Diversão e Arte

Entrevista: "Sou atrevida", diz Elsa Soares

José Carlos Vieira, Severino Francisco
postado em 11/10/2009 14:04
Aos 72 anos, bem vividos, ela namora um rapaz de 27 anos. Diz que reserva uma hora todos os dias para namorar. "Sempre há um momento, no banheiro, atrás da porta, mas tem o momento (risos)". Não está nem aí com o que as pessoas falam. "Não tenho medo de nada. Só tenho medo de ter medo", diz, com a voz rouca e inconfundível, cheia de humor. Elza Soares, a cantora do milênio, segundo a BBC de Londres, conversou com o Correio e falou das coisas que pensa, dos encontros com Juscelino Kubitschek, com Louis Armstrong. Sobre Mané Garrincha, o definiu com apenas uma palavra: "Alegria". Preconceitos? Ela gosta de dizer que sempre os jogou no vaso e deu descarga. O ensaísta e compositor José Miguel Wisnik disse que você canta como se cada sílaba fosse um parto. Como você analisa essa declaração amorosa? Eu acho que comecei a tirar o parto muito cedo e eu sei o que é um parto: ao mesmo tempo dor e carinho. E quando canto, eu canto o amor. Diga duas coisas boas que marcaram sua vida... Dinheiro para matar a fome e filhos. Agora duas coisas ruins... Perder um filho e ter de sair do meu país. Como você conheceu Louis Armstrong no Chile em 1962? Foi na Copa do Mundo, eu fui madrinha da Seleção Brasileira e conheci Louis Armstrong. Quando o vi, eu achei que fosse o Monsueto. Pra mim, ele é a cara do Monsueto (o sambista é autor de clássicos como A fonte secou e Mora na filosofia). E me perguntei: o que o Monsueto está fazendo aqui, meu Deus do céu? (risos) Louis Armstrong era uma simpatia, usava muitos lenços de linho branco nas mãos, um sorriso lindo. Como você o encantou? Foi pela voz rouca. O que mais o assustou foi que eu fazia as minhas frases musicais roucas e em seguida voltava ao normal. Disse que nunca tinha visto aquilo. Armstrong pensava que eu falava rouco e cantava rouco igual a ele. Para ele, era impossível fazer aquela voz rouca e em seguida voltar falando ao normal. Isso o encantou. Eu senti ainda a ciumeira da cantora dele, da crooner que estava com a banda de Armstrong. Ela me olhava assim como quem dizia: lá vem mais uma para tomar o meu lugar (risos). A mulher ficava danada da vida. E teve essa possibilidade? Teve. Ele me chamou para ir com a banda para a Geórgia (EUA). E por que você não foi? Eu tinha meus filhos. Apesar de ser menina, com cara de criança, eu era uma mãe. Não podia sair do Brasil. Não sabia nada da vida, as coisas eram muito difíceis. E hoje entendo que a vida é a vida que se leva, que a gente tem de apanhar muito para crescer. Se soubesse naquele dia o que sei agora, como dizia Dolores Duran, eu iria. Defina Garrincha em uma palavra. Alegria. Jazz ou samba? Os dois. Amo os dois. Um, eu amo muito, porque nasci dentro dele. O outro, porque me fascina. Os dois são negros. Como anda a vida amorosa, com agenda tão cheia? Maravilhosa. Sempre tiro uma hora para ter prazer. Sempre há um momento, no banheiro, atrás da porta, mas tem o momento (risos). Deitada na mesa da sala, na mesa da cozinha%u2026 Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense

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