postado em 16/10/2009 10:05
O som da banda brasiliense Enema Noise vai além das influências musicais que fazem a cabeça de seus integrantes. Segundo Rafael Lamim, idealizador do projeto, compositor, vocalista e eventualmente guitarrista do quarteto, outras questões conceituais foram cruciais para a concepção do grupo. ;A proposta sempre foi a violência. O que não quer dizer tocar hardcore ou colocar pedal duplo na bateria. Eu queria fazer uma banda para tratar do incômodo, para causar algum tipo de sensação em quem ouve. As bandas hoje em dia estão muito comportadas, muito controladas no palco. Se perdeu aquela coisa do choque. Acho que todo mundo tenta agradar o público. Por que não falar de pornografia, de violência psicológica, de questões parafílicas? Até que ponto o ser humano pode ir para sentir prazer?;, questiona.
Na hora de citar suas influências, o vocalista para e reflete. ;Alguma coisa de shoegazing, de eletrônica e industrial. Nine Inch Nails e Depeche Mode, certamente; Também o Godflesh. Agora, uma banda fundamental pra mim foi a brasiliense Cadabra. Eles falavam de coisas sombrias, vícios, tudo de uma maneira bem urbana.; O fotógrafo Andres Cerreno, o artista plástico Francis Bacon e o cineasta David Cronenberg, todos especialistas em gerar incômodo com suas produções, também entram na lista das referências.
Para Lamim, achar os companheiros de rock não foi tarefa das mais simples. O Enema Noise começou há cinco anos, quando ele tinha 16. Depois de um breve período embrionário, como uma dupla, o vocalista logo partiu para a empreitada solo. ;Foi bom porque desenvolvi esse lado mais puxado para a eletrônica, gravando algumas coisas em casa;, conta. Em Dangerous desire e Out of control, as únicas músicas disponíveis no perfil da banda no MySpace, Lamim gravou todos os instrumentos.
A formação da banda como quarteto ; com o vocalista, Murilo Barros na guitarra, Marcelo Melo na bateria e Francisco Raupp no baixo e nos teclados ; só surgiu este ano. Os primeiros shows foram realizados este mês: duas apresentações no Landscape Pub e outra no bar Metrópolis, em Goiânia (onde eles tocarão mais uma vez, no dia 30). ;A experiência de tocar ao vivo; não dá pra explicar o que se sente. Você está numa pilha que não acredita que tem. Causar impacto foi o mais importante e acho que conseguimos isso, ficamos satisfeitos. Algumas pessoas gostaram, outras não. Mas se todos tivessem gostado, aí sim teríamos nos incomodado;, comenta sobre o show de estreia, que terminou com a guitarra de Lamim sendo quebrada.
Se o Enema Noise ainda se sente meio peixe fora d;água no circuito roqueiro de Brasília, Rafael e Francisco já estão trabalhando para conseguir espaço para eles e para bandas igualmente deslocadas. ;Criamos um selo, o Concreto. Queremos catalogar essas bandas. Não tem outro caminho a não ser nos organizar.; A primeira missão do Concreto será em Anápolis. ;Este fim de semana estarei lá para gravar uma banda meio Nirvana, meio Melvins, chamada Evening.;
Para os próximos meses, o quarteto brasiliense planeja lançar (na internet, claro) dois EPs e, no começo de 2010, um disco cheio, batizado de Moonshiner. A banda também participou do tributo à banda gaúcha Defalla (sem previsão de lançamento) com a música Obsessão. Se haverá luz no fim do túnel do sombrio mundo do Enema Noise só o futuro dirá. Lamim é otimista: ;Acho que, com o tempo, conseguiremos um público para o nosso som;.
ENEMA NOISE
Conheça a banda brasiliense Enema Noise em: www.myspace.com/enemanoise
Bla!
Qual o segredo da longevidade do programa de rádio Cult 22?
;Acredito que é uma união de fatores. Primeiro, a persistência da equipe do programa em fazer o Cult 22 por amor à causa, ou seja, ao rock. Uma turma de abnegados que faz aquilo porque gosta, sem receber qualquer remuneração. A Cultura FM, apesar das mudanças de direção e conteúdo de programação ao longo de sua existência, sempre nos deu carta branca para ocuparmos o horário da forma que achamos melhor. Contribui para isso também o fato de ser uma emissora pública, sem fins comerciais, sem pressão por índices de audiência e que dá liberdade pra fazermos o programa ao vivo, com entrevistas, promoções etc. Talvez o fato de não ser segmentado em apenas um estilo do rock tenha ajudado a promover uma multiplicidade de ouvintes, mesmo em tempos de downloads e acesso mais fácil à música. Além disso, temos tentado nos adaptar às novas tecnologias, com a criação de blog e twitter do programa, promoção de festas e uma constante interatividade com o público. Enquanto nos deixarem e tivermos gás, o Cult 22 vai continuar.;
Marcos Pinheiro, jornalista, produtor e apresentador do Cult 22 desde 1991