Diversão e Arte

Pianista brasiliense quer aprender as 211 músicas de Ernesto Nazareth para tocá-las pela cidade

Nahima Maciel
postado em 14/10/2009 11:02 / atualizado em 21/09/2020 14:33

Alexandre Dias é um rapaz inquieto. Estuda piano desde os 6 anos, fez graduação em biologia, emendou com o mestrado e agora, aos 25 anos, já está mergulhado no doutorado. Pesquisa o canto dos pássaros, mas é do compositor Ernesto Nazareth que gosta mesmo de falar. "Ele era meio genial, a obra dele me impactou muito", explica. Agora, é a vez de Dias impactar a obra de Nazareth. Compulsivo, ele passou os últimos 10 anos debruçado sobre partituras e gravações das músicas do compositor. A obsessão acabou conhecida no meio musical e, no início do ano, Dias recebeu um telefonema da cravista Rosana Lanzelotte e um convite. A musicista queria o pianista brasiliense no Projeto Nazareth. Escute a música Batuque, com Rosana Lanzelotte, Caito Marcondes e Luis Leite No fim de 2008, Alexandre Dias gravou um disco com obras de Ernesto Nazareth e disponibilizou para venda no site www.choromusic.com.brRosana sabia que Dias desenvolvia pesquisa minuciosa sobre as partituras do compositor e uma das propostas do projeto era disponibilizar tudo na internet. Com patrocínio de uma empresa de cosméticos e muita determinação, Dias reuniu 211 partituras, revisou uma por uma, de acordo com manuscritos originais disponíveis na Biblioteca Nacional e edições antigas, e padronizou o conjunto. Todas as partituras estão disponíveis no site www.ernestonazareth.com.br. A felicidade maior do pianista brasiliense está no fato de tornar acessível a obra de Nazareth e, principalmente, poder corrigir uma série de erros perpetrados em sucessivas edições ao longo dos últimos 130 anos. "Há várias categorias de erros, desde notas erradas até omissão de termos e indicações musicais. Alguns pianistas corrigiram. O problema é com os músicos estrangeiros. Querendo ser fiéis à partitura, gravaram os erros", conta Dias. "Por isso, para revisar utilizei edições do início do século, as primeiras, que são mais confiáveis. Fora isso, comparei com as 115 cópias dos manuscritos originais. Odeon, por exemplo, é tocada errada até pelos pianistas brasileiros." Padronização Outro detalhe que Dias comemora é a revelação de partituras inéditas. Das 211 compostas por Nazareth, 37 nunca haviam sido publicadas. "Agora, qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo pode tocar", garante. "Esse projeto vem suprir uma carência histórica. É a primeira vez que a obra de Ernesto Nazareth está disponível em um lugar somente, com uma edição revisada e padronizada. E de graça." Escute Encantador, com Rosana Lanzelotte, Caito Marcondes e Luis Leite . A parceria com Rosana Lanzelotte se encerra no site, mas a pesquisa de Dias é infinita. Enquanto trabalha no doutorado em biologia, ele também coleciona gravações raras das composições de Nazareth. Já catalogou 2.100 gravações, das quais reuniu 1.900. O garimpo conta com a internet e com amigos que adotaram a causa. Dias já conseguiu, inclusive, gravações do próprio compositor. "Hoje, comercialmente, só metade da obra dele está disponível", lamenta. O sonho não acaba na pesquisa. A divulgação é uma das partes mais importantes. É para tal que o pianista estuda incansavelmente as partituras. Quer aprender todas as 211 músicas de cor e realizar, em Brasília, um ciclo de recitais dedicados à obra completa de Ernesto Nazareth. "Pianistas tocam a obra integral de (Fréderic) Chopin. Se Chopin merece, por que Nazareth não? Ele é do mesmo nível. Os tangos brasileiros do Nazareth são como as Mazurkas de Chopin. São peças urbanas com leitura pianística rebuscadas. E tenho a intenção de gravar tudo também"

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