Renato Alves
postado em 30/09/2009 14:02
No ano do seu cinquentenário, Brasília deve ganhar as telas de todo o país por meio de um dos maiores clássicos do rock candango e nacional. Com previsão de lançamento até dezembro de 2010, Faroeste Caboclo, o longa-metragem, será ambientado no Distrito Federal do fim da década de 1970, onde e quando Renato Russo escreveu a música homônima. O roteiro procura ser fiel aos versos da letra(1), sucesso da Legião Urbana, que retrata a violência e as desigualdades brasilienses de 30 anos atrás, tendo como protagonista o personagem João de Santo Cristo.
A filmagem está prevista para começar em maio, com finalização em sete semanas. Tendo como diretor o brasiliense René Sampaio, grande parte do elenco será do DF. Os nomes ainda não estão definidos. ;Já fizemos teste de elenco na Bahia, Rio e São Paulo. Ainda faltam Belo Horizonte e Brasília;, avisa a produtora Bianca De Felippes. Ela representa a Gávea Filmes (RJ), que divide a produção do longa com a República Pureza (RJ) e a Fogo Cerrado Filmes (DF).
Os produtores compraram um fonograma da música-tema com a voz de Russo para fazer arranjos e orquestração, uma versão inédita de Faroeste Caboclo, encontrada pelo jornalista e produtor musical Marcelo Fróes. Localidades do DF não citadas na canção também devem servir de locação, pois, segundo o diretor René Sampaio, os cenários de algumas regiões sofreram muitas transformações, como construções com características muito diferentes das que existiam na década de 1970.
René conta que São Sebastião, por exemplo, tem grandes possibilidades de ser escolhida para abrigar a locação onde será reconstruído cenograficamente o Lote 14 da Ceilândia, terreno em que ocorre o duelo final entre os protagonistas da música. ;Será uma pequena cidade cenográfica. Mas, devido aos diversos locais que teremos que filmar, o comércio de Ceilândia, e Taguatinga, a Praça do Relógio, o centro histórico de Planaltina, entre outros pontos, deverão ter locações também;, explica.
O diretor acredita que todo o DF vai se ver nas telas de cinema com Faroeste Caboclo. ;O filme mostrará os contrastes sociais da época e que, infelizmente, ainda são muito atuais. É um filme que se passa tanto no ambiente e na cena rock dos anos 1980, como nos forrós e soul music que agitavam a periferia e as cidades satélites. Estamos retratando o encontro desses dois mundos. Mas focado na história de amor de João do Santo Cristo e Maria Lúcia. Um bandido encantador que se apaixona e tenta largar o crime por amor a uma menina forte, mas pura e sonhadora.;
Roteiro e dinheiro
No momento, os produtores trabalham em uma nova versão do roteiro escrito por Paulo Lins (Cidade de Deus). ;Passamos também no Laboratório Sesc Rio de roteiros e contamos com a consultoria do Bráulio Mantovani e do diretor italiano Cristiano Bortone;, conta Bianca De Felippes. ;O teste de elenco em Brasília será um pouco antes de iniciarmos a produção, porque também teremos que contratar equipe. Dependemos do roteiro finalizado para sabermos a quantidade de personagens;, completa.
Os produtores contam com o clima seco para as locações no Plano Piloto, Taguatinga e Ceilândia, além do valor de R$ 900 mil para cobrir os custos de parte do projeto, orçado em R$ 4 milhões. ;Queremos fechar um aporte financeiro de Brasília pois é um filme rodado por um diretor brasiliense, com a co-produção de uma produtora da cidade e geraremos muito trabalho para mão de obra local nos quatro meses de produção;, reivindica Bianca.
Faroeste Caboclo será o primeiro longa de René e o trabalho de estreia da Gávea Filmes. Bianca é ex-sócia de Carla Camurati na Copacabana Filmes. ;Um projeto como este realmente demora um certo tempo para estar maduro e ser rodado. Mas a captação levou mais tempo do que prevíamos. O que de certa forma foi positivo, pois o roteiro amadureceu bastante e esse filme deve ser lançado no cinquentenário de Brasília;, afirma Bianca.
1 - Tragédia brasileira
Escrita por Renato Russo no fim dos anos 1970, Faroeste Caboclo conta, em 159 versos, as desventuras de João de Santo Cristo, o ;bandido destemido e temido no Distrito Federal;, desde o nascimento numa fazenda no interior da Bahia, à sua morte, num duelo com o traficante Jeremias, em Ceilândia. A letra virou febre nacional após ser gravada e lançada pela Legião Urbana em 1987, por meio do disco Que país é este?, o terceiro da banda. A canção tem mais de nove minutos de duração.
Entrevista
Correio ; Quando começam as locações do filme Faroeste Caboclo?
René Sampaio ; Já começamos. Marcello Maia, um dos produtores do filme, veio me encontrar em Brasília no final do ano passado para procurar os principais pontos que devemos filmar e dimensionar o tamanho da intervenção que a direção de arte vai ter que fazer para reproduzir trechos de Taguatinga, Ceilândia e Plano Piloto do final dos anos 70 e início dos 80. Ainda esse ano, mas sem data marcada, virá o diretor de arte que estamos fechando para o longa para fazer o projeto e dimensionar o tamanho exato do que terá que ser construído, custos etc. Estamos já em busca de parcerias com as construtoras e empresas que ajudaram e ainda estão erguendo a capital para apoiarem essa construção com material, mão de obra, logística.
Correio ; Onde serão as locações?
