Diversão e Arte

Ricamente ilustrado, livro analisa a produção de mais de quatro décadas de Ziraldo como cartazista

postado em 20/10/2009 08:25

O designer carioca Ricardo Leite, 52 anos, ainda era criança quando viu pela primeira vez o trabalho de Ziraldo na revista em quadrinhos Pererê. ;Era uma maneira de conhecer o Brasil, pois naquela época, a maioria dos gibis era de origem estrangeira;, lembra. A admiração pelo trabalho do desenhista mineiro o acompanhou pelas décadas seguintes ; e quem, ao longo dos últimos 40 anos, não se viu admirando alguma coisa criada pelo pai do Menino Maluquinho? Aos 13 anos, Ricardo pediu ao pai para ir até a redação do Pasquim a fim de conhecer o ídolo. ;Levei meus desenhos pra ele ver e fui superbem tratado;, conta. Anos depois, os caminhos de ambos se cruzariam diversas vezes (Ricardo trabalhou com o designer na revista Bundas) e Ziraldo passou a também admirar o trabalho de Ricardo, tanto que pediu para ele ser o responsável pelo livro Ziraldo em cartaz.

O projeto surgiu em 2002 de um encontro da agente literária Ana Maria Santeiro com o artista. Em seu estúdio, Ziraldo mostrou a ela um painel com 42 cartazes feitos para a Feira da Providência (evento filantrópico anual, organizado pelo bispado católico do Rio de Janeiro). Conversa vai, conversa vem, imaginaram um livro reunindo todos esses cartazes. A partir daí, a ideia passou a ser um livro com mais cartazes, incluindo toda a trajetória de Ziraldo nesta mídia. É nesse momento que Ricardo Leite entra na história. ;Ele queria uma análise da sua produção. Fui mapeando tudo desde o começo da carreira dele;, conta o organizador.

A pesquisa, Ricardo explica, não foi tão trabalhosa, pois Ziraldo guarda boa parte de sua produção. ;Cerca de 80% do cartazes que estão no livro ele tinha guardados no estúdio;, diz. Outros foram encontrados com amigos e contatos. ;Teve um cartaz, de uma peça do Jô Soares, que eu encontrei na reinauguração de um teatro no Rio. Eles estava lá, exposto. Voltei ao local depois pra fazer uma foto;, continua.

O livro não contempla todos os cartazes já produzidos por Ziraldo. ;Ele deve ter feito uns 600 e apenas 300 estão no livro. É claro, tivemos que fazer uma seleção dos mais representativos.; A publicação é dividida em oito capítulos, nos quais são abordados temas como a busca de Ziraldo por uma identidade visual própria, seu trabalho como criador de letras, suas ilustrações e a produção de cartazes para causas engajadas (como o combate às drogas, ao tabagismo e ao tráfico de animais). Cada capítulo é acompanhado de textos de Ricardo e reproduções de falas de um longo diálogo entre o designer e Ziraldo. ;Eu levei uma boneca do livro para que ele comentasse os cartazes, daí fui anotando as coisas mais interessantes da conversa.;

Folhear as páginas de Ziraldo em cartaz é embarcar numa viagem pela cultura nacional das últimas quatro décadas. Estão lá cartazes de filmes dos anos 1960 e 1970, da primeira edição do Festival Internacional da Canção, imagens que marcaram a história do Pasquim (como a do Super-Homem sentado num vaso sanitário ou a de uma Jane dependurada no membro de um Tarzan a gritar) e tantas outras. O acabamento impecável, os textos informativos e, claro, as incontáveis ilustrações tornam o livro indispensável para qualquer um interessado na obra de Ziraldo, nas artes gráficas feitas no Brasil ou, simplesmente, para quem procura um incomparável deleite visual.

Zeróis, cartaz de Ziraldo, faz parte do livro

Ziraldo em cartaz

Textos de Ricardo Leite. 292 páginas. Editora Senac Rio. R$ 120.

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