postado em 22/09/2009 13:35
Voltei a assistir a novela das oito. Tentei, no início de Caminho das Índias, acompanhar a trama de Gloria Perez. Confesso que o folhetim não me agradou nem um pouco. Ouvi de pessoas próximas a mim a mesma coisa. Dificuldade em lidar com outras culturas? Talvez não seja esse o motivo. Acho que, pelo menos até onde assisti, estava muito confusa a divisão dos núcleos. Fato é que essas mesmas pessoas não resistiram a pregar o olho nos últimos capítulos da história de amor entre Raj (Rodrigo Lombardi) e Maya (Juliana Paes). Eu continuei mudando de canal ou fazendo outras coisas bem distantes da tevê.Agora, com Viver a vida, de Manoel Carlos, tudo mudou. Acompanho com interesse cada capítulo da novela. Graças a Manoel Carlos, que sabe levar com brilhantismo a classe média carioca para a telinha. Tudo bem que as tramas do autor são carregadas de clichês e exageros. No entanto, são elementos essenciais num folhetim das oito, aos quais ele adiciona temas contemporâneos que muitos não têm coragem de abordar.
Exemplos? Vários. Vou citar apenas alguns recentes. Lembram de Clara (Joana Morcazel), a menina com síndrome de Down adotada por Helena (Regina Duarte) em Páginas da vida? E de Capitu, a garota de programa vivida por Giovana Antonelli em Laços de família? Sem esquecer da Helena (Vera Ficher), que ; na mesma novela ; teve um relacionamento com um rapaz (Reynaldo Gianechini) mais novo no início da trama. Tem também a Helena (Christiane Torloni) de Mulheres apaixonadas, que deixa o casamento de anos para viver um novo amor. Dramas reais em formato ficcional. Isso tudo em horário nobre.
E a polêmica já dá as caras em Viver a vida. Relacionamentos entre homens mais velhos e mulheres jovens não são novidade. Mesmo que esse casal seja constituído por um branco com uma negra. O que ele traz à reflexão já é um grande avanço. Helena (Taís Araújo), que no segundo capítulo da trama conhece o milionário Marcos (José Mayer) é uma modelo negra, famosa e bem-sucedida. Ou seja, não está inserida no quadro de atrizes negras que estamos cansados de assistir na tevê: empregadas, prostitutas, escravas, mães solteiras da periferia...
Porém, o que me faz ficar de frente à tevê para assistir às tramas de Manoel Carlos é a alegria que os personagens (quase) sempre carregam. Parece que o sol brilha mais forte no Rio de Janeiro do autor. Viver a vida ainda está no começo, mas essa nova receita de Manoel Carlos contém ingredientes para mais uma obra marcante da tevê. É aguardar e torcer.