René Sampaio ; Nosso intento é filmar absolutamente tudo próximo a Brasília e na fronteira com Goiás. As cenas de Brasília, graças à conservação do projeto original (de Lucio Costa), devido ao tombamento da cidade, serão todas nas quadras antigas do Plano Piloto. Carros de época, figurinos, vão completar o visual da época. Vamos ter que desenquadrar ou retirar postes e placas novas, mas no geral, tudo pode ser adaptado, Já Ceilândia, nessa época, era repleta de barracos de madeira, que ficavam nos fundos do terreno. Apesar da precariedade das construções, era bastante organizada, pois as ruas eram divididas e planejadas. Como todas as cidades satélites, a cidade cresceu e se desenvolveu muito. Isso mudou e descaracterizou bastante o visual original, mas já descobrimos alguns novos lugares que hoje são muito parecidos com o que havia de construção e urbanização à época do filme: barracos de madeira, largas ruas de terra bem patroladas e delimitadas. A região de São Sebastião, por exemplo tem grandes possibilidades de ser escolhida para abrigar essa locação onde vamos reconstruir cenograficamente o que for preciso para fazer Ceilândia, o Lote 14, por exemplo. Será uma pequena cidade cenográfica. Mas acho que devido aos diversos locais que teremos que filmar, o comércio de Ceilândia, e Taguatinga, a Praça do Relógio, a região de chácaras, o centro histórico de Planaltina, entre outros pontos, deverão ter locações também. Mesmo as cenas da infância pobre do Nordeste estamos estudando rodarem algum lugar árido próximo. Acho que vamos ter mais sinergia concentrando a equipe em Brasília e arredores do que saindo viajando pelo Brasil. Vamos procurar locais, fazendas, algum vilarejo simples que possa ser adequado. Assim como ninguém vai ao espaço para filmar ficção científica, vamos recriar em Brasília o que for Nordeste, aproveitando as similaridades do cerrado, das chapadas e do Planalto Central com o que nos interessa mostrar. Vamos precisar de estúdio para algumas cenas. Talvez a estrutura do Pólo de Cinema (em Sobradinho) possa nos ajudar. Vimos como está o galpão que tem em Sobradinho e existe a possibilidade de construirmos algo nele. Mas ainda não fechamos nada pois falta uma conversa com o diretor de arte para ver a viabilidade disso.
Correio ; Qual o tamanho da participação de Brasília nas gravações? A cidade vai se vê nas telas?
René Sampaio ; Nosso filme vai mostrar os contrastes sociais da época e que, infelizmente, ainda são muito atuais. Mas será focado na história de amor de João e Maria Lúcia. Um bandido encantador que se apaixona e tenta largar o crime por amor a uma menina forte, mas pura e sonhadora. Os ambientes e situações vão servir a essa história. Acho que o DF inteiro vai se ver na tela. É um filme que se passa tanto no ambiente e na cena rock dos anos 80, como nos forrós e soul music que agitavam a periferia e as cidades satélites. Estamos retratando o encontro desses dois mundos. Como já disse, vamos enquadrar do Plano Piloto e adjacências até o final da Ceilândia e fronteira com Goiás.
Correio ; Quanto tempo demoram as gravações?
René Sampaio ; Sete ou oito semanas.
Correio ; Quando devem ser finalizadas?
Vamos filmar na próxima seca. Estamos definindo a data exata, mas devemos começar no final de maio ou início de junho, quando a cidade ainda está um pouco verde e ir até julho, quando a terra já está bem vermelha e a poeira está no ar. Ah, sim, como queremos filmar na seca e lançar no final do ano, já filmamos as luzes de Natal. Fiz uma diária com equipe 100% de Brasília e produzimos carros de época e um ônibus original para fazer esta passagem. Ficou lindo! Quando fizermos o restante do filme, faremos apenas a cena do João dentro do ônibus olhando para fora. Na montagem, juntamos tudo.
Correio ; O elenco está definido? Quais os nomes até agora? Quem serão os protagonistas? Quantas pessoas?
René Sampaio ; Ainda vamos fazer testes em Brasília para diversos papéis. Mas serão não menos do que 40 personagens com fala.
;;;;;;;;;;;;;;-
FICHA TÉCNICA
FAROESTE CABOCLO, O FILME
Inspirado na música homônima de Renato Russo, Faroeste Caboclo contará a história de João de Santo Cristo, desde o nascimento numa fazenda no interior da Bahia, à sua morte, num duelo com Jeremias em Ceilândia.
Ficha técnica
Roteiro ; Paulo Lins
Direção ; René Sampaio
Produção ; Bianca De Felippes (Gávea Filmes) e Marcello Ludwig Maia (República Pureza Filmes)
Paulo Lins
Autor do livro Cidade de Deus, que deu origem ao filme homônimo e recebeu quatro indicações ao Oscar 2004 (melhor diretor, melhor fotografia, melhor montagem e melhor roteiro adaptado). Paulo Lins assinou os episódios de Cidade dos Homens, da TV Globo, e o roteiro do longa Quase Dois Irmãos (2004),de Lúcia Murat.
René Sampaio
Faroeste Caboclo será seu primeiro longametragem e também o primeiro longa da produtora brasiliense Fogo Cerrado Filmes, que produziu em Brasília todos os curtas do diretor: Antes do Fim, O Homem, Sinistro e Contatos.
Marcello Maia
Produtor dos longas Um Passaporte Húngaro, Moacir Arte Bruta, Amarelo Manga e A Erva do Rato, entre outros.
Bianca de Felippes
Por 14 anos, foi sócia da Copacabana Filmes e é reconhecida produtora de longas e distribuidora de filmes, além de se destacar com mais de 100 peças de teatroproduzidas. Montou a sua própria produtora, a Gávea filmes. Ptroduziu os longas Copacabana, La serva Padrona, Carlota Joaquina, entre outros.