Diversão e Arte

Apesar do alto custo, pelo menos duas editoras brasilienses mantêm espaço aberto para os novos escritores

postado em 29/09/2009 08:10

; Luciano Marques

Longe das grandes editoras do país, que prezam pelo lado mercadológico dos livros, e não o cultural, encontra-se a Thesaurus Editora, que se especializou em pequenas tiragens, e a LGE Editora, que tem em seu catálogo cerca de 50% de autores radicados em Brasília.

A Thesaurus tem publicado livros em todas as áreas, com os mais diversos tipos de envolvimento ; por conta própria, de terceiros, parceiros e coedições. ;Não somos mercenários, ou seja, não pensamos só em lucro. O que nos interessa é editar uma boa publicação, distribuir cultura;, garante o editor Victor Alegria. ;E tentamos atender a todos que nos procuram. Essas características fazem com que existamos há 35 ano.;

Victor Alegria conta que recebe vários originais por mês e edita, pelo menos, quatro por semana. ;Procuramos ter um relacionamento crítico e ético com o autor;, conta o editor, que tem em seu catálogo 99% de brasileiros.

A LGE Editora é outra da cidade que aposta no trabalho dos candangos. E são muitos os originais recebidos, como conta o diretor-executivo Antônio Carlos Navarro. ;Recebemos cerca de 200 obras por mês. É claro que, desses, no máximo dois são aprovados. Mesmo assim nos orgulhamos em ter metade do catálogo formado por autores brasilienses;, aponta. Segundo Navarro, a dificuldade de se tornar um escritor no Brasil esbarra no preconceito. ;Há uma discriminação enorme com os novos autores. Já temos um baixo índice de leitura no país e, para piorar, os leitores dificilmente apostam em um novo nome na praça;, destaca Navarro. ;Os leitores deveriam saber que os autores de best-seller foram, um dia, escritores desconhecidos.;

Tanto Victor quanto Navarro apontam também um outro vilão: o custo. O grande problema do mercado editorial nacional estaria nas livrarias e distribuidoras. ;As grandes livrarias cobram entre 50% e 65% do preço do livro. É por isso que os preços estão lá em cima. Se não cobrassem tanto, nosso mercado melhoraria, mais pessoas leriam e mais autores seriam lançados;, destaca Victor.


Para apresentar o original para análise da Thesaurus, basta entrar em contato com a editora por e-mail ou telefone (3344-3738). Na LGE, é preciso entrar em contato pelo endereço www.lgeeditora.com.br para receber as regras de envio.


Do próprio bolso

Para fugir da impiedosa peneira, muitos autores resolvem tirar dinheiro do próprio bolso e publicar seus livros de forma independente. O objetivo é sempre chamar a atenção das editoras. No entanto, para os especialistas do mercado, a investida pode acabar com as chances da obra. ;Esse definitivamente não é o caminho para aquele que quer se estabelecer como escritor;, aponta Luiz Vasconcelos, editor chefe da Editora Novo Século. ;Alguns erros cometidos nessas edições independentes podem ser irreversíveis;, alerta.

[SAIBAMAIS]Luiz Vasconcelos descobriu André Vianco, autor de Os sete, dessa forma. O jovem escritor paulista investiu seu dinheiro e lançou seu livro sozinho. O título, que começou a ser bem vendido nas livrarias, chamou a atenção do editor da Novo Século. ;Foi uma exceção. Se o livro tiver apelo comercial e for realmente bom, o caminho certo é o da editora;, conclui.

Uma das virtudes necessária nessa busca pela publicação do livro é a paciência. As editoras só respondem sobre a análise dentro de um prazo que vai de três a seis meses. E não adianta ligar, pois a resposta geralmente vem por carta ou e-mail.

Sorte Grande


Após uma longa peneira, o escritor selecionado ainda tem de esperar bastante para comemorar. Assim que o contrato é assinado, a obra começa o longo percurso até chegar às livrarias. Contrato assinado, o autor ajudará na preparação da obra, como correção ortográfica, ajustes no texto e produção da capa. Há ainda todo um planejamento de marketing e distribuição. É claro que cada editora tem seu próprio tempo, mas para se ter uma ideia, esse processo pode durar de três meses a um ano na Editora Rocco.

Livro lançado, que venham os lucros. Não é tão animador assim, a não ser que você desponte como um novo Dan Brown. Os escritores recebem, em média, 10% do preço da capa. Ou seja, se o livro for vendido nas livrarias por R$ 30 e esgotar sua primeira impressão de 3 mil exemplares (o que seria um feito e tanto), o autor embolsaria R$ 9 mil. ;Poucas pessoas vivem somente como escritor;, garante Joaci Pereira. (LM)


Caminho difícil

Antes de se preocupar com as dificuldades do mercado editorial brasileiro, consumido pelos títulos estrangeiros, é preciso saber que não é nada fácil convencer uma editora a apostar em você e publicar o seu livro. A seleção é extremamente rigorosa e, mesmo com talento, são poucos os títulos que chegam a receber investimento e passam a fazer parte do catálogo.

O primeiro passo é procurar o site da editora. A maioria possui um ícone que explica as regras para o envio de originais. Normalmente eles estão como ;Publique seu livro; ou ;Seja nosso autor;. As regras são geralmente as mesmas para todas elas: o autor deve enviar pelo correio uma cópia impressa de seu trabalho, encadernada (aquela simples, em espiral), e uma carta de apresentação. São os casos de editoras como a Conrad, Novo Século, Sextante, etc. Algumas, como a Globo e a Rocco, recebem originais por e-mail e CD. Poucas aceitam nos dois formatos, é o caso da Devir.

É difícil de acreditar, mas são enviados às editoras cerca de 360 originais para análise por ano ; praticamente um por dia. Algumas, como a Novo Século, chegam a receber cinco títulos diariamente. E aí está um dos maiores problemas dessa grande ;peneira;. O departamento editorial responsável por analisar os livros recebidos raramente tem mais que cinco profissionais. Mas a maioria garante que analisa tudo. ;O conselho editorial lê cada obra integralmente e as selecionadas são encaminhadas aos pareceristas especializados;, conta Joaci Pereira, coordenador editorial da Globo.

Catálogo

Poucos são os originais enviados que chegam a uma análise mais profunda e menos ainda os que conseguem lograr êxito, como diz Adriano Fromer Piazzi, editor da Aleph. ;Acredito que não chega a 3% do catálogo, e isso em quase todas as editoras. É muito raro conseguirmos publicar uma obra recebida que não tenha sido previamente solicitada ou indicada;, garante.

O segredo do sucesso, em parte, está na seleção das editoras. Se seu livro é de ficção, procure as editoras que apostam nesse nicho. Algumas editoras já explicam em seus sites que não se interessam por esse ou aquele gênero. Caso contrário, o jeito é dar uma boa olhada no catálogo.

A carta de apresentação também é importante. Tudo o que já foi publicado por você deve constar neste documento. Seus feitos profissionais, seus interesses, planos e expectativas também contam. E por último, mas não menos importante, a sinopse da obra.

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