Diversão e Arte

Maria Bethânia lança dois discos e prepara turnê pelo país

Enviado Especial
postado em 01/10/2009 09:43
Disco de Maria Bethânia. Lançamento Quitanda, 11 faixas. Preço: R$ 34,90.Rio de Janeiro ; Amor, festa, devoção. Com as três palavras, Maria Bethânia define o início de mais um ciclo de sua vida profissional. Chegam às lojas na próxima semana os dois disco mais recentes da cantora: Tua, pela Biscoito Fino, e Encanteria, pelo selo Quitanda. Ambos elaborados apenas com canções inéditas. No primeiro, ela canta o amor. No segundo, evoca as crenças de uma Bahia mística e múltipla, que teceram sua própria fé. ;São discos que falam de mim e por mim;, revela. Os dois álbuns serão a base para um novo show, com estreia marcada para o dia 23, no Rio. O espetáculo chega a Brasília em dezembro, nos dias 17 e 18, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Disco de Maria Bethânia. Lançamento Biscoito Fino, 11 faixas. Preço: R$ 34,90.A rotina faz com que Bethânia chegue cedo em um estúdio, localizado nos pés do Corcovado. Tem vivido ali a maior parte do dia, repassando as 22 canções, recentemente gravadas, para preparar o novo show. No último mês, só ficou fora dali por uma semana, quando seguiu para Santo Amaro da Purificação, cidade natal localizada no Recôncavo baiano. Foi comemorar os 102 anos de aniversário da mãe, dona Canô. [SAIBAMAIS]A viagem fez com que ela decidisse atrasar em uma semana o início da turnê. O show terá direção de Bia Lessa, regência de Jaime Alem e deve trazer praticamente todo o repertório dos novos discos. ;Ainda não tive tempo para pensar nas outras canções e textos que vão entrar;, desconversa. Bethânia decidiu por enxugar a banda, para que a voz seja valorizada no espetáculo. ;Quando temos uma orquestra muito grande, há muitas ocupações. Temos de estar atentas ao texto, à postura, à interpretação, e à afinação de cada um dos instrumentos. É um mundo muito grande. Se for um pouco mais silencioso, é melhor para mim.; Estrear, entretanto, somente quando tudo estiver perfeito. ;Vivo para o meu trabalho, é a minha vida. Não interessa fazê-lo de qualquer jeito;, justifica. É assim em tudo na vida: do lado de fora do estúdio, tira a jaqueta, reclamando do calor carioca. Basta entrar no estúdio para recolocá-la, queixando-se do tênue ar condicionado. A rigidez, segundo ela, vem sendo apurada com o tempo. ;Estou muito menos tolerante, insuportável (risos). Sou muito rigorosa comigo, principalmente quando lido com os outros. E espero rigor comigo também;, dispara. Não é à toa que Wally Salomão, compositor e amigo, a chamava de Maria Britânica. Mas engana-se que o pulso firme impera a todo momento. A jocosidade do Recôncavo surge a cada momento, em tiradas espirituosas sobre tudo que comenta. Bethânia conta que a alegria é um mandamento familiar, com origem em dona Canô. ;Amor, festa e devoção são palavras de ordem para minha mãe. Vejo um subtexto por trás disso, que é fé, esperança e caridade. É assim que realizamos nossa vida;, diz. As palavras, usadas também para definir a nova obra, revelam a Bethânia de hoje. Em Tua, intitulado a partir de canção homônima de Adriana Calcanhotto, o amor surge intenso, pleno enquanto sentimento. Algo bem diferente das canções passionais, que tanto pontuaram sua carreira. ;Não acho que estou cantando canções melosas, nem duras, nem frias, nem pensadas. Estou cantando o amor, uma forma também de me proteger, até dele mesmo (risos);, comenta. A mudança, segundo ela, também é resultado da maturidade. ;A maneira de interpretar é que é outra. Aos 63 anos, vemos tudo diferente;, completa. O amor se mostra límpido em Até o fim (César Mendes/Arnaldo Antunes) e Remanso (Moacyr Luz/Aldir Blanc). Em Saudade (Chico César/Paulinho Moska), o belíssimo dueto com Lenine, sobre o vazio que o amor deixa quando se esvai. Fé múltipla Em Encantería, a força da fé múltipla, que se expressa na indumentária da própria Bethânia no dia a dia. De branco dos pés à cabeça, anel de São Jorge no anelar direito, a face de um caboclo no mindinho esquerdo, Oiá, Oxum, Oxóssi, Ogun e Xangô no pescoço, em fios de contas do candomblé. ;Sou católica de berço, filha de Nossa Senhora da Purificação. Mas na Bahia tudo está embolado, batido como a massa do acarajé. Não tem racha entre Portugal e África, colonizador e escravo;, explica. A faixa-título do disco, de Paulo César Pinheiro, exalta os encantados do tambor de mina, culto tipicamente maranhense. O conterrâneo Roque Ferreira assina quatro das 11 faixas (Feita na Bahia, Santa Bárbara, Coroa do mar e Minha rede). Alegre e dançante, o disco também tem Vanessa da Mata (Ê senhora), Roberto Mendes e Nizaldo Costa (Saudade dela) e o estreante Vander Lee (Estrela), nunca antes gravado por Bethânia. Cantar Linha de caboclo, de Paulo César Pinheiro, é para Bethânia algo além da louvação. É a forma encontrada para exaltar os valores nativos brasileiros ; especialmente o respeito pela natureza, valor recorrente na obra de Bethânia desde o início da carreira. ;Quero cantar mais sobre isso, para lembrar que precisamos levar a vida com mais suavidade. A natureza tem mostrado que o progresso vazio leva à destruição. O mundo precisa respirar. A floresta não respira, o rio não respira, ninguém mais respira;; O repórter viajou a convite da gravadora Biscoito Fino Ouça trechos das faixas É o amor outra vez, Feita na Bahia e Saudade dela

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