postado em 08/10/2009 09:58
Não é fácil ser cantor num país dominado por cantoras. Zé Renato, no entanto, segue suavemente no meio delas ao longo de três décadas. Voz doce, límpida, compositor de belas melodias e harmonias sofisticadas, esse carioca-capixaba que começou a carreira nos festivais e ganhou projeção como integrante de um grupo vocal, o Boca Livre, acabou se firmando, ainda que discretamente, como um dos grandes intérpretes da música brasileira. Ao lado de seu violão ; instrumento que o acompanha desde os 14 anos ;, passeou com elegância ímpar pelo universo da Jovem Guarda, de Noel Rosa, Chico Buarque, Zé Keti, Sílvio Caldas e Orlando Silva.
Um pouco dessas andanças estão no show que ele faz hoje e amanhã, às 22h, na programação dos 20 anos do Feitiço Mineiro. O nome do espetáculo, Eu e meu violão, Zé Renato pegou emprestado de um trecho de música de Cartola, Festa da vinda (;Eu e meu violão/ Vamos rogando em vão o seu regresso;). O repertório, com umas 18, 20 músicas, foi pinçado dos projetos que experimentou nesses 33 anos de estrada ; participando de grupos como o Boca Livre e lançando discos em carreira solo, coisa que faz desde 1982 (até agora, foram 10 CDs e um DVD).
O roteiro não é exatamente o mesmo do Eu e meu violão que ele apresentou em 2005, em temporadas bem-sucedidas no Paço Imperial e no Mistura Fina, no Rio de Janeiro, e depois levou a cidades como Porto Alegre, Recife, Natal e Fortaleza. Entram na lista canções do Boca Livre, sim, e dos discos solos, inclusive aqueles em que homenageou Sílvio Caldas (Arranha-céu, de 1993) e Zé Kéti (Natural do Rio de Janeiro, de 1995), como Mulher e Diz que fui por aí. Entram, também, versões mais recentes, como a de O tempo vai apagar (de Paulo Cezar Barros e Getúlio Côrtes), uma das faixas do ótimo É tempo de amar(1), CD com repertório da Jovem Guarda que ele lançou em 2008 (e que emplacou na trilha sonora da novela A favorita). E algumas que ainda vêm por aí.
;No show, misturo versões de músicas já gravadas neste formato de voz e violão, tanto nos meus trabalhos solos como nos vários projetos de que participo, com outras canções, coisas que estou planejando, me organizando para fazer;, adianta ele, que não toca sozinho em Brasília faz tempo, mas diz ;ter uma relação ótima; com a cidade. ;Meu próximo disco será de voz e violão, com repertório variado, músicas minhas e de outras pessoas. Nunca tive um disco nesse formato e resolvi fazer agora.;
Além desse álbum, Zé Renato está em estúdio com o Boca Livre, finalizando um projeto sobre o compositor panamenho Rubén Blades que deve ser lançado em 2010. ;Foi o próprio Rubén Blades quem sugeriu que a gente fizesse o disco. O Boca Livre(2) chegou a excursionar com ele, mas num período em que a formação era outra, eu não estava com o grupo;, comenta o cantor, que pode até incluir de última hora alguma música desse novo trabalho. Seria uma adaptação, claro, já que os arranjos foram feitos para quatro vozes.
Zé Renato é assim mesmo, toca vários projetos ao mesmo tempo. Além do Boca Livre, participou de grupos como Cantares (com Marcos Ariel), Banda Zil (também com Ariel, Ricardo Silveira e Zé Nogueira, entre outros) e Al di Meola. Montou dupla com Cláudio Nucci, trio com Victor Biglione e Litto Nebbia. Fez show em dobradinha com Joyce (Encontro das águas, em 2006), com Elton Medeiros e Mariana de Moraes (Alegria continua, que resultou num CD em 1997).
Em 2001, gravou um álbum só com músicas de Noel Rosa e Chico Buarque (Filosofia) e outro, ao lado de Wagner Tiso, em homenagem a Juscelino Kubistchek (Memorial). Depois, fez o mesmo com Sílvio Caldas e Zé Keti. Também idealizou álbuns infantis, os premiados Samba pras crianças e Forró pras crianças. No ano passado, além de reacender a brasa com É tempo de amar, montou mais uma vez o show Orlando Mavioso, em homenagem aos 30 anos de morte de Orlando Silva. Não, ele não é um cantor de multidões. Mas, à sua maneira discreta, é um grande intérprete.
1 -Tantas emoções
É tempo de amar, CD com repertório dedicado a canções da Jovem Guarda, rendeu a Zé Renato o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor cantor de 2008 e o Prêmio da Música Brasileira 2009 na categoria melhor cantor de canção popular. Cinco anos atrás, com o disco Minha praia, ele também foi escolhido o melhor intérprete pelo Prêmio Rival BR de Música.
2 - Trinta anos depois
Zé Renato formou o Boca Livre em 1979, com Cláudio Nucci, David Tygel e Maurício Maestro, e seguiu paralelamente com sua carreira solo. Só se desligou do grupo em 2000. Retornou em 2006 para gravar o primeiro registro em vídeo do quarteto, o DVD Boca Livre ao vivo, com David Tygel, Maurício Maestro e Lourenço Baeta (no lugar de Cláudio Nucci). Agora, está em estúdio novamente com eles, gravando as vozes do CD dedicado a Rubén Blades.
EU E MEU VIOLÃO
Show do cantor e compositor Zé Renato, quinta e sexta, às 22h, no Feitiço Mineiro (306 Norte, Bl. B; 3272-3032). Couvert: R$ 40 (parte interna) e R$ 25 (parte externa). Não recomendado para
menores de 18 anos.