana rendeu o momento mais emocionante da 12; edição do Porão do Rock. Mas, antes que Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá entrassem em cena, o festival já havia se transformado numa feliz celebração do passado do rock brasiliense. Três gerações se revezaram no palco principal em cerca de 12 horas de shows. Numa noite de flashbacks e reencontros, os anos 1980 saíram em vantagem. Todo o primeiro bloco da programação ; que começou às 16h40 e foi até 22h35, quando Dado e Bonfá voltaram para o camarim ; destacou o período em que Brasília conquistou o status de ;capital do rock;. Do metal ao ska, o público entrou no jogo e participou com entusiasmo de um revival que, não sem surpresas, passou a limpo a trajetória de algumas das principais bandas nascidas na cidade. No elenco de veteranos, a Plebe Rude provou que é possível remeter ao passado sem extrapolar no saudosismo. O quarteto resumiu o espírito da segunda noite de Porão: o diálogo entre diferentes fases do rock local pulsou naturalmente. Em tempo de maturidade furiosa, os guitarristas Philippe Seabra e Clemente valorizaram as performances do baterista Txotxa (cria dos anos 1990, ele voltaria ao palco com o Maskavo Roots) e do baixista Pedro Ivo (do Prot(o), no lugar de André X, que estava viajando) e, com peso e entrosamento, rejuvenesceram clássicos como Até quando esperar e Brasília e atualizaram o discurso indignado. ;A Plebe Rude é a banda mais p; de Brasília. Sempre estamos p; com alguma coisa;, disse Seabra, que chegou a atiçar o coro ;Sarney, filho da p;;
Enquanto a Plebe fez questão de olhar para frente ; mesmo com um repertório antigo ;, Os Paralamas do Sucesso embarcaram no túnel do tempo com um baile pop, aquecido por metais de ska e um Herbert Vianna inspirado. A bronca política até apareceu (;Vamos fazer barulho pra acabar com a corrupção;, pediu o baterista João Barone), mas o tom geral era de festa. Com total cumplicidade do público ; que fez do show o momento mais animado da edição do festival ;, o trio converteu o gramado da Esplanada dos Ministérios em pista de dança, com uma seleção de hits como Meu erro, O beco, Ela disse adeus e um medley com Alagados e Sociedade alternativa, de Raul Seixas. Uma fórmula até batida, mas que se provou eficiente.
Segundo estimativas da organização do evento, o público já chegava a 40 mil pessoas. No gramado, a plateia não se limitava a velhos fãs. O analista de sistemas Francisco Tadeu Lelis, de 44 anos, levou o filho Felipe, 14 anos, para conferir o retorno dos oitentistas. ;A minha juventude aconteceu na época de ouro do rock de Brasília. O movimento daquela época não vai se repetir;, disse. Felipe, que é fã de bandas pesadas como Funeral for a Friend e está aprendendo a tocar guitarra, aprovou os ídolos do pai. ;Gostei muito da Plebe Rude. É um rock animado que dialoga com o público;, avaliou.
Os fãs da Plebe e do Paralamas esbarraram em algumas boas surpresas. Levando a ferro e fogo o conceito de homenagear o rock de Brasília, o Porão conseguiu reunir um time de bandas aposentadas. Em casos como o do Escola de Escândalo, que encerrou a carreira em 1986, a impressão era de que nem a própria banda sabia o que esperar do show ; um efeito que garantiu o interesse por uma ótima performance. Liderada pelo vocalista Sylvio J (ex-Pravda), e com os resistentes Gerusa (baixo) e Balé (bateria), a banda fez justiça ao culto dos roqueiros e pelo menos duas canções que marcaram a história do rock da cidade: Luzes e Complexos.
Como uma espécie de continuação da noite pesada de sábado, a tarde de domingo abriu com uma reunião das metaleiras Fallen Angel e Dungeon. E, se o clima era de tributo, nada mais justo que o tributo a Luiz Eduardo ;Fejão;. Morto em 1996, o guitarrista integrou os dois grupos. ;Você estará para sempre em nossos corações;, disse o vocalista Alemão. Já os punks do Detrito Federal (com Alex Podrão no vocal) lembraram Marcão Adrenalina (morto há dois anos) ao lado do convidado Babu, do Diamante Cor de Rosa. ;Vamos homenagear um grande poeta de Brasília. E não estou falando de Renato Russo;, provocou o guitarrista Bosco. Ao público que acompanhou desde o início, ficou uma aula sobre a diversidade do rock candango ; e dos anos 1980.
Colaborou Marina Severino