postado em 25/09/2009 09:31
A primeira imagem que Gracilene Oliveira guarda na memória do Cirque du Soleil é de uma reportagem do Fantástico. A data exata ela não tem. "Era algo bem longe, distante da minha realidade", lembra a goiana, hoje uma dos 51 artistas integrantes do espetáculo Quidam, atração da companhia canadense até o dia 4 de outubro no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. "Nunca imaginei que um dia chegaria aqui", comenta.
Destaque no ousado número das redes espanholas (Spanish webs), hoje ela divide o palco com outros cinco colegas de performances, dois deles brasileiros. Juntos, representam o paÃs dentro do show que já foi visto por mais de 9 milhões de pessoas em todo o mundo. Os três, somam-se aos quase 40 artistas nacionais que fazem parte dos 17 espetáculos existentes no currÃculo da gigantesca trupe. "O Cirque contrata muitos brasileiros. Eles encontraram esse canal, acham que temos um estilo legal de trabalhar, fácil de lidar e, na opinião deles, somos talentosos", observa a jovem acrobata, há quatro anos percorrendo o mundo com o grupo.
Para fazer parte de um dos maiores espetáculos da Terra, uma longa estrada foi percorrida pelos três artistas. Ginasta por formação, Gracilene Oliveira só conseguiu uma vaga no "circo do sol" depois de oito anos de experiências na companhia do ator Marcos Frota. O longo estágio lhe valeu confiança de sobra para aperfeiçoar a apresentação que todas as noites encanta milhares de pessoas. "Na época eles estavam precisando de ginastas de outras praças para fazer um número, o Marcos Frota queria que tivesse essa mistura dentro do circo. Eu aceitei", comenta. O ano era o de 1996, coincidentemente a mesma data em que estreava em Montreal o espetáculo Quidam. "Fui lá, fiz o teste, o Marcos gostou do que viu e me convidou para acompanhar o show. Não pensei duas vezes. Era uma oportunidade única", conta.
A ideia de mandar uma apresentação gravada para o escritório de Montreal, sede do Cirque du Soleil, partiu de um colega de palco. Depois de algumas audições em Buenos Aires e outras no Brasil, finalmente veio o contrato. "Para o artista, o acrobata, estar no Cirque du Soleil é o auge da carreira. Aqui eles dão toda a estrutura, valorizam ao máximo para que possamos dar o melhor que podemos em cena", observa.
Colega de Gracilene no número das "cordas", o baiano Jailton Carneiro é o brasileiro há mais tempo no espetáculo Quidam. Acompanha o show há sete anos. No mês passado, teve oportunidade de apresentar seu número das "cordas voadoras" na cidade natal. A experiência, segundo ele, foi inesquecÃvel. "Esperei sete anos por esse momento e foi grandioso poder mostrar o meu trabalho para a famÃlia e amigos. Estar no Cirque não era um sonho meu, aconteceu na minha vida, por isso foi gratificante esse encontro", descreve o artista, que entrou para o circo aos 12 anos, por meio de projeto social realizado junto à crianças carentes da grande Salvador. "Comecei como aluno e fui professor. Depois me mudei para o Rio de Janeiro, onde treinei quatro anos na escola de circo Picadeiro. Neste perÃodo fiz teste para o Cirque e passei", detalha.
Com direito a folga uma vez por ano, geralmente duas ou três semanas, os artistas brasileiros fazem o que podem para visitar os familiares. Há seis anos no espetáculo Quidam, também na performance Spanish webs, a curitibana Denise Wal não espera a hora de rever os parentes e reencontrar a cidade que não vê há 20 anos. A capital curitibana é a última parada do Cirque du Soleil pelo Brasil em 2009. Depois a trupe segue para o Rio de Janeiro e São Paulo. "Saà da cidade com 21 anos e nunca mais voltei. Acho que se hoje eu dirigir lá me perco", brinca a artista, que já levou a mãe para assistir ao show na Espanha e no Canadá. "Com a volta à minha cidade fecho um ciclo da minha vida. Terá um significado especial rever as pessoas do meu passado", acrescenta.
Com a passagem da trupe por BrasÃlia, Gracilene Oliveira conseguiu folga extra e visitou a famÃlia por uma semana. Animada, reuniu 45 pessoas, entre parentes e amigos, que viajaram de ônibus os 209 km que separam a capital goiana do Distrito Federal. "Estou aproveitando o máximo a passagem do Cirque pelo Brasil. SaÃmos de Salvador e fui direto para Goiânia", revela. "FamÃlia de brasileiro não é pequena", ri.
GRACILENE OLIVEIRA
Com 35 anos, a artista goiana é a caçula do grupo brasileiro em Quidam. Acompanha o show há quatro anos. Ginasta, abandonou o curso de educação fÃsica para acompanhar o circo do ator Marcos Frota, em que trabalhou por oito anos. Antes de entrar para o Cirque du Soleil trabalhou em outros circos pela Europa. Além do número Spanish webs, encarna no palco a personagem da coelhinha atrevida.
DENISE WAL
Formada em biologia, a curitibana não vê sua cidade natal há 20 anos. A carreira circense começou na escola de circo Picadeiro, em São Paulo. Foi lá que conheceu o baiano e colega Jailton Carneiro. Há seis anos viajando com a trupe canadense, encarna também no show a personagem da mãe.
JAILTON CARNEIRO
Baiano de Salvador, o acrobata Jailton é o veterano brasileiro no espetáculo que já foi visto por mais de 9 milhões de pessoas em todo o mundo. Com 33 anos, começou a carreira no circo aos 12 anos de idade, via projeto social realizado com crianças carentes de sua cidade natal. Eventualmente encarna em cena o personagem Boum-Boum, que percorre o palco de Quidam com seus urros e luva de boxe, e The Target, o alvo.
SPANISH WEBS
Três brasileiros fazem parte do número que envolve outros três artistas internacionais. São eles: o húngaro Viktor Katona, a russa Natalia Pestova e o alemão Tony Mevius, até pouco tempo namorado da brasileira Gracilene Oliveira. "Ficamos noivo na Muralha da China", lembra a artista. Ousada, a performance em grupo transporta os acrobatas em voos mirabolantes pelo ar com cordas atadas à cintura e aos tornozelos
Ouça entrevista com Gracilene Oliveira