Diversão e Arte

Revivendo Leon Barg

postado em 15/10/2009 07:00

Clodo Ferreira
Especial para o Correio



Lamentamos quando alguém se vai. Assim, devemos ficar tristes pela ausência de Leon Barg. Acredito que pouca gente saiba exatamente de quem se trata. Também de pouco adianta dizer a origem nordestina desse pernambucano de 79 anos. O passado foi matéria-prima de sua obra. Na forte música brasileira registrada em discos ele descobriu uma mania que virou a marca de sua passagem. Quando vivia em Curitiba nos anos de 1970, acumulava um acervo de aproximadamente 20 mil títulos, principalmente dos antigos discos de 78 rotações com vozes de um tempo glorioso. Daí em diante adquiriu mais e mais, até chegar aos atuais 120 mil títulos.


O que você faria com esse patrimônio cultural? Aqui reside o mérito maior: ele reeditou o acervo em CDs, criando a gravadora Revivendo. A empresa, uma tradição de dimensões nacionais, enviou um e-mail singelo no Dia das Crianças, dizendo: "A todos os clientes, amigos e apreciadores da música popular brasileira, comunicamos com grande pesar o falecimento do Sr. Leon Barg".


Uma notícia comum, se não se referisse ao propositor de uma ideia vencedora. Com sua aventura na produção fonográfica, quase tudo de importante dos primórdios musicais chegou ao mercado. Além dos títulos originais, a gravadora organizou, catalogou e editou CDs profissionalmente elaborados, como a coleção com três volumes da obra do carioca Sinhô, interpretada por cantoras e cantores das décadas de 1920 e 1930 do século 20. Também reuniu músicas de outros carnavais em coletâneas coerentemente produzidas, além de dar acesso a raridades de Tom Jobim e outros grandes.


Qual o sentido de uma gravadora que reedita? Em primeiro lugar, há a contribuição do colecionador cuidadoso que manteve exemplares relevantes. Em segundo lugar, as gravações originais eram feitas em tecnologias que o tempo aposentou. Podemos aí considerar os discos de cera, os tradicionais bolachões de vinil e outros formatos superados. Todo seu acervo foi digitalizado e filtrado por um processo recuperação e restauração sonora.


Além disso, cada edição da Revivendo vem acompanhada de textos que orientam o ouvinte sobre autores, datas, intérpretes, detalhes históricos, e ; sempre que possível ; ilustrados com fotografias de época. Tudo isso transforma cada disco numa fonte de pesquisa ou num excelente objeto para apreciação. É uma discoteca especial que disponibiliza centenas de CDs, inclusive ; e principalmente ; pelo site na internet (www.revivendomusicas.com.br/).


Leon Barg preservou a memória e revitalizou talentos. Nada se perde. Seu exemplo, uma iniciativa simples, deve servir de inspiração para todos que pensamos a cultura como um patrimônio inestimável.
Clodo Ferreira é compositor, doutor em História Cultural e professor da Faculdade de Comunicação da UnB.

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