Diversão e Arte

De escolas distintas, Cláudio Baltar e Fábrio Ferreira unem experiência de circo e teatro contemporâneo em Mistério bufo

postado em 02/10/2009 09:42
Cena do espetáculo Mistério bufoCláudio Baltar e Fábio Ferreira são apaixonados pelo teatro. Gostam de se envolver de corpo e alma em seus projetos. Cláudio tem vasto currículo com a companhia carioca circense Intrépida Trupe, enquanto Fábio se dedica ao teatro contemporâneo e é um dos fundadores do festival riocenacontemporânea. Eles, porém, nunca tinham trabalhado juntos. Decidiram que estava na hora de unir os dois conhecimentos em um espetáculo grandioso, com forte impacto visual. A definição se deu num desses e-mails trocados em fim de ano. Em dezembro de 2007, Fábio enviou a Cláudio um poema de Vladimir Maiakovski que falava de esperança (O percevejo). Depois de vários encontros regados a cafezinhos, surgiu o espetáculo Mistério bufo, cuja estreia nacional foi no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A peça fica em cartaz até o dia 12. Com perfis diferentes, um define o outro como ;tranquilo; e ;lunático;. ;Uma pessoa que se deixa levar pela imaginação;, explica Fábio. ;Sua principal característica, a meu ver, foi a construção de um discurso coerente e embasado sobre a montagem, e uma visão clara sobre a condução do processo de trabalho, em todos os setores;, rebate Cláudio. Para os dois diretores, não existe perfeição no teatro. Segundo Fábio, o teatro deve quebrar as regras. ;Detesto peça bem feita! Não faço teatro como quem fabrica produtos... Não produzo nada que possa vender ao público, podemos criar espaços de cumplicidade;, confessa. Não é de se estranhar, entretanto, que as influências de Fábio e Cláudio sejam distintas. O primeiro cita nomes brasileiros como Zé Celso Martinez, Antônio Araújo, Jefferson Miranda e o belga Jan Fabre. Já Cláudio aponta Aderbal Freire Filho, Moacir Chaves e Rubens Corrêa (1931-1996). E como personalidades de pensamentos tão díspares chegaram a um consenso na hora de montar o espetáculo Mistério bufo? ;O diálogo franco e aberto entre nós foi fundamental para o sucesso da parceria. Nossas reuniões de dramaturgia com a Rosyane (Trotta) alimentavam nossos delírios e elucubrações em torno da montagem;, conta Cláudio. ;Ainda nos batemos em decisões dramatúrgicas, pois elas dependem do espaço em que será realizado o espetáculo. O desafio parte de uma dramaturgia que se apoia no próprio espaço cênico;, avalia Fábio. Mistério bufo mal nasceu e já sofreu um baque. Acompanhando a mulher, Luísa Buarque ; filha de Chico Buarque, que faz pós-doutorado em Paris ;, Cláudio desfalca o espetáculo por alguns meses. Mas avisa: ;Fábio conduzirá o processo de evolução do espetáculo. Ficaremos em contato permanente, para que eu possa acompanhar os desdobramentos. Em dezembro, estarei de volta ao Rio de Janeiro, para a segunda fase de ensaios, visando a nossa estreia no Oi Futuro;. MISTÉRIO BUFO De hoje a sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Tc. 2, Cj. 22; 3310-7087). Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos. Crítica Imagens num labirinto ábio Ferreira e Claudio Baltar se uniram a partir de poesia de Vladimir MaiakovskiTinham transcorridos mais de 100 minutos de Mistério bufo quando uma atriz pergunta ao público: ;Quem você ressuscitaria do século 20?; O primeiro espectador balança a cabeça negativamente. O segundo diz ;Gandhi;. A intérprete ouve e reitera: ;Nós (o grupo) ressuscitaríamos Maiakovski;. É sintomático que, naquele ponto da montagem, as pessoas nem percebam que Mistério bufo está a dialogar com a obra do poeta russo. A forma labiríntica da dramaturgia de Mistério bufo distancia o espectador do conteúdo pesquisado. Muitas vezes sem acesso, a opção é por ficar com os fragmentos que flertam com a performance contemporânea, executadas por exímios atores-atletas, como as cenas iniciais de rapel no prédio do CCBB. Coleciona-se, aliás, um belo teatro de imagens, algumas capazes por si só de levar ao âmbito subjetivo do poeta russo. No entanto, ineficazes na construção de uma comunicação global da montagem. Não dá para entender exatamente o que o grupo pretende, por exemplo, quando emenda longo ato de falatório na melhor tradição do teatro de texto com acrobacias aéreas de circo. (Sérgio Maggio)

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