Diversão e Arte

Banda nova-iorquina Dirty Projectors viaja pela paisagens exóticas do rock global

postado em 09/10/2009 10:50
Dave Longstreth (de boca coberta) é o mentor do quartetoQual foi a última vez em que você ouviu um disco que soasse como uma viagem a um planeta inexplorado? Bitte orça provoca esse tipo raro de sensação. É uma jornada insólita. E capaz de sugerir cenários mais exóticos que os de um documentário sobre a vida selvagem. Os guias da expedição atendem por Dirty Projectors. Pra lá da estratosfera, a banda de Nova York finalmente desembarcou no paraíso do rock independente. Na lista dos 200 melhores discos da década organizada pelo site Pitchfork, o novo álbum deles (lançado há quatro meses) aparece em 56; lugar. Os passageiros de primeira viagem, no entanto, podem estranhar as paisagens: o som do sexteto, em constante e veloz mutação, provoca vertigem nos menos aventureiros. O mapa genético do grupo, a principal atração internacional do próximo Goiânia Noise (previsto para 23 a 28 de novembro), é tão complexo que desorienta: as canções de Bitte orca têm um quê de ritmos africanos, mas com guitarras que miram o art rock do Talking Heads (David Byrne, aliás, juntou-se a eles na coletânea Dark was the night). Os teclados soam como experiências de Brian Eno nos anos 1970. Atmosferas de sonho. Algumas músicas, no entanto, zeram o jogo e se despem feito folk (Two doves), ou caem na pista dance (Stillness is the move). Ou seja: quem tenta decifrar o Dirty Projectors cai numa enorme teia de referências musicais. Os próprios fãs não sabem muito bem o que esperar dos ídolos: o disco anterior, Rise above (2007), era uma releitura livre (e sombria) do álbum Damaged (1981), da punk Black Flag. Mais sensato seria tratá-los como uma cena borrada de um filme surrealista. Identificar a origem do transe não é tão complicado. Todas as invenções do Dirty Projectors levam a Dave Longstreth. Nesse filme de aventura, ele é o diretor. Um dos nomes mais cultuados da cena alternativa de Nova York, o vocalista e guitarrista da banda começou a abrir as asas em 2002, quando lançou o disco The graceful fallen mango. No ano seguinte, criou a alcunha Dirty Projectors para gravar The glad fact. O projeto do prodígio era criar o conceito e as canções dos álbuns e, só depois, chamar os amigos para colaborar. Não funcionou exatamente assim. Desde Rise above, a banda ganhou corpo, cresceu e apareceu. Era quarteto. Hoje tem seis integrantes. No início da década, Nova York era matriz da renovação do garage rock, lar do Strokes e do Yeah Yeah Yeahs. Hoje, a cidade é conhecida como laboratório de rock multicultural. Lá, há quem se aproprie de sons africanos (Vampire Weekend, TV on the Radio) e quem tente reinventar a psicodelia dos anos 1960 (Animal Collective, Grizzly Bear). O Dirty Projectors soa como a síntese dessas novas tendências: uma instalação de arte pop. ;Gosto do som das palavras, e não do sentido delas. Bitte orça (que, em alemão, significa algo como ;por favor, baleia orca;) é um disco sobre a fusão de diferentes cores;, disse Dave. Entendeu? Na prática, o novo álbum do Dirty Projectors representa aquele típico momento em que uma banda cultuada rompe o casulo e torna-se visível para um público mais amplo. Essa pegada acessível estava no projeto de Dave, fã de Motown e Fela Kuti. ;Eu queria criar músicas que soassem expressivas. Nem que, para isso, tivesse que usar um novo vocabulário;, explicou ao Pitchfork. E para quem não embarcou no conceito do disco (e taí uma palavra que Dave valoriza: conceito), melhor mesmo é encarar as canções sem tantas complicações. A voz lânguida do ídolo-esfinge é emocionante por si só. ;Uma das grandes vantagens da música é que você não precisa descrevê-la em palavras;, afirmou. E não é que o planeta do Dirty Projectors parece um pouco com o nosso? DIRTY PROJECTORS Conheça a banda nova-iorquina Dirty Projectors em www. myspace.com/dirtyprojectors. O grupo lançou este ano o álbum Bitte orca pela Domino Records. **** APAREÇA AQUI Envie o material da sua banda para o fuzzbox.df@ diariosassociados.com.br ou para o SIG Q. 2, N; 340, Brasília-DF, Cep 70610-901 (endereçado ao caderno Diversão & Arte ; Seção Garagem). Vale tudo: MySpace, Orkut, PureVolume, MP3, CD, LP, Facebook, Twitter, LastFm. Se gostou, ouça Quatro bandas que fazem de Nova York um lugar mais misterioso ; GRIZZLY BEAR - O quarteto do Brooklyn está entre as bandas mais elogiadas do ano. No currículo, o destaque são dois grandes álbuns (Yellow house e Veckatimest) que interpretam o rock psicodélico dos anos 1960 com olhar melancólico e precisão matemática. Ouça em www.myspace.com/grizzlybear. ; HIGH PLACES - O duo formado por Mary Pearson e Rob Barber é cria de uma cena alternativa com influências de música eletrônica, psicodelia e artes plásticas. Com ruídos do dia a dia e melodias minimalistas, eles inventam canções etéreas, mas nada efêmeras. Ouça em www.myspace.com/hellohighplaces. ; GANG GANG DANCE - Formado em 2004, o quinteto conquistou respeito de veteranos como Sonic Youth e Massive Attack. Tal como o Dirty Projectors, a sonoridade é indefinida, com portas abertas para sons estrangeiros e dance music. O álbum Saint Dymphna, de 2008, é o cartão de visitas. Ouça em www.myspace.com/ganggangdance. ; YEASAYER - O trio pratica psicodelia para iniciados. Nos shows, usam cenários multicoloridos e luminosos. No disco de estreia, All hour cymbals, de 2007, a viagem não aborrece. E não é tão impenetrável quanto parece. A canção Sunrise chegou a entrar na trilha da série de tevê Entourage. Ouça em www. myspace.com/yeasayer.

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